Falar por sinais, mostrando amor
postado em 12 dez 2012

A morte de Dar aflorou velhos pensamentos em minha mente. Washoe (sua mãe) foi um dos primeiros casos de amor que os chimpanzés me despertaram. Isso nos idos anos 90, quando comprei o livro “O parente mais próximo” – um dos responsáveis pela escolha que fiz em minha vida: entender, defender e lutar pelos animais não humanos.
Na mesma semana que Dar faleceu, assisti ao documentário “Projeto Nim”, produzido pela BBC e exibido pela HBO, que relata a história de Nim, o chimpanzé que nos anos 70 foi o foco de um experimento pioneiro que buscava provar que seria possível aprender a se comunicar caso fosse criado como um bebê humano. A tentativa de tentar tornar humano um chimpanzé nos leva a uma indagação: por que vemos os outros animais como seres inferiores a ponto de ter que humanizá-los para terem respeito?
É gritante a visão antropocêntrica em relação a tudo e a todos. Somos prepotentes em julgar que somos superiores e mais importantes que os demais seres! Tratamos inclusive os chimpanzés, nossos irmãos evolutivos, como seres totalmente inferiores, a ponto de mantê-los trancafiados em zoológicos ridículos, por exemplo. Mesmo que eles demonstrem atitudes “humanas” (amor, carinho, medo, ciúmes, empatia, etc.), parece que não se quer admitir que eles também são seres racionais, inteligentes, com sentimentos.
Falando especificamente no aprendizado da linguagem dos sinais, percebo que há uma dualidade. Primeiro, querendo mostrar que eles podem aprender e se comunicar conosco e entre eles – fato que é consumado pelo próprio Nim, como Washoe e seus descendentes. Já o segundo, insiste em relutar essa aceitação, dizendo que é algo limitado entre eles.
Que seja limitado ou não. Percebam que só se admite inteligência e sentimentos SE os chimpanzés manifestarem características humanas! Quem disse que deve-se ser “totalmente humano” para ser considerado dotado de inteligência e sentimento? Mais uma incoerência da espécie humana, que vive se matando em guerras e lutas para defender pseudoliberdades e direitos, mas que não consegue olhar para os próprios parentes evolutivos.
Outro aspecto a ser discutido é a privação do convívio dos primatas com seus semelhantes da mesma espécie. Seria válido mantê-los isolados para se provar algo que muitos jamais reconhecerão?
É interessante que se mostre que eles conseguem compreender e se comunicar através da linguagem de sinas. Mas qual o real valor disso? Que a comunicação existe entre eles e entre nós, não há dúvida. Seja por gestos, sons, um olhar ou até linguagem específica. O fato é que não bastam existir tantos argumentos, se a visão humana insistir em não enxergar. Enquanto os julgarmos como seres inferiores, tais proezas não valerão de nada. Devemos ter a mente e o coração abertos para compreender e aceitar os fatos.
O conceito da evolução, em si, é algo totalmente relativo. Cognitivamente podemos até ser o ápice da evolução, afinal, falamos várias línguas, escrevemos, lemos. Mas, se compararmos a capacidade reprodutiva de uma bactéria, por exemplo, somos seres totalmente inferiores. Mesmo sendo a “espécie humana”. Bactérias conseguem se reproduzir, por exemplo, a cada 20 minutos, aumentando significativamente sua população (gerando casos de infecção). Um exemplo extremo, mas que serve para que analisemos nossa arrogância e percebamos que não somos tudo isso que achamos.
Assim, seríamos o ápice evolutivo de todo sentimento? Ou melhor, seríamos os únicos dotados de sentimentos e dignos de respeito por conta desta “humanidade”? Em pleno século XXI, está mais do que na hora de reavaliarmos nossa superioridade e respeitarmos todos os seres viventes desse planeta que é o lar de todos. E mais do que nunca, passarmos a aceitar que somos apenas mais uma espécie inserida na Terra, e que devemos lutar pelo equilíbrio de todo esse sistema. Usemos nossa racionalidade em prol de todos e não apenas de nosso egoísmo.

MSc. Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo