Eusebio demonstra sua idade avançada, americanos consertam velhas estradas
postado em 09 jun 2009
SANTUÁRIO CHIMFUNSHI (ORFANATO DE VIDA SELVAGEM), ZÂMBIA
Eusebio é um dos chimpanzés mais velhos no Orfanato de Vida Selvagem Chimfunshi. Ele chegou no ano 2000 vindo do Chile, onde tinha vivido sozinho por anos no zoológico de Santiago. Ele tinha 24 anos quando chegou. Sua saída do zoo foi alavancada por Carlos e Elba Munoz, fundadores do Santuário de Primatas Século XXI. Eles viajaram até Chimfunshi para garantir que Eusébio chegaria bem.
Mas nove anos depois, notamos que Eusebio começa a demonstrar sua idade. Tem-se a impressão de que ele está andando mais devagar e embora tenha um bom apetite, parece que está perdendo peso. Por conta de sua idade, sua pele de 33 anos sofre rachaduras sem nenhum motivo aparente, resultando em cortes e arranhões em seu corpo. O grupo de solteiros no qual vive percebeu isso e Eusébio se tornou um alvo fácil para os chimpanzés mais novos roubarem sua comida e brincarem com ele.
Por isso, foi decidido que seria uma boa idéia introduzir uma complementação de vitaminas na alimentação de Eusébio. Ele adora os novos “mimos” e fica ansioso para recebê-los todos os dias. Mesmo assim, toda a comida extra e vitaminas não estão fazendo diferença na sua aparência. A verdade é que Eusebio começou a parecer mais velho e tinha alguns machucados mais sérios. Era hora de mudá-lo. Então decidimos tirá-lo do recinto de solteiros de sete acres e colocá-lo na antiga “gaiola” de Sandy, perto da casa dos Siddle.
Mas como você muda um velho chimpanzé de 33 anos. Cuidadosamente, ao que tudo indica. A Innocent Mulenga, treinada em anestesia e responsável pelos cuidados veterinários no orfanato no dia-a-dia, leu as instruções sobre a droga que iríamos dar a Eusebio para desacordá-lo. Conferindo nossos arquivos, vimos que na última vez que Eusebio foi anestesiado tivemos que usar três vezes mais do que a quantidade padrão para que tivesse algum efeito. Temendo isso, Innocent injetou em Eusebio a quantidade padrão, que não deveria levar mais de 20 minutos para fazer efeito. Uma hora depois Eusébio ainda estava sentado feliz em cima da mesa de alimentação, curtindo a atenção. Uma segunda dose foi dada e ainda nada de efeito. Ficamos preocupados em injetá-lo novamente e achamos melhor chamar o Dr. Emmanuel Chitambala, veterinário de Chingola da Autoridade local de Vida Selvagem do Zâmbia (ZAWA).
Quando Dr. Chitambala chegou no dia seguinte, nós o informamos sobre o recorde de Eusebio com as drogas. Dr. Chitambala riu e disse “vocês devem ter feito alguma coisa errada.” Sem querer discordar do veterinária, nós só observamos enquanto ele dava mais uma injeção em Eusebio. Esperando calmamente por sinais de que a droga estaria tendo efeito, foi o médico que começou a ficar preocupado, já que nada aconteceu depois de passada uma hora. Incomodado, ele deu mais uma injeção em Eusebio e esperou. Mas apenas depois da quarta injeção é que Eusebio finalmente ficou sonolente. Mudá-lo para o seu novo recinto foi a parte fácil. Dr. Chitambala limpou suas inflamações, a maior delas embaixo dos seus testículos. Anestesiar chimpanzés no final da tarde nunca é muito bom porque não é possível tomar conta deles no decorrer da noite. Bem cedo na manhã seguinte eu fui verificar Eusebio e ele estava enrolado embaixo de seu novo cobertor. Olhando para cima ele me cumprimentou como uma amiga que não via há muito tempo. Isso fez com que eu me sentisse bem, pois ele estava OK.
No decorrer dos dias que seguiram Eusebio se mostrou mais acostumado com sua nova casa e seu recinto de dormir para ele parecia um espaço para estoque de comida. Ele usa os humanos como sua oportunidade de recompensa – ele chama as pessoas quando elas entram no recinto, pede comida e quase sempre consegue algo. Estou feliz em dizer que ele ganhou peso e que está com uma aparência muito boa.
O Centro de Educação do Chimfunshi tem um ponto alto todos os anos com a visita do Dr. Mark Bodamer, dos Estados Unidos, e seus alunos da Universidade Gonzaga. Este ano, Dr. Bill Ettinger e muitos estudantes se juntaram a ele. Os sons de risadas e excitação podem ser ouvidos em todos os lugares. Esperamos que eles tenham aproveitado sua estadia e tenham saído com muitas lembranças boas dos chimpanzés e dos humanos.
