Jimmy ganha uma família
postado em 28 mar 2012

SANTUÁRIO DE SOROCABA

Durante mais de seis meses temos trabalhado todos os dias disponíveis no Santuário para aproximar Jimmy primeiramente com Samantha e depois com suas duas filhas: Sofia de quase 3 anos e Sara, de quase 2.

Antes de tudo, devíamos conhecer a índole de Jimmy, suas perturbações psíquicas e antecipar suas reações. Enfim, estávamos trabalhando com alguém profundamente perturbado, pela vida que levou durante mais de 10 anos num recinto minúsculo em um zoológico super lotado de animais e de gente.

Samantha e suas filhas são primatas normais, que praticamente nunca sofreram em mãos humanas e foram criadas por nós integralmente. Semanas atrás, Samantha se aproximou de Jimmy e ambos conviveram vários dias do mês juntos; nos outros dias ela deveria se dedicar ao seu grupo, o de Guga, e às suas filhas.

Na etapa seguinte – a mais delicada – deveríamos aproximar as bebês dele, pois ele demonstrou repetidamente que gostava delas. Primeiro abrimos a janela que dividia os recintos, para que pudessem interagir com as mãos. Mais tarde, quando essa etapa foi superada sem nenhuma agressão, e Samantha não demonstrava temor do contato de suas filhas com ele, passamos a tentar a aproximação física. Primeiro de Sofia com Jimmy, com a presença da mãe. Sofia é muito atrevida, bate e morde Jimmy, e ele não reage. Ao contrário, acompanha a brincadeira. No primeiro dia foi fantástica a integração de ambos.

Sara ficava observando do corredor, mas tínhamos medo de colocá-la, que Jimmy a procurasse e que Sofia o atacasse por medo dele fazer algo contra ela. Porém, no domingo passado (25 de março), decidimos juntá-los. Samantha não reagiu quando abrimos a porta e deixamos as duas entrar no recinto de Jimmy. Sofia que se faz de “mãe” de Sara em muitas oportunidades, desviava a atenção de Jimmy para ela, a fim de proteger a irmã. Aos poucos minutos, Sara foi para cima de Jimmy e bateu nele levemente. Jimmy não se importou, ai Sofia ganhou confiança de que nada de mal poderia acontecer e começou a brincar com Jimmy, incorporando Sara na brincadeira. Samantha observava de perto a interação sem demonstrar temor.

Jimmy foi para o centro do recinto e elas o acompanharam. Num momento Sara e ele ficaram juntos, e ele fez carinho nela. Aí eu já sabia que aquela relação estava consolidada.

Essa noite a família dormiu junta. Sara e Sofia abraçadas no dormitório de Jimmy, Samantha perto e Jimmy fora na casinha externa, como é habitual, já que ele padece de claustrofobia e só entra nos refeitórios e dormitórios por poucos minutos. Ele tem pavor de ser trancafiado, como o foi num pequeno espaço durante anos a fio.

Jimmy ganhou uma família. E que família! Não sabemos se ele vai aguentar as atividades que aquelas duas bebês desenvolvem o dia todo, mas tenho certeza de que os fantasmas tenebrosos do seu passado agora estarão sepultados para sempre.

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional

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