Ilhas para chimpanzés e Santuários na Europa/ ISLAS PARA CHIMPANCES Y SANTUARIOS EN EUROPA / ISLES TO CHIMPANZEES AND SANCTUARIES IN EUROPE
postado em 23 out 2008

DA ÁFRICA

De Fernando Turmo (GAP/ PGS)


Na atualidade nos encontramos em um momento complexo. Em décadas anteriores chegaram a Europa grandes quantidades de primatas procedentes do tráfego internacional, com base em países africanos e asiáticos. Um negócio que enriqueceu muitos e permitiu saciar a curiosidade de milhões de habitantes do velho continente do que era um chimpanzé, um gorila, um bonobo ou um orangotango.


Por trás do chimpanzé que fazia sorrir o público de um zôo ou de um circo achava-se uma história sempre trágica. Estes seres não só sofreram a súbita separação de suas mães quando ainda mamavam em seus peitos mas também foram transportados em péssimas condições para muito longe da floresta que os viu nascer. Em pouco tempo, o mistério e a beleza da floresta tropical convertia-se em um reduzido espaço com uma lata para beber, outra para comer e um vidro através do qual milhares de olhos estranhos, substituindo os de sua mãe, observariam até o último movimento, como fazia xixi, como obrava e como copulava, se tinha a sorte de ter uma companheira para isso. Definitivamente, uma intimidade forçosamente prostituída por uma quantidade de fruta e água ao dia.


Milhares de famílias destes incríveis seres quase humanos foram destruídas para satisfazer a soberbia humana. Não obstante, na atualidade, devido às leis internacionais e ao desenvolvimento do CITES (Convenção das Espécies Ameaçadas de Extinção, que o Brasil assina), esta macabra indústria de negociata dos grandes primatas parece ter desaparecido, ao menos nos países do primeiro mundo, que quando registram algum caso este é punido pela lei.


Os grandes primatas não podem entrar na Europa com toda a impunidade como antigamente, isso é verdade, porém agora a interrogante é: e sair?


A aprovação neste ano da proposição no Parlamento Espanhol sobre os direitos dos grandes primatas, defendidos pela PGS (GAP), pode ter a ver com a resposta a esta questão.


Hoje em dia não passa pela cabeça de ninguém exibir uma pessoa deforme durante uma festa, com uma legenda “passem e vejam o bufão aleijado”, para provocar o riso do público sem a educação necessária. A evolução da ética social converteu este ato em imoral e já faz tempo que se deixou de praticar na Europa.


Quando o Governo reconhecer a proposta do Parlamento sugerida pelo PGS (GAP), aprovará uma série de direitos para os grandes primatas. Este reconhecimento nos fará progredir em nosso respeito e reconhecimento de nossos companheiros evolutivos mais próximos. O que nos converterá, sem dúvida, em melhores pessoas.


Porém, será necessário fazer um juízo de valor, chegado esse momento, do profundo significado desses direitos. Um deles fala claramente sobre o direito à liberdade. Somente justifica-se que um grande primata esteja preso em cativeiro porque não é capaz de valer-se por si mesmo e precisa de nossa ajuda. Nesta última afirmação entramos no delicado mundo da valorização subjetiva. O que faz um chimpanzé não pode valer-se por si mesmo? É real que um chimpanzé cativo não pode voltar a saber  o que é ser livre?


A grande capacidade de readaptação destes seres, devido a suas possibilidades cognitivas e a seu instinto de sobrevivência, coloca em dúvida estas questões.


Na atualidade estão se desenvolvendo diferentes projetos de liberação de grandes primatas em seu meio natural, africano e asiático. Recentemente, um Santuário de chimpanzés da Guinea, membro da PASA, liberou 15 deles com resultados positivos em uma floresta perto do Santuário. Da mesma forma, o Projeto Help Congo vem reintroduzindo mais de 40 chimpanzés na vida livre há alguns anos. Também é necessário mencionar que o Instituto Jane Goodall está preparando uma reintrodução em grande escala dos 143 chimpanzés que se encontram no Santuário Tchimpounga, no Congo. Neste último projeto é interessante avaliar a metodologia que será empregada para que os chimpanzés acostumem-se à vida livre. Imensas ilhas de vários quilômetros de comprimento no meio de um rio caudaloso, com uma floresta densa, serão a primeira etapa da liberação. Após algum tempo estes chimpanzés serão transportados desde as ilhas até a floresta aberta e profunda do Congo para sua liberação definitiva.


