Emílio, um garoto da paz
postado em 05 dez 2007

Em nossa rotina diária de visitas, um ou outro chimpanzé chama nossa atenção pelas travessuras, brincadeiras e até mesmo algumas atitudes que nos assustam, como já relatado o ocorrido com Charles, por exemplo. Dentre os 43 chimpanzés do Santuário, o garotão Emílio (7 anos), é um de nossos irmãozinhos que passaria despercebido no dia-a-dia, não fosse pelos gritos de alegria que dá junto às inúmeras janelas de seu recinto quando nos vê passar de carro, alertando aos demais para que “corram e olhem quem está passando aqui, pessoal!”. Emílio é muito calmo, tranqüilo e carinhoso ao extremo, tanto conosco como em relação aos demais chimpanzés que vivem com ele no recinto. Gosta de brincar com todos, sabe respeitar os líderes e também gosta de ter seu momento de solitude.


Na semana em que fiquei incumbido com a “difícil” tarefa de dar atenção e levar alimento à turma do Guga, Emílio provou mais uma vez sua calmaria. Enquanto todos se amontoavam na porta para receber seus doces e suco, Emílio foi calmamente até uma outra porta, um pouco distante de onde estava, mas onde não havia ninguém mais. E lá ele ficou, sentado, me observando e observando os demais, esperando sua vez, que ele sabia que chegaria.


Entre um doce para Guga e Billy Jr., outro para Cláudio e Carol, e mais um doce para Samantha e Dolores, me desloquei até a janela onde estava o “chimpanzé sorriso” – apelido carinhoso dado ao Emílio – e entreguei seu doce e suco. Os outros ficaram lá fora, disputando e até entregando seus doces ao líder Guga quando este solicitava. Mas Emílio, longe de tudo isso, curtiu e saboreou tranquilamente pela outra porta do comedouro. Vê-lo ali me deu a impressão de que tudo poderia acontecer, mas nada o incomodaria naquele instante. Emílio parecia um monge, sereno, aguardando o momento.


Depois de satisfeito, aceitou um breve cutucão de Cláudio para brincar. Levantou-se, brincou por um instante e saiu. Com a calma de sempre, deixou que os outros continuassem a “bagunça organizada” e seguiu rumo a uma das redes armadas abaixo das casas do recinto – a mais distante de onde estava. Deitou de costas sobre ela, abriu os braços, cruzou suas pernas e descansou, vez e outra rolando e se divertindo sozinho. Se estava feliz? O sorriso e suas atitudes falaram por si só…



Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo
Santuário GAP/Sorocaba
Notícias do GAP 05.12.2007