Existem pessoas que marcaram sua presença pela obstinação ante um ideal. A Dra. Carole Noon, primatóloga e fundadora do maior Santuário de Chimpanzés do mundo, Save the Chimps, em Fort Pierce, Flórida, é uma dessas pessoas.
A conhecemos em 2002, quando começávamos o nosso Santuário no Brasil e ela iniciava o dela nos Estados Unidos. O primeiro grupo de chimpanzés, procedente dos laboratórios de experiências da Força Aérea Norte-Americana tinha acabado de chegar e habitava sua primeira ilha, naquele terreno afastado de tudo, na costa oriental da Flórida.
Enfrentar a Força Aérea e conseguir que entregasse aquele grupo de chimpanzés, que tinha sido torturado em experiências absurdas, era uma conquista que ninguém considerou na época que ela conseguiria realizar.
Aquela atitude obstinada dela se estendeu rapidamente a outros segmentos da tortura contra grandes primatas que era praticado naquele país. Os laboratórios de experiências biomédicas se converteram no seu objetivo. Um conluio entre o NIH (National Institute of Health) e diversos centros de tortura médica, mantinham centenas de chimpanzés enjaulados e submetidos aos mais dramáticos sofrimentos, com a justificativa de lutar pela saúde humana.
Sua obstinação teve frutos quando um laboratório de experiência do Novo México, acuado por denúncias de abusos e torturas a mais de duas centenas de chimpanzés, terminou falindo. A Fundação Arcus em apoio ao apelo de Carole Noon providenciou os fundos para comprar as instalações e todos os seus hóspedes, que foram libertados da insânia que era praticada por pseudocientistas contra eles.
Quando Carole Noon entrou pela porta do centro de torturas do Novo México e viu o quadro dantesco de seres mutilados física e mentalmente, a emoção a embargou e só conseguiu chorar copiosamente, até expulsar de sua mente a raiva contida em tantos anos de luta sem sucesso para salvar a vida daqueles infelizes.
A tarefa herculana de levar todos aqueles seres para Flórida foi seu outro grande desafio. Demorou vários anos, porém praticamente antes de ser fulminada por um câncer pancreático, ainda jovem e cheia de energia, deixou o plano estabelecido, que mais tarde foi cumprido, de relocalizar todos aqueles primatas num ambiente de decência, respeito e amor, que nunca tinham conhecido em suas vidas.
Após quatro anos de sua morte, neste mês de maio, todos que lutam pelos mesmos ideais que ela lutou, rendem essa homenagem a esta grande mulher que deu um exemplo de vida para a humanidade.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
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