MUTIRÃO OFTALMOLÓGICO NO SANTUÁRIO DE SOROCABA
A vida de um primata cego na realidade não é vida. Um ser inteligente, ativo, social, emocional, curioso na total escuridão, sem saber onde está, quem vive em seu entorno, que perigos pode enfrentar, não podendo abraçar um amigo ou amar um semelhante, está vivendo sem vida.
Nós tínhamos um caso dramático com Hulk, o chimpanzé que recuperou a visão de um de seus olhos pouco mais de dois anos atrás e que agora foi repaginado e está em perfeito estado. Porém, este outro caso é ainda pior. Uma fêmea de macaco-prego (Cebus apella) magrinha, sem nome, chegou ao Santuário junto com 33 macacos-pregos que vieram acompanhando o chimpanzé Jimmy e o leão Sansão, do Zoológico de Niterói (Zoonit), que foi fechado por ordem judicial cumprindo solicitação do Ibama devido a maus tratos. A macaquinha sem nome era completamente cega. A colocamos separada dos grupos e demos uma atenção especial a ela, inclusive preparamos um recinto especial, de forma que ela tivesse segurança, espaço e estivesse mais perto de todos nós. Ela foi chamada de “Fofinha”, já que assim o era.
Aproveitando a visita da equipe do Dr. Walton Nose, um dos mais eminentes oftalmologistas brasileiros, no dia 25 de fevereiro passado, para examinar o chimpanzé Hulk, a minha esposa Vânia falou com ele sobre o caso da Fofinha. Ele pediu para trazê-la, ela foi anestesiada pela Dra. Camila Gentile e a colocamos frente a ele, no mesmo lugar em que Hulk, com um corpo 20 vezes maior, tinha sido examinado minutos antes.
Ele diagnosticou duas cataratas em ambos os olhos, uma delas bastante calcificada. O trabalho não seria fácil, devido ao tamanho dos olhos da macaquinha, que são minúsculos. Era uma super micro-cirurgia, mas o Dr. Walton disse que dava para fazer. Durante uma hora, ele trabalhou para que ela voltasse a enxergar e tivesse uma vida normal junto aos seus semelhantes.
Quando ele terminou, perguntou o nome da macaquinha. Falamos que ela tinha um nome improvisado de Fofinha, já que chegou sem nome poucos meses atrás. Ele sugeriu que deveria ser chamada de Íris, em homenagem aos novos olhos que começavam a cobrar vida e a tirariam definitivamente da escuridão. Que melhor nome que esse e quem melhor para dar-lhe um nome, a pessoa a quem aquela macaquinha deveria agradecer, como todos nós, durante toda sua existência, pelo extraordinário trabalho realizado.
Íris está começando a enxergar, o Dr. Walton calculou que em 20 a 25 dias ela estará enxergando bem, especialmente de um dos olhos, cuja função foi totalmente recuperada com a cirurgia.
Esta ação voluntária de um grupo de médicos, de diferentes especialidades, que dedicou uma parte do seu dia de lazer para ajudar um ser que não tinha futuro, é um exemplo e uma esperança de que nem tudo é ruim no mundo humano.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional