SANTUÁRIO DE SOROCABA
Durante mais de seis meses temos trabalhado todos os dias disponíveis no Santuário para aproximar Jimmy primeiramente com Samantha e depois com suas duas filhas: Sofia de quase 3 anos e Sara, de quase 2.
Antes de tudo, devíamos conhecer a índole de Jimmy, suas perturbações psíquicas e antecipar suas reações. Enfim, estávamos trabalhando com alguém profundamente perturbado, pela vida que levou durante mais de 10 anos num recinto minúsculo em um zoológico super lotado de animais e de gente.
Samantha e suas filhas são primatas normais, que praticamente nunca sofreram em mãos humanas e foram criadas por nós integralmente. Semanas atrás, Samantha se aproximou de Jimmy e ambos conviveram vários dias do mês juntos; nos outros dias ela deveria se dedicar ao seu grupo, o de Guga, e às suas filhas.
Na etapa seguinte – a mais delicada – deveríamos aproximar as bebês dele, pois ele demonstrou repetidamente que gostava delas. Primeiro abrimos a janela que dividia os recintos, para que pudessem interagir com as mãos. Mais tarde, quando essa etapa foi superada sem nenhuma agressão, e Samantha não demonstrava temor do contato de suas filhas com ele, passamos a tentar a aproximação física. Primeiro de Sofia com Jimmy, com a presença da mãe. Sofia é muito atrevida, bate e morde Jimmy, e ele não reage. Ao contrário, acompanha a brincadeira. No primeiro dia foi fantástica a integração de ambos.
Sara ficava observando do corredor, mas tínhamos medo de colocá-la, que Jimmy a procurasse e que Sofia o atacasse por medo dele fazer algo contra ela. Porém, no domingo passado (25 de março), decidimos juntá-los. Samantha não reagiu quando abrimos a porta e deixamos as duas entrar no recinto de Jimmy. Sofia que se faz de “mãe” de Sara em muitas oportunidades, desviava a atenção de Jimmy para ela, a fim de proteger a irmã. Aos poucos minutos, Sara foi para cima de Jimmy e bateu nele levemente. Jimmy não se importou, ai Sofia ganhou confiança de que nada de mal poderia acontecer e começou a brincar com Jimmy, incorporando Sara na brincadeira. Samantha observava de perto a interação sem demonstrar temor.
Jimmy foi para o centro do recinto e elas o acompanharam. Num momento Sara e ele ficaram juntos, e ele fez carinho nela. Aí eu já sabia que aquela relação estava consolidada.
Essa noite a família dormiu junta. Sara e Sofia abraçadas no dormitório de Jimmy, Samantha perto e Jimmy fora na casinha externa, como é habitual, já que ele padece de claustrofobia e só entra nos refeitórios e dormitórios por poucos minutos. Ele tem pavor de ser trancafiado, como o foi num pequeno espaço durante anos a fio.
Jimmy ganhou uma família. E que família! Não sabemos se ele vai aguentar as atividades que aquelas duas bebês desenvolvem o dia todo, mas tenho certeza de que os fantasmas tenebrosos do seu passado agora estarão sepultados para sempre.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
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