À raiz da matéria exibida pelo programa Fantástico da Rede Globo no domingo, 27 de novembro, na qual conto em uma entrevista uma operação realizada pelo Diretório Revolucionário Estudantil de Cuba, o qual presidí no Exílio em 1962, para tentar assassinar o Ditador Fidel Castro durante um evento em Havana, se faz necessário aprofundar mais no caso Cubano e o que agora o falecido Fidel representou para Cuba e para o mundo.
Fidel Castro é uma fraude muito bem construída para os cubanos e para o resto do mundo. A Revolução Cubana que ele posteriormente sequestrou como uma obra dele foi feita por todos nós, especialmente os jovens cubanos da época.
O Ditador Fulgêncio Batista, que num golpe militar assumiu o poder na Ilha em 1952, nunca teve um controle absoluto do país; nos sete anos em que esteve no poder, diversas ações da juventude cubana colocaram o mesmo em perigo. O Exército que o sustentava era uma força mal preparada, sem moral, com oficiais que eram corruptos e não tinham o mínimo interesse de lutar pela sobrevivência do Ditador. Fidel teve a habilidade de surgir no meio desta situação, como homem que materializou a luta armada, quando, à duras penas, chegou na Serra Maestra, no oriente da Ilha, após uma operação quase fracassada.
A imagem de Fidel como o líder insurreto, subversivo foi criada pelo New York Times e pelo jornalista Herbert Matthew, que o entrevistou quando começava a se estabelecer na Serra Maestra.
Fidel nunca se interessou em fazer aliança com outros grupos, como o Diretório Revolucionário Estudantil (DRE), que tinha muita penetração nas camadas jovens, e executou a mais ousada operação contra o Ditador Batista ao tentar assassiná-lo no Palácio Presidencial – e falhando por muito pouco.
Fidel chegou ao poder como grande líder sem sê-lo; nunca participou de grandes combates, porém, capitalizava como sua qualquer ação que surgisse.
É falsa a teoria de que os Norte-Americanos quiseram assassiná-lo inúmeras vezes. Nós sabemos, por experiência própria, que os Norte-Americanos sempre o protegeram, até hoje. A operação que o DRE realizou naquela noite de 1962, para atacá-lo com um canhão a partir do mar, foi feita à revelia do Governo Norte-Americano. O FBI no dia seguinte entrou em nossos escritórios em Miami e nos ameaçou de tomar medidas duras contra as nossas atividades.
Naquela época submarinos Norte-Americanos patrulhavam as costas cubanas, para impedir qualquer ação dos exilados. Nós realizávamos com freqüência incursões de propaganda, com nosso barco, para interferir no áudio de canais da TV de Havana e fazer chegar as nossas ideias à população, mas fomos interceptados várias vezes por esses submarinos e só liberados quando se certificaram de que eram operações de propaganda.
Fidel sempre gozou da proteção silenciosa dos diversos Governos Norte-Americanos. Talvez Fidel tenha sido o melhor agente que a inteligência Norte-Americana nunca teve. Ajudou a montar uma vitrine na Ilha, onde toda esquerda mundial ía, de um comunismo fracassado. Só por isso, a contribuição de Fidel à luta anticomunista foi tão grande. E aí está a razão de sua sobrevivência até os 90 anos de idade e 58 de poder, o qual desfrutou até o dia 25 passado, abandonando este mundo e deixando um legado de sangue, suor e lágrimas para um povo que teve que suportá-lo.
Dr. Pedro A. Ynterian
Secretário Geral, Projeto GAP Internacional