Voltando a estes grandes primatas prisioneiros em instalações mais ou menos boas por toda a Europa, é interessante valorizar a primeira etapa da liberação, que inclui sua soltura nas ilhas no meio do rio. Lá os chimpanzés estarão em semi-liberdade, sentirão a chuva, o sol, a terra úmida sob seus pés, o som das folhas, o sabor das frutas e das plantas silvestres e terão a oportunidade de mudar-se de localidade se tiverem conflitos com outros. Ao mesmo tempo não teriam preocupações com predadores nem caçadores furtivos. Tudo isso leva a uma reflexão sobre a possibilidade de dar uma última oportunidade a todos estes chimpanzés que sobrevivem na Europa de voltar a sua África natal, não importa que sejam algumas ilhas.


As melhores instalações da Europa para primatas não deixam de ser recintos fechados: do pátio ao dormitório, do dormitório ao pátio, do pátio ao dormitório… algo que nos faz lembrar as claustrofóbicas prisões humanas. Os grandes primatas em suas instalações ocupam o seu tempo com um pouco de vegetação por aqui, umas plataformas de madeira por aí, um deslizador do outro lado… Nas prisões os detentos tentam passar o tempo jogando baralho, frente a uma TV, praticando basquete, porém no fim, primatas e humanos estão todos presos, almejando a liberdade, com a única diferença que os primatas não são culpáveis de nada.


A opção de trasladar todos estes chimpanzés para as ilhas com florestas densas da África pode parecer excessivamente cara e logisticamente complexa, porém se realmente acreditamos que lhes devemos algo, que estamos realmente arrependidos de ter massacrado as suas famílias e roubado a sua liberdade, devemos dar-lhes a mão e levá-los de volta a sua casa, que não é outra senão a floresta. É possível que alguns pensem que é sonhar demais, porém existiu um dia em que os sonhos do “bufão aleijado” deixaram de sê-los e sua realidade mudou completamente.


Não existe esperança sem sonhos, não existe evolução sem esperança.


NOTA: Fernando Turno mora no Congo. É membro do PGS (GAP) Espanha. Colabora com Santuários africanos e tem uma utopia que aqui desenvolveu, talvez pelo desespero causado pela realidade diária em que vive. Porém, antes de enviar chimpanzés à África, é necessário consertar a África, e isto talvez seja uma utopia impossível no mundo dos humanos.

Pedro A. Ynterian
Projeto GAP Internacional


DESDE AFRICA

ISLAS PARA CHIMPANCES Y SANTUARIOS EN EUROPA

En la actualidad nos encontramos en un momento complejo. En décadas anteriores llegaron a Europa grandes cantidades de primates procedentes del tráfico internacional con base en países africanos y asiáticos, un negocio que enriqueció a muchos y permitió saciar la curiosidad de millones de habitantes del viejo continente sobre lo que era un chimpancé, un gorila, un bonobo o un orangután.


Tras el chimpancé que hacia sonreír al público de un zoo o un circo se encontraba siempre una trágica historia. Estos seres, no solo sufrieron la súbita separación de sus madres cuando aun mamaban de sus pechos, sino que después fueron transportados en pésimas condiciones muy lejos de la selva que les vio nacer. En poco tiempo, el misterio y la belleza del bosque tropical se convertiría en un reducido habitáculo con un cacharro para beber, otro para comer y una vidriera  a través de la cual miles de ojos extraños, sustituyendo a los de su madre, le observarían hasta el ultimo movimiento, como orinaba, como defecaba o como copulaba, si tenia la suerte de que llegara a tener compañera algún día. En definitiva una intimidad forzosamente prostituida por algo de fruta y agua al día.


Miles de familias de estos increíbles seres casi humanos fueron destruidas para saciar la soberbia humana. Sin embargo, en la actualidad, gracias a las leyes internacionales y al desarrollo de CITES esta macabra industria del trapicheo de grandes primates parece haber tocado techo, al menos en los países del primer mundo y aunque aun siguen sucediendo casos, estos son perseguidos por la ley.


Los grandes primates no pueden entrar en Europa con toda impunidad como antaño, eso es cierto, pero ahora la cuestión es: ¿y salir?


La aprobación este año de la proposición no de ley en el parlamento español sobre los derechos de los grandes primates defendidos por el PGS puede tener que ver con la respuesta a esta cuestión.


Hoy en día a nadie se le ocurre la posibilidad de exhibir a una persona deforme durante una fiesta con un letrero que diga: “pasen y vean al bufón jorobado” para suscitar las risas de un público sin la educación pertinente. La evolución de la ética social convirtió este acto en amoral y ya hace tiempo que se dejó de practicar en la vieja Europa.
Cuando el gobierno se adhiera al PGS reconocerá una serie de derechos de los grandes primates. Este reconocimiento nos hará progresar en nuestro respeto y reconocimiento de nuestros compañeros evolutivos más cercanos. Lo cual nos convertirá indudablemente en mejores personas.


