Nos próximos dias a Prefeitura do Rio de Janeiro estará analisando, talvez de fontes privadas, propostas para arrendar o Zoológico da cidade, que está fechado devido a dezenas de irregularidades e maus tratos aos animais, tristemente lá hospedados.
O conceito de zoológicos é totalmente ultrapassado, mas o Brasil ainda insiste que devem existir e sejam locais de divertimento de humanos e de sofrimento de animais.
Para enriquecer este debate, pegamos emprestada a opinião de Carlos Magno Abreu, analista ambiental do Ibama, que já esteve envolvido nesse mundo de zoológicos e tráfico de animais, como relata em seu livro a Operação Boitatá e a Serpente de um Milhão de Dólares.
Vejamos o que Magno coloca em seu livro:
“Magno: Acho que os zoológicos e a utilização de animais em circos também têm que acabar. Não é possível que ainda hoje tenhamos esse tipo de atividade como uma forma de diversão.
Repórter: Mas os zoológicos e circos não são permitidos? Você não acha que as pessoas têm direito, ou melhor, devem conhecer os animais selvagens, para ai sim, ajudar a defendê-os?
Magno: Já achei isso, mas hoje acho que não. Ou melhor, talvez isso até tenha tido certa importância há muitos anos atrás, mas não nos dias de hoje. Eu realmente acredito que nós só defendemos o que conhecemos e amamos, mas não acho que eu precise ver um leão, que antes corria livre nas savanas africanas, preso em uma jaula de aço pelo resto da vida, pra saber que ele não deveria estar preso em uma jaula de aço pelo resto da vida e sim correndo livre nas savanas africanas. Hoje nós temos diversas outras opções para isso, por exemplo, diversos documentários para a televisão feitos com os animais em vida livre, safáris de observação e por ai vai.
Mas deixe-me corrigir o que disse antes, não acho que os zoológicos têm que acabar. O que tem que acabar é o comércio específico para os zoológicos, pois ainda hoje, animais de vida livre são caçados e capturados exatamente para irem para zoológicos, para servirem de atração e para ganhar dinheiro. O que, pra mim não faz qualquer sentido, além de ser ética e moralmente um absurdo. Acho que os zoológicos deveriam servir como um exemplo da nossa estupidez. Outro dia uma amiga minha foi para a Polônia estudar e foi visitar o museu do campo de concentração de Auschwitz. Ela voltou de lá deprimida, passou dias chorando muito, pois viu com os próprios olhos o nível de estupidez que os seres humanos podem chegar. Tomou um tapa na cara da realidade.
Acho que os zoológicos deveriam ser assim, não uma atividade divertida e prazerosa, onde as pessoas riem de animais que estão presos e sofrendo há anos. As pessoas acham engraçado quando um macaco defeca na mão e come as próprias fezes! Sem sequer pensar que isso é um distúrbio psicológico muito grave e que esse animal deve ter passado, ou melhor, está passando por torturas cotidianas para chegar nesse nível de comportamento totalmente antinatural.
Na minha visão, as escolas e os pais levariam as crianças aos zoológicos para que elas vissem como a sua geração e as anteriores eram imbecis. As crianças deveriam ver os animais aprisionados e chorarem, com vergonha de ver tal cena e por saber que o que seus pais fizeram não foi suficiente para impedir que esse absurdo acontecesse. Talvez assim, cada vez teríamos menos animais nos zoológicos, até que chegássemos num ponto, onde não haveria mais animais para colocarmos lá, pois teríamos conseguido impedir que outros animais fossem caçados em seus locais de origem e enviados aos zoológicos.
Infelizmente acho que estamos mais perto de não termos mais animais nos zoológicos, pois em breve não teremos mais animais de vida livre. (…)”
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional