Massacre de chimpanzés: os últimos refúgios invadidos na África
postado em 15 set 2010

O norte da República Democrática do Congo (RDC) possui a metade dos chimpanzés da África em vida livre. Porém, isso pode mudar dramaticamente em poucos anos mais, já que a região está sendo invadida por milhares de mineradores de ouro e diamantes, que também são caçadores e exterminam populações adultas. Eles ficam com os bebês chimpanzés, que quando não morrem por inanição ou doenças são vendidos por poucos dólares como “pets”.

Um trabalho de mais de 18 meses, elaborado por um grupo de cientistas da Universidade de Amsterdã, Universidade de Columbia, Aliança de Primatas do Canadá e o Projeto TL2, que percorreu milhares de quilômetros nas florestas ao norte e sul do Rio Uele, confirmou o massacre realizado nos últimos meses com a população livre de chimpanzés, especialmente na área ao sul deste rio, onde milhares de mineradores têm se estabelecido.

Num trabalho pormenorizado e registrado entre setembro de 2007 e março de 2009, os pesquisadores contabilizaram 42 bebês chimpanzés órfãos e 36 ossadas de adultos, mortos por caçadores que vendem a carne para consumo. A caça é realizada com armas de fogo, ou mais eficientemente com flecha envenenada, que abatem grupos inteiros de chimpanzés sem chamar a atenção uns dos outros. Os bebês,com pouca carne, são levados para cidades e vendidos como “pets”.

Esta mesma equipe de cientistas, liderada por Thurston C. Hicks, da Universidade de Amsterdã, começou a trabalhar nesta área desde 2004 e conseguiu ver a diferença. A região ao norte do Rio Uele, com mistura de florestas e savanas, todavia fica protegida, já que os mineradores não chegaram lá; a zona sul, quase toda de floresta, foi invadida por mais de 3.000 mineradores individuais, que vêm de outras regiões, não têm restrições para matar e alimentar-se ou comercializar animais selvagens.

A população local até agora respeitou os chimpanzés, visto que considera que é “do mal” matá-los e mais ainda “comê-los”, e também foram informados da lei congolesa que proíbe a matança e comércio de carne de grandes primatas.

No extenso trabalho do grupo de pesquisadores publicado em African Primates dias atrás, são feitas recomendações urgentes do que deve ser feito para acabar com o massacre de grandes primatas ao norte do Congo. Eles recomendam:

1)Acabar com a matança de grandes primatas;
2)Estabelecer um programa formal de proteção a todas as populações identificadas de chimpanzés nas florestas;
3)Iniciar uma campanha educacional através de filmes e rádio;
4)Resgatar os bebês chimpanzés que ficaram em mãos da população e de comerciantes nesta área do Congo.

Dos 42 bebês chimpanzés órfãos identificados, cinco deles foram resgatados pela equipe de cientistas, conseguindo sua doação voluntária daqueles que os possuíam, e foram encaminhados ao Centro de Reabilitação de Primatas de Lwiro, com a ajuda de várias outras organizações que financiaram a operação; 37 ainda estão em mãos de pessoas que os oferecem para venda e os mantém – muitos deles – acorrentados e sem alimentação. É NECESSÁRIA UMA AÇÃO EMERGENCIAL PARA RESGATÁ-LOS E ENVIÁ-LOS A ALGUM SANTUÁRIO, ou não resistirão…

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional