Juan: Uma vida roubada
postado em 28 jul 2010

UM MÁRTIR A MAIS DESTA LUTA

Juan tinha 34 anos e seu corpo mutilado aparentava mais idade. Os humanos o destruíram por dentro e por fora, alegando razões científicas. Um mártir a mais como tantos outros que sucumbiram ante a agressão aos seus corpos. Juan nasceu no dia 13 de agosto de 1975 em um centro de reprodução de primatas na localidade de Laveen, em Arizona. Ele viveu os primeiros anos de sua vida com seu pai Chuck e sua mãe Happy e teve pouco contato com humanos.

Um dia foi arrancado de sua família e levado para o centro de tortura médica chamado LEMSIP (Laboratório para Medicina e Cirurgia Experimental em Primatas). Foi colocado em uma gaiola de aço, solitário, foi anestesiado e seu fígado biopsiado com freqüência para monitorar as drogas que lhe injetavam, a fim de ver os resultados.

Após dois anos deste sofrimento, foi transferido para outro centro de tortura ainda pior: a Fundação Coulston, no Novo México. Na viagem de caminhão de Nova York ao Novo México, quebrou a jaula e pela primeira vez desfrutou de um espaço maior que dois metros cúbicos, na caçamba do transporte fechado. Na Fundação Coulston, ele foi usado como macho reprodutor, mas sem êxito. Nos 15 anos seguintes, Juan foi usado em cinco diferentes projetos de pesquisas (torturas) médicas. Em seu desespero, se mutilava, arrancava todos os pelos e pedaços de sua pele.

Em 16 de setembro de 2002, a Dra. Carole Noon entrou pela porta da Fundação Coulston, que tinha falido e sua organização a comprou com todos os primatas dentro (mais de 200). Ela não conseguiu conter-se quando viu Juan em uma sela imunda, todo detonado, com parte de suas coxas em carne viva devido a cirurgias realizadas e explodiu em lágrimas. Rapidamente o tirou do chamado calabouço, onde ele ficava, lhe deu cobertores, brinquedos e comida decente. Apesar da mudança, Juan estava desconfiado dos humanos que tanto o tinham torturado. Demoraria para se esquecer e diferenciar os seus atuais tratadores, daqueles do passado.

No dia 30 de junho de 2008, Juan foi transferido para o seu último lar, este definitivo, no Santuário Save the Chimps, em Fort Pierce, Flórida. Ele amou aquele lugar. A ilha onde morava com seu grupo e o sol floridano o fizeram esquecer dos anos tenebrosos e malditos que passou. Em seu grupo, suas amigas mais íntimas eram Jaybee e Lupe, com as quais ficava uma boa parte do tempo ao ar livre.

No fim de junho, a parte inferior do seu corpo ficou paralisada. Foi removido para uma gaiola para poder ser acompanhado de perto. Foi feita uma ressonância magnética e detectou-se um câncer em sua espinha dorsal. A doença no seu caso era incurável. No dia 02 de julho foi trazido de volta para sua ilha para uma última visita aos seus companheiros. A eutanásia era a única saída para evitar maior sofrimento. Ele saiu da sua amada ilha, o sol o banhou de novo e devagar ele entregou o seu espírito ao Criador.

Juan é um mártir a mais nesta luta cruenta e sem fim contra o abandono e incompreensão humana de seres extraordinários que deveriam merecer melhor sorte nesse mundo, que é chamado “humano”.

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional