Entrevista com Dr. Pedro Ynterian – Presidente do GAP – por Humberto Pazian
postado em 29 maio 2013

SANTUÁRIO DE GRANDES PRIMATAS

Ao longo de anos visito e entrevisto pessoas que realizam trabalhos humanitários e sempre que o faço sinto-me muito bem por conhecer e mostrar que o bem existe e o amor também e se expressam por múltiplas formas, mas nessa visita que fizemos ao GAP e o contato com Dr. Pedro me impressionou muito, pois seu trabalho com os animais não tem nenhum cunho religioso, apenas faz o que sua consciência e bom senso determinam.

A matéria foi gravada para nosso programa de TV “Para Viver Bem” e se encontra na íntegra em nosso site www.pazian.com.br em dois programas que, além de assisti-los, peço que reflitam e os divulguem, pois as torturas a que os animais são submetidos, se omissos, teremos também nossa parcela de culpa.

Informativo: Quando começou o santuário e quantos animais abriga atualmente?

Dr. Pedro: O santuário em si começou faz 12 anos e esse criadouro faz 17 anos. Temos cerca de 300 animais no total; 50 chimpanzés, macacos e muitos macacos brasileiros resgatados pelo IBAMA e além dos primatas, 9 leões, 3 ursos, 2 tigres e algumas aves.

Informativo: Essa idéia, como fundador, o senhor teve sozinho ou contou com a participação de alguém?

Dr. Pedro: Não, nossa família fez, começou com alguns pequenos macacos.

Informativo: Hoje, é uma organização internacional?
Dr. Pedro: Não, fora o santuário que é um empreendimento de nossa família, sou o presidente internacional do projeto GAP que foi criado no USA na década de 90 pelo filósofo Peter Singer para defender o direito do grande primata.

Informativo: Em que estado físico chegam os animais aqui?

Dr. Pedro: A maioria chega em estado lamentável. Foram motivos do tráfico ou foram maltratados em locais precários. No caso do chimpanzé que é a parte mais dramática por serem inteligentes, foram maltratados em zoológicos ou circos ou em mão de outras pessoas. Os dentes são arrancados, são castrados, apanham e criam horror dos humanos. Os que vêm do zoológico chegam perturbados porque foram submetidos a um pequeno local e durante meses assediados pelo público durante 8 ou 9 horas por dia.

Informativo: Como se encontram psicologicamente esses animais?

Dr. Pedro: O chimpanzé é um ser inteligente e tem 99,4% do nosso DNA. Qualquer um de nós se colocados numa situação assim terminaria louco. Falo que misturamos o santuário com hospício porque metade dos chimpanzés que temos aqui são loucos e essa loucura foi criada pela sociedade usando ele em zoológicos, em circos, em entretenimentos e depois que não têm mais o que fazer com eles, entregam para nós ou vendem. É dramático porque a nossa sociedade está criando esta situação. Criamos animais que não são mais eles. Temos leões e ursos aqui que não são mais leões e ursos. Essa história que o Zoológico faz educação ambiental é uma balela. Porque estão educando nossa juventude com animais que não são representativos da própria espécie. Lá eles são animais que têm movimentos repetitivos, não se ligam mais com nada, não têm espírito selvagem. Com isso os jovens não estão aprendendo nada, estão desaprendendo.

Informativo: Por que arrancam os dentes dos chimpanzés?
Dr. Pedro: Arrancam os dentes para poderem usá-los para tirar fotos com as pessoas. O dente de um chimpanzé é uma arma, uma mordida dele é horrível, então se você tirou o dente dele, ele não é mais uma ameaça.

Informativo: E as leis que protegem esses animais?
Dr. Pedro: Muitas dessas leis são inoperantes. Não é da lei que você faz, mas da consciência que devemos ter; isso é o mais importante. Se criarmos consciência na população que não se deve fazer isso ou aquilo, e a convencer de que ela está errada, a população passa a ser um grande fiscal da biodiversidade, o que já está acontecendo, pois nos dias atuais a juventude protege o bicho como não fazia antes. Por isso estamos aqui e mostramos a realidade para a imprensa e para a TV. Porque mostrando essa realidade é que a pessoa pára e pensa: “Como faziam isso?”, “Isso é impossível de fazer”… Sim, eles faziam”

A primeira vez que fiz uma reportagem aqui, o cinegrafista filmou a boca de um chimpanzé e viu que não tinha dentes. Disse a ele que foram arrancados e ele perguntou se faziam isso no circo. Eu confirmei e disse que tenho vários assim aqui.

Sou um microbiólogo por profissão, mas por hobby, uma coisa que eu aprendi e fui criando foi a ter consciência. Há 20 anos não tinha essa consciência que tenho hoje e daqui a 5 anos terei mais consciência do que tenho.

Eu sou contra manter aqueles macacos presos. Acho aquilo uma barbaridade. Fiz isso a 17 anos atrás, hoje já não faria mais. O espaço do chimpanzé não chega a ter 50/100 m2, já aqui o território é enorme; é o máximo que se pode fazer. Os macacos de nossas florestas não nasceram para estarem nessas gaiolas. Nasceram para serem livres e é isso que tem que ser feito.

Pegou do tráfico? Procure um sistema eficiente para soltá-lo na mata, devolvê-lo na natureza. É preferível que ele morra lá a morrer aqui, porque isso é a prova da nossa incompetência. Isso é uma coisa que a população tem que saber, porque não é bonito mostrar. Quando forem ao Zoológico e verem os macacos presos, saibam que estão destruídos mentalmente. Não nasceram para isso. Você não pode educar alguém mostrando isso. Esses animais têm que estar livres. Os chimpanzés não são daqui, não posso soltá-los na mata, são da África. Agora os nossos eles têm direitos de estarem livres, lá fora.

Maio/ 2013

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