Com a recente chegada de Pedrinho no grupo, pudemos observar alguns comportamentos que se diferenciaram entre eles. Ditty mostra-se uma mãe cuidadosa, mas um tanto quanto impaciente. Lulu, a ?tia postiça?, assim como fez com Luiza, tem ficado de olho em Pedrinho, e até ?puxando a orelha? de Ditty em alguns momentos. Gilberto, o pai, continua a se comportar como sentinela do grupo, enquanto Margarete prefere ficar praticamente imparcial aos assuntos. Luiza, como boa irmã, permanece brincalhona tanto com o irmão, como com os demais do grupo, mantendo uma alta taxa de atividade e divertimento com eles. Ociosidade praticamente não existe, já que as brincadeiras e provocações dela são o melhor tipo de enriquecimento ambiental proporcionado, e o mais importante, de maneira natural.
Além desse comportamento alegre, Luiza tem aprendido muito com sua mãe quando o assunto é cuidar de um filho. Pedrinho, com dois meses completos, já é colocado no chão ? sempre em um mesmo local ? pela mãe que se afasta alguns metros e o deixa sozinho, observando-o de longe. Não tão longe fica Luiza, só espreitando a situação. Quando Pedrinho começa a resmungar e ameaça chorar depois de algum tempo, Luiza se aproxima e começa a brincar com ele. Inicialmente ela fica pulando por cima dele e depois segura uma de suas mãos. Se a situação continua, ela o segura até que Ditty volte. Mas o mais intrigante vem sendo observado recentemente, quando Luiza, ao perceber que Pedrinho não parava nem mesmo com suas brincadeiras, usou seu dedo indicador como uma chupeta. Com Pedrinho a chorar, e Ditty apenas o observando, sua irmã não pensou duas vezes e ofereceu o dedo em sua boca, o que acalmou o irmão. A mãe, de longe, só apareceu novamente depois de alguns minutos tomando-o nos braços.
Esse comportamento, apesar de estranho, mostra como é importante a presença de um filho em um grupo de chimpanzés. Além de serem sociais que necessitam da vivência em grupo, esse contato funciona como um importante fator de enriquecimento ambiental, além, claro, de servir como um aprendizado para os filhotes sobre o cuidado materno.
Assim como crianças humanas usam seu lado lúdico e imitam as mães brincando com bonecas, essa criança não-humana está tendo a oportunidade de desenvolver seu aprendizado naturalmente, observando sua mãe e até fazendo às vezes de irmã mais velha, zelando pelo bem-estar do irmão. Mesmo em cativeiro, essa oportunidade é fundamental para o futuro e coesão do grupo já que proporciona o cuidado e interação entre eles, minimizando os atritos e a ociosidade, que são fatores danosos e muito temidos em qualquer cativeiro, merecendo toda a atenção para serem evitados.
Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo
Santuário GAP/Sorocaba
Notícias do GAP 11.03.2008