Publicado em 28/12/11 às 23:43 Atualizado em 28/12/11 às 23:44
Clarissa Monteagudo (Rio)
“Grande heroína da minha infância, vá com Deus. Encantava as crianças com as suas macaquices muito mais que o Tarzan”. “Adeus, Chita! Descanse em paz, velha guerreira!” Uma onda de nostalgia tomou conta ontem das redes sociais após o anúncio oficial da morte do chimpanzé mais famoso do cinema.
Companheira de Tarzan em pelo menos 12 filmes na década de 30, Chita era, na verdade, macho. Batizado originalmente como Jiggs, ele depois ganhou o nome da amiga fiel do Rei das Selvas: Cheetah, na grafia em inglês. O animal morreu aos 80 anos após viver as excentricidades de um astro de cinema. Bebia cerveja Budweiser, fumava charutos e, quando contrariado, jogava excrementos em seu desafeto. Sem dar galho, afinal de contas, era macaco velho — e célebre. Tão famoso que inspirou uma biografia fictícia publicada em 2008. O autor inglês James Lever usou a personagem no livro “Eu Chita” (“Me Cheeta”) para contar sobre a era de ouro de Hollywood. A obra foi indicada para prêmios literários. Os hobbies do chimpanzé eram a pintura — fazia arte com os dedos — e assistir a jogos de futebol na TV.
Ontem, o site do santuário na Flórida onde Chita viveu por mais de 50 anos anunciou a morte de seu mais célebre hóspede. O macaco morreu de complicações renais, na véspera de Natal.
— Chita sabia quando eu tinha um dia bom ou ruim. Sempre tentava fazer com que eu sorrisse se estivesse em um dia ruim. Era muito sensível aos sentimentos humanos — comentou Debbie Cobb, diretor do santuário onde o macaco vivia.
Na página do Suncoast Primate Sanctuary na internet, fãs de vários países do mundo deixaram, durante todo o dia, mensagens emocionadas para Chita.
“Minha querida Chita, que seu descanso ao lado dos seus amigos seja igual aos seriados que preencheram minhas tardes de alegrias”, assinou a carioca Elmira Couto, junto a muitos outros fãs brasileiros, que relembravam cenas de filmes do casal 20 das selvas: Tarzan, interpretado por Johnny Weissmuller, que morreu em 1984, e Jane, Maureen O’Sullivan, morta em 1998. O chimpanzé sobreviveu, e muito, aos dois.
Apesar de ter colecionado fãs, Chita foi desdenhada pela Calçada da Fama de Hollywood. Por três vezes foi pedida a inclusão na galeria, mas nunca houve convite. Uma injustiça animal.
Chimpanzés vivem tanto quanto humanos
“Se forem bem tratados, os chimpanzés podem atingir uma idade igual à dos humanos”, explica Pedro Ynterian, fundador do santuário do GAP de Sorocaba, onde estão 53 chimpanzés, entre eles, Jimmy, ex-atração do zoológico de Niterói. Ele conta que o macaco já ganhou até uma companheira, Samantha.
Jimmy sofreu bullying dos outros chimpanzés porque tinha hábitos estranhos, herdados dos tempos em que convivia com humanos. Era obcecado por mulheres com botas de borracha, usadas pelas tratadoras. Algumas vezes, se masturbava quando as via. “Cheguei a proibir mulheres de chegar perto dele quando ele começou a conhecer a Samantha. Ele perdia interesse na chimpanzé”, conta Pedro, que não estranha o fato de Chita fumar e beber. “Eles gostam muito de cerveja, licor e pinga. Tenho um, o Lilico, que quando vivia no Zoo de Bauru, fugiu. Receberam uma ligação de que tinha um homem estranho no boteco. Chegando lá, Lilico estava sentado com um bêbado tomando pinga. Tiveram que embebedá-lo para tirá-lo de lá. Outra vez, um pedreiro deixou um maço com isqueiro. Um dos chimpanzés pegou, acendeu e fumou todos os cigarros”, lembra Pedro.
Outros animais que entraram para a história
Chita entra para a galeria de animais inesquecíveis, como Flipper, vivido pela fêmea Mitzi, que morreu de ataque cardíaco em 1967, Lassie, na verdade o colie Pal, que morreu em 1958 — todos os outros filmes foram estrelados por descendentes dele — e Babe, interpretado por nada menos do que 48 porquinhos, já que durante as filmagens eles cresciam. A baleia Free Willy, chamada Keiko, foi tirada do cativeiro após uma campanha dos fãs e morreu na Noruega, de pneumonia, aos 27 anos, em 2003.