Em defesa dos macacos
postado em 03 set 2014

Racismo é condenável em qualquer circunstância. E o que incomoda ainda mais é a demonstração duplamente ignorante dessas pessoas que comentem tais atos. Ao ofenderem alguém com a palavra “macaco”, intitulam-se ainda mais patéticos. Comparar alguém a um macaco é motivo de orgulho. Os primatas, nossos parentes mais próximos na escala evolutiva, são tão parecidos conosco, mas apresentam diferenças significativas que talvez nem devêssemos tentar compará-los a nós. Parece estranho? Mas não é. Talvez o pior insulto que poderíamos dizer para alguém – volto a dizer que condeno tais atitudes! – seria chamá-lo de “ser humano”. Todos os demais primatas são sentimentais, solidários e, até onde se sabe, jamais discriminam seus semelhantes por conta de uma pigmentação da pele. Jamais um primata não humano mata outra espécie por puro prazer, ou faz seu semelhante sofrer. Compaixão, ternura, carinho e respeito. São essas palavras que regem a sociedade de nossos irmãos. Talvez o neologismo “macacunidade” fosse o mais correto do que dizer que eles realmente tem humanidade uns pelos outros. Por essa e por outras, a ofensa maior, infelizmente, é aquela que nos faz lembrar que somos seres humanos, e compartilhamos um mundo com gente que ainda assim, se julga superior às demais, seja pelo dinheiro ou pela cor. As mesmas pessoas que não respeitam o silêncio alheio e egoistamente trafegam com carros em volume abusivo; pessoas que jogam lixo em qualquer lugar e nem mesmo se importam com a falta d’água e continuam a lavar suas calçadas; representantes do povo que desviam dinheiro público para benefício próprio. Talvez, se pudéssemos realmente confiar na justiça brasileira e no cumprimento das leis, as palavras agora seriam de orgulho de sermos humanos, pois aqueles que não sabem viver em sociedade, assim não podem continuar. Esses racistas estariam presos e pagando pela idiotice que apregoam na sociedade. Aos demais primatas, minhas sinceras desculpas. Quem sabe um dia aprendamos a viver realmente como macacos.

Prof. Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo, Doutor em Etologia, Mestre em Ciências
lpadulla@gmail.com

Fonte: 

http://www.liberal.com.br/virtual/


jornal O LIBERAL 03092014