Sin embargo habrá que realizar un juicio de valor, llegado a este punto, sobre el significado profundo de esos derechos. Uno de ellos habla claramente sobre el derecho a la libertad. Solo se justifica que un gran primate este encerrado porque no sea capaz de valerse por si mismo y necesite de nuestra ayuda. En esta última aclaración entramos en el escabroso mundo de la valoración subjetiva. ¿Que quiere decir que un chimpancé no puede valerse por si mismo?,  ¿es que realmente un chimpancé cautivo no puede volver a saber ser libre?


La gran capacidad de readaptación de estos seres, debido a sus posibilidades cognitivas y a su instinto de supervivencia, pone en serio entredicho a estas cuestiones.


En la actualidad se están desarrollando diferentes proyectos de liberación de grandes primates en su medio natural africano o asiático. Recientemente un santuario de chimpancés en Guinea, perteneciente a PASA (Asociación de santuarios de grandes simios en África) ha liberado 15 chimpancés con resultados positivos en una selva cercana al centro de recuperación. De la misma forma el proyecto HELP Congo lleva reintroduciendo con éxito más de cuarenta chimpancés al estado salvaje desde hace años. También es necesario mencionar al Instituto Jane Goodall que está en los preparativos de una reintroducción a gran escala de una importante cantidad de los 143 chimpancés que se encuentran en el santuario de Tchimpounga en Congo. Llegados a este último proyecto es interesante de valorar la metodología que van a llevar a cabo para la habituación paulatina de estos chimpancés a la libertad. Unas inmensas islas de varios kilómetros de largo sitiadas en medio de un caudaloso río, pobladas de una densa vegetación boscosa, serán el escenario de su primera etapa hacia la libertad. Pasado un tiempo estos chimpancés serán transportados desde las islas hacia la selva abierta y profunda de Congo para su liberación definitiva.


Volviendo a todos esos grandes simios prisioneros en instalaciones más o menos buenas por toda Europa, es interesante valorar esta primera etapa de la reintroducción que nos habla de unas islas repletas de bosque. Allí los chimpancés estarán en semilibertad, sentirán la lluvia, el sol, la tierra húmeda bajo sus pies, el sonido de las hojas, el sabor de las frutas y plantas salvajes y la posibilidad de cambiar de lugar si quieren perder de vista a algún vecino desagradable. Al mismo tiempo no tendrán preocupaciones de depredadores naturales ni de cazadores furtivos. Todo esto sugiere una reflexión acerca de la posibilidad de darles la última oportunidad a todos esos chimpancés que sobreviven en Europa de volver a su África natal, aunque sea a unas islas.


Las mejores instalaciones de Europa para primates no dejan de ser unos recintos cerrados; del patio al dormitorio, del dormitorio al patio, del patio al dormitorio,….algo que nos recuerda mucho a las claustrofóbicas cárceles para humanos. A los grandes primates en sus instalaciones se les entretiene con un poco de vegetación por aquí, unas plataformas de madera por allá, un tobogán por el otro lado………, en las prisiones los reclusos intentan pasar el tiempo con una baraja de cartas, una televisión, una cancha de baloncesto, pero al final todos están encerrados, los primates y las personas, todos añoran la libertad, solo con la diferencia de que los primates no son culpables de nada.


La opción de trasladar todos estos chimpancés a islas frondosas en África puede parecer excesivamente cara y logísticamente compleja, pero si realmente creemos que les debemos algo, que estamos realmente arrepentidos de haber masacrado a sus familias y haberles robado la libertad, debemos cogerles de la mano y llevarlos de vuelta a su casa, que no es otra que la selva. Puede que algunos crean que es soñar demasiado, pero hubo un día que los sueños de los bufones deformes dejaron de serlo y su realidad cambio profundamente.


No hay esperanza sin sueños, no hay evolución sin esperanza.


Fernando Turmo
PGS África


FROM AFRICA


 


“ISLES TO CHIMPANZEES AND SANCTUARIES IN EUROPE


 


By Fernando Turmo (GAP/ PGS)


 


Today we found ourselves in a complex moment. Decades ago a lot of primates victims of international illegal trade based on African and Asian countries arrived in Europe. A business that enriched a lot of people and allowed that millions of habitants of the old continent killed their curiosity of what it was a chimpanzee, a gorilla, a bonobo or an orangutan.


