Uma melhor compreensão da especificidade da espécie humana pode vir do estudo comparativo de seu genoma com o de outras espécies de primatas, como o chimpanzé. Isso é o que vem fazendo a equipe do sueco Svante Pääbo, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária, em Leipzig (Alemanha). Pääbo apresentou seus últimos resultados em 27 de março na Conferência Internacional sobre o Genoma no Brasil, em Angra dos Reis (RJ).
Pääbo relatou experimentos em que sua equipe comparou a expressão de genes no homem, no chimpanzé e em uma terceira espécie de primata. Os resultados são surpreendentes: a variação da expressão de genes encontrada no sangue e no fígado foi relativamente pequena (0,57 e 0,80%, respectivamente), mas foi mais significativa no cérebro (1,23%). Nesse órgão, a expressão dos genes no homem se distancia significamente em relação aos outros primatas.
Seria esse o correspondente bioquímico de características que acreditamos ser distintivas da espécie humana, como o pensamento complexo e abstrato? “É tentador dizer isso”, disse Pääbo à CH on-line. “Mas ainda não sabemos dizer a que correspondem esses resultados do ponto de vista funcional. Esperamos entender no futuro.”
Para o sueco, as diferenças que separam homem e chimpanzé são mais sutis do que acreditamos do ponto de vista do fenótipo (manifestação dos genes, inclusive em escala molecular). “É preciso definir melhor essa diferença”, defende. Pääbo cita estudos que constataram em chimpanzés atributos considerados específicos da espécie humana. “Eles são capazes de evoluir culturalmente e de aprender linguagens de sinais. As diferenças são apenas graduais”, argumenta.
Esclarecer as diferenças de fenótipo que separam as duas espécies será mais fácil quando o genoma do chimpanzé for conhecido. O principal passo já foi dado, com a constituição do Japão de “bibliotecas” de seqüências genéticas do primata. No entanto, o custo do sequenciamento completo seria muito alto. “É tudo uma questão de dinheiro e de prioridades”, acredito Pääbo.
A partir da mesma técnica que a empresa Celera adotou para mapear o genoma humano, a equipe de Pääbo descreveu uma amostra do genoma do chimpanzé escolhida aleatoriamente. A amostra, de 3 milhões de pares de base, representa cerca de 0,1% de genoma do primata. Comparando-a com o que se conhece do genoma humano, Pääbo constatou uma diferença média de apenas 1,3%. “Se você me mostrar um fragmento de DNA, não saberei dizer se é de um humano ou de um chimpanzé.”
Pääbo, que trabalha há mais de três anos na comparação de humanos e chimpanzés do ponto de vista genético, pretende dar seqüência ao estudo e pesquisar em detalhe a expressão de genes no cérebro de ambas as espécies.