A cultura em nossas sociedades humanas nos levou a criar um sistema que protege o indivíduo acima dos outros participantes deste universo. As leis, costumes, normas e decisões são dirigidas a proteger os humanos, que podem fazer deste mundo o que desejarem, até acabar com o mesmo.
Os zoológicos existem como uma concessão dos Estados para exibir animais e dar entretenimento à população que ainda aprecia esse lazer. Os animais lá reclusos não têm o mínimo direito e são escravizados para servir ao público visitante esse espetáculo deprimente.
Para amenizar, talvez hipocritamente, os Estados têm criado órgãos de defesa dos animais e do meio ambiente, em geral, que têm a missão de evitar os abusos e proteger os desprotegidos. Lamentavelmente, nenhum desses órgãos criados, em qualquer país, cumpre realmente essa sua função e se convertem, muitas vezes, em avalistas dos abusos que são praticados contra o mundo animal.
O IBAMA é o nosso órgão ambiental, tem a responsabilidade de licenciar os zoológicos e todos os empreendimentos que acolhem animais, fiscalizar seu funcionamento e monitorar a saúde mental e física dos seres lá reclusos.
Na Ação Civil Pública n° 5010340-53.2012.404.7208/SC, de dias atrás, impetrada por um grupo de organizações de defesa dos animais, o IBAMA aparece no lugar errado. Não é AUTORA da denúncia, mas sim RÉU. Isto tem lógica?
Acompanham o IBAMA como RÉU: JB WORLD ENTRETENIMENTOS S.A., que é o Parque e Zoológico do Beto Carrero World; a RBS PARTICIPAÇÕES S.A., grupo de mídia gaúcho, e finalmente o GREEN VALLEY – GV EVENTOS LTDA. ME, uma micro empresa, fundada em 2007, no bairro Rio Pequeno, Balneário de Camboriú – SC, que se dedica a promoção de eventos e tem um capital registrado de 100.000 reais. Ela conseguiu “convencer” o nosso órgão ambiental que os 700 animais do zoológico do Beto Carrero – muitos deles ameaçados de extinção – não escutariam um único som de música estridente de mais de 30 mil pessoas, reunidas durante dois dias, a 400 metros do zoológico. Um som não deixou dormir toda a vizinhança de humanos e animais do parque.
É lamentável ter que escrever estas linhas. O fazemos com dor, já que estivemos junto com bons servidores do IBAMA, em muitas empreitadas para coibir os maus tratos e os abusos contra os animais no país. Achamos que o nome do IBAMA não deveria ter sido manchado deste jeito.
De que lado estão os que autorizaram aquela sessão de tortura sonora a centenas de animais, e que nunca poderá ser medido o dano a eles causado? Que importância tinha esse evento de música estridente frente à saúde desses animais, a maioria propriedade do Estado, que lá estavam na confiança de que aquele zoológico os cuidaria, os protegeria e nunca seriam submetidos a uma tortura daquela dimensão?
Como uma forma de isolar os animais da barulheira externa, o zoológico foi forrado com tapumes, convertendo-o ainda mais, numa prisão absurda, o que já pode ser qualificado de maus tratos, se alguém realmente isento desse sua opinião.
Pensemos também que aquele o foi idealizado e gerado no exterior, e que uma grande parte do dinheiro que rendeu foi convertida em dólares e euros, e já está viajando para as contas do grupo de DJs milionários, que em nenhum momento – apesar das denúncias – se importaram que iriam torturar animais com seu trabalho.
Um Governo ou uma Nação, que deve zelar por seu território e por todos que aqui vivem, não se importou que estrangeiros viessem aqui, com toda a fama de seus milhões, da propaganda e do marketing que geram a fim de tirar divisas do nosso país e torturar animais inocentes.
Segundo o Despacho do Juiz Federal, que não aceitou suspender o evento e teve a ingenuidade de acreditar, que, com tapumes, era possível isolar um zoológico de 700 animais e que durante dois dias os ouvidos sensíveis destes seres não ouviriam nada, agora há aa obrigação de se publicar todos os resultados dos testes que lá foram feitos, assim como o monitoramento da imensa barulheira.
Essa tortura vai se repetir nos próximos quatro anos! Segundo o contrato da micro empresa catarinense com os DJs internacionais milionários, que desejam continuar enriquecendo suas contas bancárias às custas da dor e insanidade mental que estão criando em seres inocentes. Para nós, que convivemos com centenas de animais e sabemos como eles sofreriam se fossem submetidos à mesma experiência, ficamos com a opinião de um morador vizinho do Parque, que confessou a um repórter da TV local que nem ele nem a sua família conseguiram dormir com o barulho.
O Direito à Irresponsabilidade ainda continua permeando nossa sociedade e quando o “vil metal” entra em jogo, os princípios e a ética são jogados na lata do lixo. Porém, não desistamos, ainda existe esperança. Estes exemplos e as redes sociais vão terminar extirpando de nossas sociedades estas práticas nojentas e os sujeitos que as praticam.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional
Fonte: http://www.anda.jor.br/21/11/2012/o-direito-a-irresponsabilidade
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