Dados revelam ‘impressionante’ extensão do comércio ilegal de primatas
postado em 04 out 2016

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Uma recém-criada base de dados sobre tráfico de animais sugere uma grande subnotificação de casos de comércio ilegal de primatas.

Cerca de 1.800 orangotangos, chimpanzés e gorilas foram apreendidos em 23 países diferentes desde 2005, segundo os novos dados.

A nova base vem corrigir um problema antigo: cerca de 90% dos casos de apreensões de macacos não eram contabilizados em estatísticas internacionais por ocorrerem dentro de fronteiras nacionais. Apenas as apreensões em rotas internacionais eram contabilizadas.

A novidade foi apresentada na conferência dos países que aderiram à Cites (sigla em inglês da Convenção Internacional sobre o Comércio de Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora), que está acontecendo em Johanesburgo, na África do Sul.

Dados incompletos

O trabalho apenas com registros de apreensões internacionais no Cites resultava em uma impressão enganosa, segundo especialistas.

A nova base de dados sobre apreensões retrata um cenário mais detalhado ao compilar registros de boa parte das apreensões de grandes macacos em situação irregular desde 2005.

“É definitivamente um número impressionante, é maior do que esperávamos”, disse Doug Cress, da organização Grasp (sigla em inglês de Parceria para a Sobrevivência de Grandes Macacos), responsável pela base de dados.

“Descobrimos que têm ocorrido em média duas apreensões por semana no mundo. Isso pode parecer pouco, mas normalmente para cada chimpanzé apanhado vivo, entre cinco e dez são mortos no processo. No caso dos gorilas, são quatro para um”, disse.

Os orangotangos são, de longe, os mais capturados. Eles respondem por 67% das apreensões realizadas pelas autoridades.

Acredita-se que a destruição do habitat natural deles em Bornéu e Sumatra seja um dos fatores que mais influenciam essa estatística. A transformação das florestas em plantações tem colaborado para que os orangotangos se tornem presas fáceis para contrabandistas.

De acordo com o levantamento, os chimpanzés representam um quarto de todas as apreensões; os gorilas, 6%, e os bonobos, cerca de 3%.

Cress afirmou que o comércio ilegal de macacos é muito ativo e se baseia principalmente no transporte de filhotes.

“Eles são traficados por rotas rápidas – o que normalmente significa transporte em bagagens de mão em aviões”, disse Cress.

Alto valor

A Indonésia e a Malásia estão no topo da lista dos países onde mais ocorrem apreensões – especialmente devido aos orangotangos. Mas diversos entrepostos de contrabando começam a emergir na África Ocidental, especialmente em países como Serra Leoa, Guiné e Camarões.

O que alimenta esse comércio são os altos pagamentos oferecidos pelos animais. Um chimpanzé pode ser vendido por somas entre US$ 25 mil e US$ 30 mil (R$ 80 mil a R$ 97 mil). Um gorila pode valer até US$ 45 mil (R$ 145 mil).

Mas, além de impactar o bem-estar dos animais e a sobrevivência de populações nativas, a atividade ilegal levanta preocupações também com a possível disseminação de doenças. Acredita-se que o HIV tenha se originado em macacos antes de ser transmitido a humanos.

Doug Cress diz acreditar que o novo método de coleta e monitoramento de dados vai ajudar no combate ao tráfico de animais.

Segundo ele, a maioria das bases de dados dos países tinha cerca de três anos de defasagem. Por causa disso, não havia agilidade suficiente para informar autoridades internacionais.

Em teoria, com o novo banco de dados será possível identificar tendências e informar a Interpol (polícia internacional) e os membros do Cites imediatamente.

A iniciativa foi feita pela Grasp em conjunto com o braço da ONU de monitoramento do meio ambiente (Unep-WCMC, na sigla em inglês).

Matéria original: http://www.bbc.com/portuguese/internacional-37514811