SANTUARIO SAVE THE CHIMPS
Se algo de triste existe na vida é ver como seres sofridos, torturados e abusados pela sociedade humana, quando conseguem um pouco de paz e descanso, seus corpos debilitados não duram muito para desfrutar da nova vida que o resgate lhes brinda.
Katherine nasceu no dia 05 de junho de 1984 no centro de tortura LEMSIP, no Estado de Nova Iorque, que terminou quebrando na década de 90. Não existem informações das experiências que fizeram com ela, porém, todos os chimpanzés lá moravam em gaiolas suspendidas no ar, como jaulas de pássaros e eram anestesiados freqüentemente.
Quando LEMSIP fechou, ela foi relocalizada para outro centro chamado WAO, em San Antonio, no Texas. Como seu local não estava pronto, ela foi enviada a outro centro tenebroso de torturas médicas, o Centro de Pesquisas de Nova Ibéria, em 16 de maio de 1996. Também não existem informes dos quatro anos que lá passou e as experiências a que foi submetida. Em 19 de outubro de 2000, conseguiu ir para WAO, onde morou, com um grupo de chimpanzés do fechado LEMSIP, durante 10 anos.
Porém, WAO também quebrou e o Santuário Save the Chimps, conseguiu resgatá-la, antes que fosse a outro centro de torturas médicas, e junto com 11 chimpanzés, os enviou para seu centro provisório em Alamogordo, Estado do Novo México, onde um grupo maior estava sendo formado para seguir para Flórida. No dia 25 de agosto de 2011, Katherine e seu grupo chegaram ao Santuário da Flórida e ela começou a viver realmente, após mais de 25 anos perdidos. Katherine viveu intensamente os meses no Santuário, passando a maior parte no exterior, entre a grama e as plataformas, desfrutando do sol e do céu azul, que nunca tinha usufruído. Seu coração debilitado não resistiu tanta felicidade e morreu inesperadamente no dia 18 de janeiro passado.
Gogi não demorou muito a acompanhá-la, uma semana depois, aquela chimpanzé que enfrentou todo tipo de desafio, na Base Aérea de Holloman, nos preparativos para as viagens espaciais, seu coração também não lhe permitiu continuar vivendo com seus amigos e sua filha Jude que nasceu, inesperadamente em 2003.
Gogi foi capturada em Serra Leoa na década de 60, seus pais foram abatidos e ela enviada, junto com outros bebês, para a Força Aérea Norte-americana, que a colocou no projeto das viagens espaciais. Ela foi treinada para dirigir naves espaciais, viver em ambiente sem gravidade, assim como em ambientes enrarecidos de CO2.
Quando o projeto acabou, entre 1970 e 1974, ela foi enviada a um centro de torturas médicas em Phoenix. Em sua volta, foi colocada num programa de reprodução para gerar bebês. Ela teve vários filhos, dois deles depois foram resgatados e estão no Santuário, de nome Nigida e Alora. Em 2001, foi resgatada da Força Aérea, pela ação corajosa da Dra. Carole Noon e foi parte do grupo inicial que criou o Santuário de Fort Pierce e nessa época, nós o visitamos pela primeira vez. Nem imaginávamos que aquela ilha inicial se multiplicaria por 12 e 300 chimpanzés lá morariam. Gogi, como fundadora do Santuário e por sua personalidade delicada e amorosa, ganhou o respeito de todos e de seu grupo de amigos que moravam com ela. Jude, sua filha, está desolada. Ela talvez não entenda o por quê da partida de sua mãe, com 46 anos, quando se tivesse tido uma vida normal e cuidada, estaria na metade dela.
O Santuário sofreu com notícias ruins no início deste ano: a morte de duas chimpanzés carismáticas e importantes, mas o exemplo de sua vida e de sua resistência ante as crueldades que sofreram, serão sempre um incentivo, para que a luta continue.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
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