Como os chimpanzés se comunicam
postado em 10 jul 2014

Um recente trabalho de vários primatologistas da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido, publicado na revista Current Biology, mostra como um grupo de chimpanzés de vida livre, na floresta Budongo, em Uganda, desenvolveu uma linguagem de gestos, para se comunicar entre si. Os primatologistas que levaram a cabo este trabalho chegaram a desenvolver um dicionário de gestos que este grupo de 80 chimpanzés usam para se entender no dia a dia.

Para nós que convivemos com os chimpanzés em nosso Santuário de Sorocaba isso não é novidade. À linguagem de gestos, deve ser acrescentada a de atitudes, de sons, assim como, de entendimento de nossas palavras. Após vários anos de convívio entre humanos e grandes símios, a forma de comunicação entre nós é ainda mais complexa, rica em detalhes e inclui a palavra humana na mesma.

Quando eu falo com um chimpanzé, ele entende o que desejo dizer para ele, e ele geralmente me responde com um gesto ou um som, ou uma atitude. Quando o chimpanzé Luke, por exemplo, me pede para brincar com ele, ele faz um gesto apropriado, que sabe que eu já entendo. Quando eu quero que ele venha para brincar ou fazer grooming (carinho), eu falo com ele algumas palavras, já que sei que ele as entende, e as acompanho com gestos apropriados.

Através do convívio de anos, temos uma forma de comunicação muito mais evoluída que os simples gestos, observados em chimpanzés de vida livre, com pouco contato humano, já que a nossa palavra já é entendida pelos chimpanzés, assim como os sons e os gestos deles são compreendidos por nós, assim mesmo.

Quando eles desejam algo, sabem como pedí-lo, assim como também nós sabemos como pedir algo para eles, que nos vão entender de imediato. Os chimpanzés civilizados, especialmente aqueles que não têm problemas mentais, visto que foram criados desde pequenos conosco, sabem se comunicar e interagir com os humanos de seu entorno, com grandes facilidade e eficiência. Temos a nossa própria linguagem, que é uma mistura de gestos, atitudes, palavras, frases e sons. Talvez, alguns dos bebês e adolescentes do Santuário algum dia consigam aprimorar ainda mais a comunicação com os humanos, se fazendo entender com mais precisão e compreender o que nós desejamos ensinar a eles.

Como sempre falo, nós aprendemos a falar apenas 50.000 anos atrás. Os Homos primitivos se comunicavam com gestos, atitudes e sons que não eram palavras. Pouco a pouco aqueles sons se converteram em palavras e as mesmas se articularam em frases, surgindo a linguagem humana; eram seres que não falavam, porém, não deixavam de ser humanos por isso. Algo que negamos aos chimpanzés até hoje.

Aqueles que por algumas horas podem conviver conosco, no relacionamento entre humanos e chimpanzés, podem pensar que nós enlouquecemos, já que nos veem falando com eles, com palavras e gestos, e eles nos correspondem com sons e gestos.

O Santuário não é um mundo de silêncio como muitos podem imaginar. É um mundo rico em imagens, gestos, atitudes, palavras e sons; uma forma que eles e nós temos desenvolvido através dos anos, para podermos conviver e nos entendermos naquele mundo próprio e diferente de ambas espécies.

Existe também uma leitura da mente. Num recente artigo no jornal Estado de S. Paulo, o biólogo Fernando Reinach aprofunda o tema, vai da leitura labial a mental. Também é outro recurso que os chimpanzés possuem. Eles são grandes observadores e observando-nos tentam penetrar em nosso pensamento, e saber o que estamos pensando em um momento específico, ou o que desejamos transmitir a eles. Quanto mais observador é um indivíduo – seja um primata humano ou não – mais capacidade tem de ler a mente dos outros, dessa forma, entendendo e fazendo ser entendido. A leitura da mente é outra das qualidades que os chimpanzés usam  em sua forma de se comunicar tanto entre eles como conosco. Provavelmente entre eles a leitura da mente é muito mais precisa do que com os humanos. Observando-se uns aos outros, eles conseguem interpretar e antecipar as ações e desejos dos outros primatas, facilitando o convívio e a comunicação entre eles.

Muitas surpresas nos aguardam no futuro. Vamos chegar a entender que a nossa espécie não é tudo o que se pensa e que outros se assemelham mais, em todos sentidos, do que até agora estamos dispostos a aceitar.

Dr. Pedro A. Ynterian

Presidente, Projeto GAP Internacional

 

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