Imprensados em uma carreta, animais do Le Cirque chegaram ao zôo extenuados
postado em 27 ago 2008

 Lívia Nascimento – Correio Braziliense
 
(Reprodução de matéria publicada em 27.08.2008)


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Uma carreta de 2,5m de largura com grades e temperatura elevada foi a moradia de 17 animais do Le Cirque ? dois camelos, duas lhamas, duas girafas e 10 pôneis e uma zebra ? por 10 dias, desde que saíram de Brasília. A última jornada, de Campo Grande (MS) para a capital, após decisão judicial que determinou a volta dos animais do circo para o Jardim Zoológico, durou 35 horas. O pouco espaço ? que fez com que muitos animais não tivessem sequer condições de se mexer durante a exaustiva viagem de mais de mil quilômetros ? provocou a primeira perda. Na madrugada de segunda para terça-feira um dos pôneis morreu. A causa ainda não foi divulgada.Desembarcaram também dois elefantes e um hipopótamo, em três carretas.

Mesmo sem saber a razão da morte do animal, a demora em sua retirada do caminhão após a longa jornada e a forma como ele foi transportado podem ter contribuído para o triste fim. Segundo informações do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o pônei fez a viagem em um espaço de 2,86m de comprimento por 2,5m de largura com outros cinco pôneis e uma zebra. Apesar de os bichos terem chegado a Brasília no domingo, os agentes do Ibama e funcionários do zoológico só conseguiram retirá-los na segunda-feira à tarde.

Doenças
?Os donos do circo não cooperaram, eles enrolaram muito dizendo que tinham perdido a chave da carreta e dando outras desculpas. Além disso, os outros animais estavam na frente e precisaram ser retirados primeiro. Os espaço era tão pequeno que eles não podiam nem se mexer?, relatou o coordenador de operações do Ibama, Roberto Cabral.

Veterinários do zoológico e Ibama realizaram uma avaliação clínica detalhada do animais. A saúde da camela Xuxa preocupa. De acordo com Roberto Cabral, exames comprovam que ela sofre de desidratação, anemia, insuficiência renal e acidose lática. Na tarde de ontem, homens do Corpo de Bombeiros estiveram no zoológico para levantá-la com um guindaste de modo que ela possa receber o tratamento. Xuxa também está recebendo soro para ajudar no quadro de desidratação.

Além do pouco espaço, a estrutura das carretas utilizadas para o transporte, em aço, faz com que os animais fiquem sujeitos à insolação durante os deslocamentos de uma cidade para outra. O Ibama também investiga o que aconteceu com um babuíno que se apresentou na cidade com o circo em 2006. ?Fomos informados da morte desse animal e solicitamos o laudo da necropsia para saber o que a provocou?, disse Cabral.

Segundo informações do Ibama, os animais também eram submetidos a maus-tratos durante o treinamento para as apresentações. ?Há relatos dos próprios treinadores do circo onde eles contam que uma das formas de conter o elefante era dar pancadas na pata, na inserção da unha. Esse é o espetáculo que a população não vê?, contou.

O zoológico ainda aguarda a chegada de dois animais de propriedade do Le Cirque. O elefante Chocolate deve chegar hoje à noite na cidade. Ele vem acompanhado do rinoceronte, com quem divide uma carreta. O animal foi impedido de vir para Brasília em razão de um machucado na pata. Em Campo Grande (MS) recebeu tratamento com antiinflamatórios.

O advogado do circo, Luiz Saboia, acredita que a morte do pônei é apenas a primeira e culpa os agentes do instituto. ?O que aconteceu foi assassinato. Esses animais sempre foram bem tratados e vamos provar. Temos laudos de 17 regionais do Ibama dizendo que não existem maus-tratos no circo. Vou responsabilizar esses agentes pela morte do animal. Os elefantes também estão sofrendo porque eles estão acostumados a ficar embaixo de uma lona e não a céu aberto nesse clima quente e seco de Brasília?, relatou.

Comportamento
A alegria com o novo lar é perceptível. Os elefantes , instalados confortavelmente em uma área ampla não escondem a felicidade. Não se cansam de brincar com a água e com a terra do espaço antes ocupado pelo tamanduá bandeira. Não é para menos: na antiga casa eles tinham que viver e conviver em um espaço de 57m² para cada um.

Em outro canto, próximo ao borboletário, duas girafas começam a se acostumar com a nova realidade ? ostentar com orgulho os quase 5m de altura. O espaço preparado especialmente para elas oferece alimentação balanceada farta e muita água. Antes, os animais conhecidos pelos longos pescoços tinham que ser transportados em um espaço com cerca de quatro metros. ?Eles não conseguiam levantar, ficavam curvados, olhando para baixo. Quando questionávamos o transporte eles informavam que havia uma alavanca hidráulica para abrir o espaço, mas que ela estava quebrada?, contou Cabral. As lhamas e a zebra também aproveitam ao máximo a moradia. A brincadeira é rolar na areia no espaço onde estão instaladas. Aquilo que nunca puderam fazer.

MEDIDAS DO ABSURDO

Como os animais eram transportados pela empresa de espetáculos circenses

1,91m de comprimento x 2,5m de largura ? 2 lhamas e 4 pôneis

4,10m de comprimento x 2,5m de largura ? 2 camelos

3,28m de comprimento x 2,5m de largura ? 2 girafas

2,84m de comprimento x 2,5m de largura ? 6 pôneis e uma zebra

Como eles viviam

Chimpanzés ? entre 2, 25m² e 3,75m²
O recomendado ? 60m²

Elefantes ? 47m²
O recomendado ? 1,5 mil m²


 


Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br:80/html/sessao_13/2008/08/27/noticia_interna,id_sessao=13&id_noticia=27707/noticia_interna.shtml