Diário de Yakarta
postado em 01 fev 2007

Óleo Manchado de Sangue
Por Karmela Llanos (GAP/ PGS)

Mutilados, golpeados, ensangüentados, queimados vivos, mortos por inanição, desnutridos, desidratados, abandonados… assim é como os poucos orangotangos que ficam no estado livre em Indonésia caminham pelo sendeiro da extinção.

Fogos descontrolados arrasam Kalimantan, um dos últimos refúgios naturais dos orangotangos de Borneo. As companhias agrícolas, a maioria multinacionais que exploram as terras em Kalimantan não tem limites na hora de incendiar a selva tropical e os animais que nela moram.

Densas nuvens de fumaça se estendem por toda a área de Kalimantan Central e tem chegado inclusive a países vizinhos (Malásia e Singapura). O Aeroporto de Palangkaraya, capital do Kalimantan Central, leva mais de 2 semanas fechado. O uso de máscaras, que já é fato comum nos habitantes da zona, não é só para paliar os efeitos da fumaça também tem a finalidade de se defenderem contra as doenças respiratórias que começam a surgir na população.

Os fogos que afetaram Kalimantan em 1982 destruíram mais de 3,5 milhões de hectares de floresta. Como isto pode acontecer em uma floresta tropical, muitos se fazem esta pergunta. O tráfico ilegal de madeira e os desertos que surgem nas antigas florestas dão passos a uma vegetação rasteira que facilita o surgimento de fogos.

Segundo um informe apresentado por Walhi, o Foro Indonésio do Meio Ambiente, durante o passado mês de agosto mais de 178 companhias agrícolas foram denunciadas pelo uso de fogo para fazer clareiras na mata e convertê-las em terras para cultura. Dentre esta lista há muitas firmas estrangeiras, e uma boa maioria procedentes do país vizinho, Malásia.

O óleo de palma é o objetivo destas companhias, que destroem florestas e plantam palmeiras. Até onde enxergam meus olhos não vejo vida, só fumaça e fileiras de árvores cortadas. Acende-se o fogo em cada extremo e o mesmo se propaga rapidamente. Depois se cavam canais ao lado, e a água se acumula nessa área. Após esse processo de destruição do solo, só resta plantar as palmeiras, como única alternativa naquele solo, que antes sustentava uma floresta tropical.

Nos fragmentos de floresta que ficam inexplicavelmente intactos, juntam-se os animais sobreviventes daquela chacina. Em menos de um hectare achamos gibões, langures e mais de 9 orangotangos. A equipe de resgate de Nyaru Menteng não consegue atender a todos. Os orangotangos em melhor estado de saúde são levados a zonas de floresta ainda não atingidas. Os que estão feridos são levados ao Centro de Reabilitação de Nyaru Menteng.

Atualmente, o ecossistema na zona de Kalimantan Central já não é mais a selva tropical, são as plantações de palmeiras, que produzem o óleo que é o principal componente do biodiesel. O baixo custo de produção nos países do Terceiro Mundo intensificou a produção, o salário médio de cada trabalhador na área é de pouco mais de 100 reais por mês. A venda também da madeira cortada é um negócio interessante antes de plantar as palmeiras.

O que acontece na Indonésia é um genocídio, e o Mundo deve virar seus olhos para estas florestas em chama, que alimentam a cobiça humana.