“Nasci em Cabinda no norte de Angola há 12 anos. Tinha aproximadamente 3 meses quando me separaram definitivamente da minha mãe.
Foi horrível.
Ela foi apanhada numa armadilha preparada para o efeito no caminho que habitualmente fazíamos em busca de alimentos. Horas depois de se encontrar aprisionada, apareceram quatro homens com lanças e catanas que se acercaram dela.
Vários golpes foram dados para matar a minha mãe, indefesa. E eu assisti a tudo. Vi-a caída no chão lamacento do sangue derramado, mas continuava a segurar-me nos seus braços como se a vida ainda existisse no seu corpo já defunto e me quisesse proteger.
Os homens arrancaram-me dos braços dela e fui arrastada para dentro de um cesto de palha. Eu estava aterrorizada com tudo o que se passava.
Chorava baixinho, sem fazer barulho e também queria morrer e ficar ali deitada ao seu lado.
Fiquei dois dias fechada naquele cesto, para onde jogaram algumas bananas e mandioca. Mas eu queria o leite da minha mãe, não pensava senão nela ? os seus carinhos, os beijos que me dava.
Era difícil conciliar o sono, sentia a falta do seu colo e do calor que ela transmitia.
Ao terceiro dia fui transportada através da floresta e pelos buracos das matebas do cesto conseguia ver um dos homens que matara a minha mãe. Sentia-me muito fraca, com febre e tossia bastante.
Desejava que me dessem água, tinha a boca seca e os lábios rebentados e pensava que ia morrer, estava perdida e em pânico……….”
Este é o início do livro de Mario Carmo, natural de Luanda, Angola, um protetor dos Grandes Primatas daquele país, e um ambientalista militante. Chimba é um bonobo que ele resgatou de traficantes e terminou criando junto com sua família, primeiro em Luanda, no meio da guerra, e depois em Portugal. Junto a Chimba estava Bongo, um chimpanzé meses menor que Chimba, e que foi seu companheiro durante muitos anos, com a família Carmo. Bongo está hoje em Sorocaba, Chimba na Alemanha. A história dramática, comovente, real, desesperadora, contada por Chimba em primeira pessoa, e traduzida com emoção por Mario, realizam este livro que comove e faz chorar. É um pequeno exemplo do que muitos chimpanzés sofrem hoje nas mãos de traficantes, e humanos sem escrúpulos, que o usam como moeda de troca, arrancando-os de suas mães, que morrem muitas delas, defendendo os filhos.
Mario Carmo, com seu livro, abre uma esperança no coração da África, para sensibilizar aquelas sociedades e o mundo, do drama que sofrem nossos irmãos esquecidos.