Cientistas registraram 33 sinais com sentidos distintos compartilhados pelas duas espécies; segundo eles, descoberta sugere que gestual é herdado biologicamente
Fábio de Castro, O Estado de S.Paulo
27 Fevereiro 2018 | 16h00
Bonobos e chimpanzés compartilham uma série de gestos semelhantes, cujos significados são os mesmos, de acordo com um novo estudo. Segundo os autores da pesquisa, a descoberta inédita pode indicar que os gestos são biologicamente herdados.
As duas espécies de primatas, chimpanzés (Pan troglodytes) e os bonobos (Pan paniscus), são os “parentes” mais próximos dos humanos na árvore da vida. O novo estudo foi publicado nesta terça-feira, 27, na revista científica Plos Biology.
Uma equipe de cientistas da Universidade de York (Inglaterra), da Universidade de St Andrews (Escócia) e da Universidade de Quioto (Japão) registrou 33 gestos com significados distintos que são compartilhados por ambas as espécies.
“A sobreposição dos significados dos gestos entre bonobos e chimpanzés é bastante substancial e pode indicar que os gestos são biologicamente herdados”, disse a autora principal do estudo, Kirsty Graham, do Departamento de Psicologia da Universidade de York (Reino Unido).
De acordo com o artigo, os chimpanzés e os bonobos utilizam gestos em uma grande variedade de situações e para diferentes propósitos, como iniciar e mudar posições durante o acasalamento.
As duas espécies, de acordo com os autores, se separaram de um ancestral comum há cerca de 1 ou 2 milhões de anos. Embora os cientistas já tivessem observado antes que as duas espécies compartilhem vários gestos, o grau de similaridade entre os significados é uma descoberta inédita.
Decifrando “macaquices”. No início do estudo, os cientistas definiram o significado de cada um dos gestos dos bonobos observando a reação por eles provocada e se o macaco que realizou o gesto ficou “satisfeito” com a reação.
A equipe observou vários comportamentos, que foram registrados em vídeo. Quando um bonobo apresentava seu braço diante de um outro bonobo, o segundo macaco respondia subindo nas costas daquele que fez o gesto. O primeiro bonobo então parava de gesticular, sugerindo que a reação do segundo macaco havia sido correta. Com isso, os cientistas puderam inferir que esse gesto isolado significa “suba em mim”.
Depois de diversas observações, os pesquisadores conseguiram definir sistematicamente os conjuntos de significados de 33 tipos de gestos de bonobos. Depois o mesmo foi feito com os chimpanzés e os resultados foram comparados.
Segundo o estudo, muitos dos significados dos gestos são compartilhados pelas duas espécies e, muito provavelmente, eram compartilhados também pelo último ancestral comum de ambas.
“No futuro, esperamos aprender mais sobre como os gestos se desenvolvem ao longo da vida dos macacos. Também estamos começando a examinar se humanos compartilham algum dos gestos dos símios e se são capazes de compreendê-los”, disse Kirsty.
Critérios. Para que um movimento do corpo, dos membros ou da cabeça ser incluído na categoria de gesto, o primeiro critério é que seu objetivo não seja obtido pela força. “Arrastar um indivíduo não é um gesto, mas dar um leve empurrão e depois esperar para ver se o indivíduo segue você pode ser interpretado como um gesto”, disse a pesquisadora.
O segundo critério envolve a existência de sinais de que movimento foi dirigido a um receptor. Um dos sinais possíveis é que o emissor do gesto verifique se o receptor está prestando atenção, que espere por uma resposta e, caso a resposta não seja satisfatória, que persista na gesticulação ou que elabore novos gestos.
Os gestos registrados pelos pesquisadores em vídeo incluem levantar a mão, abanar os braços com ou sem objetos, acenar, coçar fazendo barulho, curvar-se, bater palmas, abraçar, balançar os pés, empurrar, bater na cabeça, bater dois objetos, bater no chão, pular, fazer rodopios, colocar um objeto na boca, cutucar, mostrar os pés ou genitais, rolar, balançar o corpo, apertar as mãos e bater os pés no chão, entre vários outros.
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