Fazia mais de um ano que não visitávamos o Santuário de Grandes Primatas do Paraná, mantido pelo Instituto Anami e afiliado ao Projeto GAP. Aproveitamos o feriado do dia 30 de maio para realizar essa visita.
Aqueles chimpanzés jovens, criados lá desde bebês, já deixaram de sê-los e são indivíduos fortes e atléticos, que passam o dia todo em atividade no recinto enorme que eles dispõem: Johnny (irmão menor de Guga), Matheus, Lucas, Dinho e Vitoria estão em ação desde cedo. Quando visualizam que tem gente diferente – neste caso nós – na casa sede, que está a poucos metros deles, ficam curiosos para saber quem são. Tanto a mim, como a Vânia, nos conhecem bem. Chimpanzés têm uma memória precisa e se lembram, não importa que o tempo transcorrido seja muito, quando nos veem novamente, se recordam.
Dinho agora está mais agressivo, apesar de ser o mais jovem, joga terra em todo mundo que se aproxima, até tentarmos convencê-lo que pare com essa atitude, aí ele se acalma e começa a interagir conosco. Em um ano todos eles cresceram muito. Os chimpanzés criados por nós, em Santuários, desenvolvem muito mais do que aqueles nascidos e crescidos em circos e zoológicos. Contribui para isso, uma melhor alimentação, um espaço para exercitar-se bem maior e a saúde mental, que é imensamente melhor, já que estão rodeados por humanos que os amam, sabendo eles, retribuir.
Conhecemos Bico, o último chimpanzé recém-chegado, meses atrás, do Líbano. Bico é um chimpanzé pequeno, com aproximados 12 anos de idade, que tem pavor de outros chimpanzés. Uma tentativa de juntá-lo com um grupo de três fêmeas e um macho, teve que ser abortada, quando ele entrou em pânico e começou a desenvolver uma gastrite emocional que colocava sua vida em perigo. Voltou para seu recinto provisório e em poucos dias mais será transferido para um novo recinto, longe dos chimpanzés adultos, onde tentarão nova aproximação com uma fêmea jovem, para evitar sua solidão. Bico é muito brincalhão, interage com todos que cuidam dele, muito positivamente. Quando chegamos, nos recebeu bem e nos pediu que abríssemos a porta que dá acesso ao corredor exterior, mostrando a sua habilidade de comunicação.
Katai, orangotango fêmea, está bem, seu físico e sua pelagem melhorou, porém continua morando na parte externa e não entra no dormitório, não importando o frio que exista. Sua claustrofobia desenvolvida nos zoológicos onde ficava presa horas a fio, continua intensa. Ela nos deu as costas na grade para fazer amizade, mas alertados que não gosta de homens e vomita neles, ficamos a dois metros por precaução.
A jovem Carol, tão bonita como sempre, continua dormindo fora, é outra que desenvolveu uma incurável claustrofobia no extinto Circo Garcia. O ex-fumante, Omega, está muito bem. Forte e ativo, agora acompanhado por uma fêmea, deixou para trás a vida miserável que levou no Líbano, servindo água para Narguilé num bar local e depois isolado e abandonado num zoológico de quinta categoria.
O mais importante de tudo, foi que encontramos os donos do empreendimento – Anita e Milan Starostik – com excelente saúde e trabalhando diariamente no cuidado e na alimentação de seus amados chimpanzés e dezenas de outros animais.
Uma clínica agora foi instalada especialmente para os chimpanzés, de forma de fazer exames laboratoriais rápidos, assim como pequenas cirurgias, que será ampliada para não precisar tirar do Santuário nenhum primata para tratamento externo. A Dra. Sandra Haluche, veterinária que tem se especializado em primatas e visitou muitos zoológicos e centros na Europa, que tratam dos mesmos, está implantando uma rotina de trabalho especialmente dirigida a eles, que tão parecidos são conosco.
Se o Santuário do Paraná era um Paraíso, agora é mais ainda. As cercas elétricas foram modificadas, para dar maior segurança, mantendo um visual excelente, que só a cerca elétrica permite. Devido ao frio no inverno, todos os dormitórios têm calefação e um novo sistema super-silencioso está sendo implantado nos recintos, para melhorar a qualidade de vida daqueles que a família Starostik tem dedicado sua vida.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional