Ligadas pelos pés e pela insensibilidade
postado em 24 jan 2012

Todo dia lemos notícias sobre assuntos fúteis e secundários, e a matéria abaixo é apenas um exemplo disso. A indústria da moda hoje já está desenvolvida o suficiente para usar materiais sintéticos de forma mais inteligente, mas ainda tem gente que insiste em usar peles de animais para saciar seu desejo de "estar na moda". Lamentável.

Ligadas pelos pés

Postado por: Rodrigo Uchoa Seção: consumo, Estilo de vida

Foto: Rafaela Magarinos e Rafaela Stall, da Lliée: advogadas de Curitiba lançam marca de luxo de bolsas e sapatos feitos com peles de animais exóticos

Era o primeiro dia de aula do curso preparatório para concursos em Curitiba. Entre alunos vivendo de estudar em busca de um cargo público, estavam dois peixes fora d’água. Ou melhor, duas "Rafaelas".
De um lado, os competitivos colegas de classe enfiados nos livros, nas aulas e fora delas, aos finais de semana, em busca do emprego de suas vidas. De outro, Rafaela Magarinos e Rafaela Stall, advogadas recém-solteiras, estafadas com suas profissões e começando uma vida nova de viagens e restaurantes.
A vida em comum – e certa falta de interesse pelo curso que frequentavam, elas confessam – aproximou as xarás, que entre um passeio e outro descobriram o gosto comum pela moda. As conversas sobre sapatos e bolsas evoluíram e as amigas deixaram o curso para empreender.
Stall – elas mesmas se chamam por sobrenomes – fez um curso no Sebrae para montar o plano de negócio da futura grife. Estava decidido que entrariam no mercado de luxo de moda, já conhecido e consumido por elas em Curitiba e em suas viagens pelo exterior.
"Pesquisamos muito e percebemos espaço no mercado de acessórios para uma marca com padrões de qualidade internacionais, mas produção brasileira", conta Magarinos. Assim nasceu a Lliée, que mostra hoje sua primeira coleção, de inverno 2012, no showroom Galeria, em São Paulo.
A marca chega com sete bolsas – a maior parte clutches – e 16 sapatos, de sapatilhas a botas. Foram dois anos projetando a Lliée minuciosamente até chegar ao mercado.
As "Rafaelas" levaram o plano de negócio à MCF, buscando a chancela da consultoria de luxo para suas ideias. Foi lá que elas descobriram que o Nordeste é um grande consumidor de acessórios chiques e, desde já, estão de olho em capitais como Fortaleza e Recife.
"Por enquanto não teremos loja. Antes vamos procurar boas multimarcas de roupas e acessórios de classe A para consolidar a marca", diz Stall. Outra preocupação foi com a apresentação das peças. As caixas dos sapatos têm uma face de acetato, para que o conteúdo seja visto de fora. Na embalagem, o cheiro não é do couro, matéria-prima de todas as peças. A Lliée encomendou um perfume personalizado para ser a "imagem olfativa" da marca que, enquanto não tem loja, leva o cheiro em sachês dentro das caixas.
Entre um sorriso e outro, as animadas e tranquilas "Rafaelas" contam que não se preocupam com as futuras polêmicas que o nome da marca e o uso de peles de animais exóticos possam gerar. A principal matéria-prima da primeira coleção da Lliée é o couro de cobra píton, que aparece em várias cores, como verde, azul, marrom, dourado e bordô. A intenção das sócias é, em futuras coleções, ter outras peles igualmente exóticas.
"Toda matéria-prima é certificada pelo Ibama e vem de países em que o couro é descartado quando os animais são abatidos para alimentação. Nosso público estará ciente disso, não é uma preocupação", diz Magarinos, ao ser questionada sobre os recentes problemas enfrentados pela Arezzo, quando teve de tirar de circulação sua coleção de peles exóticas após protestos na internet.
Com design apurado, preços de R$ 600 (uma sapatilha) a R$ 1,6 mil (um sapato todo de píton) e nome francês ("lié" significa ligado), fica fácil o cliente achar que está diante de uma marca estrangeira. "Se acontecer, não passará de uma primeira impressão. Depois, fica claro que a marca é brasileira. E é uma percepção boa essa de que apresentamos o Brasil como um país que faz algo tão incrível quanto as marcas de fora", diz Magarinos.
As peças são produzidas no Rio Grande do Sul, mas criadas por uma designer gaúcha a partir de ideias das "Rafaelas" – que resistiram à tentação de não dar este nome à grife por acreditarem que seria "muito óbvio". As moças não revelam o investimento feito da marca, que saiu todo do bolso delas, mas dizem que esperam ter retorno disso em um ano, quando a marca estiver posicionada nas principais capitais do país e também no e-commerce próprio, que entra no ar entre março e abril.

http://www.valor.com.br/cultura/blue-chip/1200816/ligadas-pelos-pes

17/01/2012

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