Durante sua estadia sempre foi planejado que várias das escolas internacionais do Zâmbia organizassem suas visitas dos estudantes do nível 5 ao Chimfunshi. A Escola Simbva, de Ndola, foi a primeira a chegar este ano, tranzendo 32 crianças e quatro adultos. Innocent deu início às atividades com as crianças, que foram divididas em grupo e cada grupo tinha um estudante norte-americano como um líder. Isso permite que cada criança tenha uma pessoa mais velha para ajudar no caso de um problema ou necessidade. Innocent fala para as crianças sobre os chimpanzés, as crianças passam a manhã sentadas em frente aos chimpanzés, os estudando. Depois ele lidera o grupo numa caminhada na floresta que circunda o santuário, ensinando-os sobre as árvores e as criaturas que vivem na floresta. Nas tardes, as crianças são levadas para o campo de futebol na nossa área aberta onde jogos de diversão são realizados. Depois do jantar tem uma contação de história e canto e todos sentam ao redor da lareira.
Tendo levantado fundos enquanto estavam nos Estados Unidos, Mark e seu grupo organizaram e pagaram para que umas escolas locais mais pobres fossem e passassem algumas noites no Chimfunshi. Um grupo entre 12 e 15 crianças é escolhido em cada escola. Mark e alguns de seus estudantes pegam as crianças e as levam para o Centro de Educação de Chimfunshi. Algumas dessas crianças mal têm três refeições por dia. Então, ir e ter o oferecimento de três refeições é um grande acontecimento por si só, bem como a oportunidade de tomar um banho de chuveiro e dormir na sua própria cama. Ver um vídeo pode ser uma coisa simples para a gente, mas para eles é algo que nunca vão esquecer – especialmente se eles estiverem no vídeo. Muitas das crianças locais não estão tão interessadas em vagar pela floresta que margeiam suas casas e para elas a oportunidade de se sentar em frente a uma TV e ver um vídeo é mais excitante. Cada noite é animada com muita cantoria e dança.
A estrada de sete quilômetros do Orfanato Chimfunshi para o Centro de Educação Chimfunshi se deteriorou nos últimos meses por conta das fortes chuvas. MasTony Rauch, administrador do Chimfunshi, e Mark tiveram uma grande idéia: talvez alguns estudantes americanos poderiam tentar fazer reparos e tapar buracos. Dez estudantes e dois veículos passaram a manhã na estrada fazendo consertos. Munidos de pás e bastões eles saíram e grupos de dois ou três foram deixados em algumas localidades com buracos muito grandes. Outros ajudaram carregando bolsas pesadas de brita e areia e esvaziando as bolsas nos buracos. Um grupo até entrou na floresta para coletar material de ninhos de cupim, que foi compactado e usado para preencher alguns buracos.
Quase 20 minutos depois que o material dos ninhos de cupim foi compactado, uma fila de aproximadamente 100 formigas grandes negras saiu do solo atravessando a estrada e indo direto para a pilha compactada. As formigas levaram cinco minutos para pegar o número máximo de formigas que puderam antes de voltar para baixo do solo. Assim que elas se foram outro grupo de formigas apareceu de dentro da vegetação e começou o mesmo processo. Os estudantes ficaram fascinados e deram uma parada no trabalho para observar. Enquanto isso, mais abaixo da estrada um outro grupo de estudantes que usava um balde velho para medir a água enlameada acharam que seria uma boa idéia começar uma guerra de lama. Não levou muito tempo para que alegrias, gargalhadas e água fosse jogada em quem estava assistindo.
De vez em quando nós escutamos o alerta através do radio: “Chimpanzés fugiram”. Recentemente o alerta foi dado e Innocent correu direto para os recintos para ver quem tinha escapado e ter certeza que não tinha ninguém na área. Ao chegar no recinto 3, Innocent se surpreendeu quando achou Louise e Barbie do lado errado da cerca – principalmente porque as duas não escapariam sem a ajuda de um macho alfa. Louise, a instigada, conseguiu pegar cinco ou seis pedaços de bambu da floresta próxima e cuidadosamente apoiou o bambu nos fios eletrificados da cerca elétrica, escalando sobre a cerca com muito cuidado. Barbie, que estava mestruada, cuidadosamente fez o mesmo. Geralmente as fêmeas chimpanzés tentam fugir do seu grupo na esperança de se expor para outros machos. E certamente foi o caso dessa vez.
Os chimpanzés do recinto 4 ouviram as vaias e arfadas dos chimpanzés no recinto 3, tornando impossível para a equipe levar os chimpanzés para os recintos dormitórios. Isto foi perfeito para Barbie, que feliz mostrava suas nádegas inchadas para os chimpanzés machos do outro lado da cerca. Nicky, o macho alfa no recinto 4, estava perdido. Ele sabia que não poderia responder ao apelo de Barbie porque ele sabia que levaria um choque se tocasse na cerca elétrica. Bobby e outros machos gritaram e arfaram para encorajar o “show” de Barbie. Lousie participou de tudo ao ficar ao lado de Barbie.
Depois de remover as ferramentas da escapada da cerca feitas por Louise, Innocent e os tratadores conseguiram pegar as duas chimpanzés e colocá-las de volta nos seus recintos antes que qualquer problema acontecesse. Louise normalmente é uma das mais calmas chimpanzés do seu grupo. O que fez ela planejar a escapada, só ela sabe.