Costa do Marfim, África: Defensores dos Grandes Primatas
postado em 02 jul 2009

DA COSTA DO MARFIM
 
O PROJETO GAP NO PARQUE NACIONAL TAÏ

Esta é a primeira de uma série de matérias que o Dr. Serge Soiret, especialista em Ecologia Tropical, estará nos remetendo do seu posto de observação no Parque Nacional Taï, Costa do Marfim, no ocidente da África, onde convivem em vida livre dezenas de espécies de animais, incluindo chimpanzés.

Através de seus relatos, de fotos e de vídeos poderemos penetrar naquela bela floresta africana, ameaçada de extinção como toda África e os seres vivos que lá ainda sobrevivem.

Ao mostrar ao mundo, em primeira mão, um pedaço da África, alertamos sobre a necessidade de implementar projetos efetivos de proteção daquela natureza privilegiada e seus componentes, que consistem em reservas sagradas do Planeta Terra.

Defensores dos Grandes Primatas

Por Serge K. Soiret, correspondente do GAP na África

Meu nome é Serge K. Soiret e estou fazendo um doutorado em ecologia tropical no departamento de ciências biológicas da Universidade Cocody, em Abidjan (capital da Costa do Marfim) com o tema “Variações na coleta/consumo de frutas por chimpanzés no Parque Nacional Taï: variação ecológica ou cultura?” Localizado no sudoeste da Costa do Marfim, perto da fronteira com a Libéria, o parque nacional é o maior detentor de floresta tropical primária que está sob proteção.

Observações preliminares feitas neste parque revelaram uma diferença na escolha da coleta/consumo de frutas entre duas comunidades de chimapanzés selvagens Pan troglodytes verus na mesma área de floresta em Taï (1) e Djouroutou (2), que distam 60 quilômetros. Foi observado que o grupo de chimpanzés de Taï preferiram frutas dos tipos Coula edulis, Parinari excelsa e Panda oleosa, enquanto aqueles de Djouroutou incluríram na sua preferência a Sacoglottis gabonensis (3), que raramente é consumida em Taï.

O objetivo desse estudo é destacar a importância dessa diferença de comportamento na coleta e consume de frutas de duas comunidades geneticamente muito próximas. E então identificar os fatores ecológicos e culturais. Todos os meses eu saio de Abidjan para o parque, que fica a 1050 km da cidade.

No campo, eu vou com meus amigos para a floresta para observar os chimpanzés. Cada retorno à floresta demanda um planejamento, para sabermos o que vamos fazer durante o período de 10 a 20 dias e montar um acampamento que proporcione uma estadia tranqüila.

Nossas observações botânicas e faunísticas incluem estudos fenológicos e estimativas sobre a disponibilidade de produção de frutas para os chimpanzés selvagens, a partir do que vemos no campo. Nós escalamos as árvores que dão as frutas que são consumidas pelos chimpanzés e medidos o diâmetro com um aparelho que levamos no peito daquelas com 10 ou mais centímetros nos dois lados das trilhas identificadas e escolhidas. Observamos os chimpanzés de tempos em tempos, porque eles ainda não estão muito acostumados. Somente 5 machos nos deixam aproximar cerca de 5 metros e as fêmeas, mais apreensivas, são as mais numerosas do grupo.

De acordo com as observações e atividades desenvolvidas, os chimpanzés do território Djouroutou não deveriam ser considerados como um agrupamento de indivíduos. O número ainda não foi verificado, porque precisa ter um estudo detalhado para identificar o número real de componentes do grupo.

Os chimpanzés são seguidos durante seus deslocamentos diários. Os dados relativos a coleta e consumo da noz Sacoglottis gabonensis são coletados. Nós também caracterizamos as ferramentas usadas pelos chimpanzés para quebrar as frutas: o peso e a natureza dos martelos (pedras ou madeiras), a natureza das bigornas e sua posição.

 (1) A area a noroeste do parque (setor Taï) no vale Audrenisrou.

 (2) A area sudoeste do parquet (setor Djouroutou) ao sul do rio Hana, onde é minha base.

 (3) Noz presente em Taï e Djouroutou porém mais consumida em Djouroutou.