Histórias de um Santuário em Uganda
postado em 25 abr 2007

Quando Rutoto tinha um ano de idade, sua mãe foi morta a golpe de “machete”, seus dedos cortados e vendidos por 1 dólar a um bruxo que lhe reconhece poderes especiais, e ele jogado em uma pequena caixa de madeira para mais tarde ser vendido como “pet”.

Por mais de um mês Rutoto só enxergava a luz do sol de sua prisão quando a abriam para jogar bananas e pão, alimentos que ele não conseguia digerir corretamente, já que ainda mamava leite materno. A polícia ambiental o descobriu, o resgatou e o enviou a um centro de refugiados. Ele estava à beira da morte, depauperado e apavorado com o que ia acontecer com ele.

Rutoto é um dos 100 bebês chimpanzés resgatados a cada ano em Uganda e países limítrofes, que tem a chance de ter uma nova vida em um Santuário da PASA, na ilha de Ngamba, 20 km do lago Victoria. Esta ilha já está no limite, só pode sustentar 45, e já tem 42 chimpanzés. A ilha não dá os alimentos necessários para esta população, e eles são alimentados antes da noite cair, nas instalações construídas na mesma, onde dormem e se alimentam. Durante o dia ficam soltos na ilha.

Este chimpanzé teve sorte, segundo relata Gerald Muyingo, subgerente do Santuário, que acompanha o trabalho na ilha nos últimos 13 anos. A parte delicada é a integração dos órfãos à comunidade adulta de chimpanzés que vivem na ilha. Nós tentamos aproximar os bebês com mães potenciais, que os acolhem e protegem do macho alfa e seu grupo. Uma fêmea de 13 anos Natasha acolheu Rutoto como seu filho, e o protege de qualquer avanço de machos adultos, Rutoto também entendeu que Natasha é seu seguro de vida num mundo novo e desconhecido para ele.

A maioria dos países da África tem perdido grande parte de suas florestas que é o refúgio natural dos primatas não-humanos. Ironicamente o país com mais florestas ainda invioladas, a República Democrática do Congo, é um lugar perigoso para os chimpanzés e gorilas, já que lá são caçados para ser vendidos como alimento. Qualquer projeto de soltura no Congo deve ser abandonado, já que as possibilidades de ser caçados é muito grande quando são liberados na floresta, afirma Gerald Mayingo.

A ilha, que já não suporta mais chimpanzés, deu um susto nos pescadores desavisados, que entraram nela sem saber e foram atacados pelos chimpanzés, perderam as roupas e todos seus pertences, e tiveram que mergulhar para fugir da morte.

O Gerente Gerald acha que o melhor caminho para acabar com o massacre de chimpanzés é através da educação, o mesmo pensa Jane Goodall, que apóia financeiramente este Santuário chamado CSWCT (Chimpanzee Sanctuary and Wildlife Conservation Trust), que estima que por cada bebê capturado por caçadores, 10 são mortos defendendo a família. Educar para não matar, para não comer, para preservar, este é o caminho, e o Santuário está começando a trabalhar com as comunidades humanas próximas para que se entenda porquê os chimpanzés devem ser protegidos.