 


Behind a chimpanzee that made people laugh in a zoo or in a circus it was always found a tragic story. These beings not only had suffered with the sudden separation from their mothers when they were still in breast feeding but also were transported in very low conditions from very far away of the forest that witnessed their birth. In a few time the mystery and beauty of the forest converted on a reduced space with a can to drink from, another to eat and a glass, which enables that millions of strange eyes, replacing their mothers’, observe every single movement they made, how they pee, their faeces, how they copulate, if they have the lucky of having a partner. Definitely, an intimacy forcibly exchanged for a certain quantity of fruit and water per day.


 


Millions of families of these incredible beings who are almost humans were destroyed to satisfy the humane soberby. As result, nowadays, due to the international law and to the development of CITES (Convention on Threatened to Extinction Species, signed by Brazil), this macabre industry that trades great primates seems to be extinguished, at least in the most developed countries. When a case in registered in these countries, it is punished using the current law.


 


Great primates can not enter Europe with the impunity they entered in the old times, that is for sure. But the question is: can they leave?


 


This year’s approval of the great primates’ rights proposal by the Spanish Parliament, defended by PGS – GAP, has something in common with the answer for this question.


 


Nowadays nobody agrees with the exhibition of disabled people in a party, with the subtitle “come and see the crippled clown”, to lead an uneducated audience to laugh. Social ethics evolution converted this kind of act in a immorality and it is not practiced in Europe for a long time.


 


When the Government recognizes the Parliament’s proposal suggested by PGS – GAP, a lot of great primates rights are going to be approved. This recognition will make us advance in our respect and recognition of our closest evolution partners. And this will make us better person, without any doubt.


 


But, when this moment arrives, it is going to be necessary to analyze deeply this concept, to understand the real meaning of these rights. One of them is clearly about the right to freedom. The unique justification for a great primate to be jailed in captivity is the incapacity to survive by his own, needing our help. With this affirmation we enter in the delicate area of the subjective evaluation. What makes a chimpanzee do not be able to survive by his own? Is it true that a captive chimpanzee will never be able to know what it is to be free?


 


The great capacity of readaptation of these beings, due to their cognitive abilities and their survival instinct, put these questions in doubt.


 


Currently different projects for release of great primates in their natural habitat, African and Asian, are being developed. Recently a chimpanzee Sanctuary in Guinea, member of PASA, released 15 of them in a nearby forest achieving good results. Similarly, Help Congo Project has been reintroducing more than 40 chimpanzees to a free life for the last few years. It is also important to mention that Jane Goodall Institute is preparing a great scale reintroduction of 143 chimpanzees that live at Tchimpounga Sanctuary, in Congo. And it is worth to pay attention in the methodology that will be used to the chimpanzees get used to a free life. Immense isles of lots of kilometers long in the middle of great river and with a dense forest will be the first phase of the liberation. After a while in these isles, the chimpanzees are going to be transferred to Congo opened forest, for their final liberation.


 


Back to these great primates that are prisoners in enclosures that are not so good all over Europe, it is important to value the first phase of the liberation, which includes their release in the isles located in the middle of the river. There the chimpanzees will be in a semi-freedom system, will feel the rain, the sun, the wet soil under their feet, the sound of the leaves, the flavor of the fruits and of the wild plants and will have the opportunity of changing locations if they have conflicts with one another. At the same time, they would not have worries about predator and stealthy hunters. All of these leads to a reflection about the possibility of offer all these chimpanzees who survive in Europe the last opportunity of going back to Africa, no matter there are only a few isles.


 


The best European enclosures to primates are still limited areas: from the yard to the bedroom, from the bedroom to the yard, from the yard to the bedroom… something that makes us think about the claustrophobics human jails. In captivity the great primates spend their time with a little vegetation here, wood platforms there, a slide on the other side… In the jails, the prisoners try to spend their time playing cards, watching TV, playing basketball, with the difference that the primates are not guilty for anything.


 


The option of transferring these chimpanzees to the isles in African dense forests can be seen as a very expensive and extremely complex solution. But if we really believe that we won them something, that we are really regretted for having slaughtering their families e stole their freedom, we should hold hands to them and take them back to their home, which is the forest. It is possible that one thinks that this is only a dream, but there was a day that the crippled clown’s dreams became real and their reality changed forever.


 


There is no hope without dreams; there is no evolution without hope.


 


NOTE: Fernando Turno lives in Congo. He is a PGS (GAP) Spain member. He collaborates with African Sanctuaries and has this utopia, maybe raised for the day-by-day reality he witness. But, before send chimpanzees to Africa, it is necessary to fix Africa, and this maybe can be an impossible utopia in the human world.


 


Pedro A. Ynterian


GAP Project International