Dream Valley: a comprovação do absurdo
postado em 15 jan 2013

Não me surpreendeu os pontos apresentados no parecer da Dra. Vania de Fátima Plaza Nunes em relação ao evento “Dream Valley”, que se realizou, estranhamente autorizado pelo IBAMA, no mês de novembro passado nas dependências do Parque e Zoológico Beto Carrero World.

Os pontos e problemas apresentados por ela foram os mesmos que alertamos anteriormente e que, portanto, poderiam ter sido evitados.

A falta de gente capacitada para desenvolver as observações necessárias, as câmeras que foram instaladas apenas em alguns lugares – sem contar as que não funcionaram -, a falta de proteção eficiente nos recintos, a monitoração apenas das lhamas, girafa, zebra, elefante, orix, antílopes (waterbuck) e orangotango, ignorando os demais animais ali presentes, a iluminação constante que interferiu no descanso dos animais e a falta de dados confiáveis são alguns dos aspectos preocupantes que foram apresentados.

E outras coisas foram reveladas: a falta de um monitoramento e registros das atividades comportamentais dos animais, que é um ponto primordial para que se avalie o comportamento e saúde animal. Isso NUNCA foi desenvolvido no zoológico.

Fica óbvio que, com esses dados, colhidos de qualquer maneira e por pessoas despreparadas, não se poderá concluir que não houve comprometimento do bem estar dos animais. Os dados, além de não terem sido coletados de maneira correta, podem ser tendenciosos. Outro aspecto intrigante, que também foi levantado antes do acontecimento, foi a manutenção e armazenamento das amostras de fezes no próprio parque. As amostras deveriam ser coletadas por profissionais capacitados e imparciais, bem como armazenadas e/o enviadas para outro local.

No decorrer de sua visitação, a bióloga do local informou que todos os animais ali alojados estavam bastante acostumados ao movimento e barulho durante o dia, principalmente com as constantes visitações escolares nas quais as crianças gritam e fazem todo tipo de algazarra. Na tentativa de justificar, ainda afirmou que o fato desses animais já terem nascidos em cativeiro, os habituou aos recintos diminutos e barulhentos. Mais um absurdo e total falta de conhecimento da biologia. Teria essa bióloga esquecido do juramento que fez quando formada, ao qual se comprometeu a exercer suas atividades profissionais em defesa da vida?

E, mostrando o que há tempos se alerta, todos os recintos observados são inadequados para as espécies ali alojadas sejam de silvestres ou domésticos e não atendem as necessidades naturais das diferentes espécies (…). As condições inadequadas, ultrapassadas, pequenas, e alguns dos programas pelos técnicos do parque denominados de educação ambiental em nada lembram as diretrizes dos programas nacionais definidos por leis especificas e necessários a promoção do conhecimento da sociedade e da adoção de práticas éticas para com os animais. Estas, por sinal, são o retrato de todos os zoológicos brasileiros, que, quase sempre, têm a conivência do IBAMA.

Chama a atenção o fato do pessoal da área administrativa todo tempo queria que a visita terminasse rapidamente. Por quê? Como diz o ditado, “quem não deve, não teme”…

Condizente com o que foi falando ANTES do evento, é taxativa ao afirmar que, a nosso ver o evento não deveria ter se realizado sem o referido estudo ou análise.

A pergunta que fica é: até quando vamos ter que esperar o pior acontecer para que atitudes sejam tomadas? Onde está a responsabilidade do IBAMA, que tem como dever a fiscalização ambiental? É no mínimo absurdo o que foi feito neste zoológico. Passou-se por cima da lei, desrespeitando exigências do Ministério Público, com a certeza de que nada irá acontecer – e é muito provável que fato NADA ACONTEÇA com os responsáveis.

Infelizmente, nosso país está fadado cada vez mais ao rótulo da impunidade. O maledicente “jeitinho brasileiro” se faz presente também neste órgão público, até então, merecedor de respeito. Lamentável que a fauna esteja a mercê de pessoas nem sempre preparadas e que sucumbem a interesses que vão além da preservação e respeito à vida.

MSc. Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo


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