Vejam esta reportagem publicada no Jornal Valor, pág. F8, do dia 27 de julho: “Na gaiola, mas com enorme potencial”, onde se relata com profusão de informação estatística como o comércio de animais silvestres e exóticos prospera em nosso país, com a aprovação oficial …
Reprodução a seguir:
“Negócios
Em Goiás , criadores de aves ampliam viveiros e querem retomar exportação de animais silvestres
Na gaiola, mas com enorme potencial
Sílvio Simões Periquitos de linhagem mais nobre, como Príncipe Negro, Jandaia e a Ararajuba, podem custar R$ 4 mil por unidade
Lauro Veiga Filho Para o Valor, de Goiânia
A exploração de animais silvestres e exóticos vive fase de expansão de investimentos em Goiás . Atraídos pelas possibilidades de retorno a médio e longo prazos e por um mercado em que a demanda tem sido crescente e sistematicamente superior à oferta, um grupo de criadores chegou a realizar algumas vendas de aves para o exterior, ainda em 2005. Segundo Wilian Pires de Oliveira, consultor do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Goiás (Sebrae-GO) para a área de animais silvestres e ele próprio dono de criatório na cidade de Guapó, na região metropolitana de Goiânia, 45 curiós foram embarcados para os EUA e quase duas dezenas de araras seguiram para a China, fornecidos por diversos criadores, entre eles Oliveira e o criador Henrique Morg de Andrade, atual presidente da Associação dos Criadores de Animais Silvestres do Centro-Oeste (Acasco). A ocorrência da gripe aviária, a ausência de regulamentação e a falta de escala para atender esse mercado interromperam os embarques. Nas próximas semanas, criadores de várias regiões deverão manter uma segunda rodada de conversações com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para definir normas que regulamentem e certifiquem a atividade de exportação de animais silvestres e exóticos. Para Morg, sem uma normatização, será difícil retomar os embarques. Mas esta não é exatamente a maior preocupação para o setor no momento, que ainda prefere apostar na força do mercado doméstico, com destaque para o Sudeste, principal destino dos animais produzidos em Goiás . A atividade já é explorada comercialmente em diversas regiões, como Goiânia, Jataí, Quirinópolis. Começa a despontar ainda no nordeste do Estado, merecendo atenção especial do Sebrae-GO, que implantou em 2005 o projeto Animais Silvestres e Exóticos, destinado a organizar o setor, profissionalizar os criadores e introduzir métodos de gestão estratégica voltados para a geração de resultados, segundo Renato Gonzaga Jayme, consultor e gestor do projeto. “Nosso foco está no desenvolvimento de criadores comerciais, com maior potencial para a ampliação de empregos e da renda”, reforça ele. O diferencial representado pela exploração regular e ambientalmente correta, pois os criatórios devem estar registrados no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Naturais Renováveis (Ibama), animou Morg e Oliveira a investir na expansão de seus negócios. Dono de um plantel de aproximadamente 300 aves, alojadas em 160 viveiros em Nazário, região central do Estado, Morg montou 80 gaiolas novas e está construindo outras 50, com o objetivo não só de ampliar o plantel, mas também diversificar o criatório, com a inclusão de animais mais nobres e de maior valor de mercado. As instalações físicas deverão consumir perto de R$ 15 mil e estarão concluídas até o final do ano. As primeiras 80 gaiolas vão abrigar 80 casais de periquitos de linhagem mais selecionada, como o Príncipe Negro, a Jandaia e a Ararajuba, que pode chegar a R$ 4 mil por unidade. Os demais viveiros vão receber araras vermelhas e azuis e também papagaios. “O periquito pode gerar quatro a cinco crias por ano e tem um valor estimado entre R$ 400 ou R$ 500 por animal, enquanto a arara em geral pode ter duas crias, mas alcança ao redor de R$ 1,2 mil no mercado”, comenta Morg. Além daquelas espécies, o empresário tem planos de iniciar a criação de mutuns. Sua produção atingiu 20 filhotes no ano passado, todos mantidos no plantel. “O ideal será atingir um percentual entre 20% a 30% de nascimentos, o que permitiria incrementar o negócio”, comenta. Há praticamente dois anos não são realizadas vendas no criatório de Morg, que tem se concentrado na expansão do número de animais no cativeiro — o que significa ganhar “massa crítica” para atender à procura de forma constante. A preocupação em explorar novas possibilidades tecnológicas levou um grupo de empresários goianos, conduzidos pela Acasco e pelo Sebrae-GO, a percorrer criatórios em outros Estados em busca de experiências de sucesso na criação e reprodução em cativeiro. “Estivemos no Rio em dezembro, onde a criação de animais silvestres está mais consolidada”, afirma Oliveira. “Estávamos adotando um sistema de manejo errado. As aves não devem ter contato com o solo, para evitar contaminação. Por isso, o uso de gaiolões é mais indicado”, completa Morg. Em Guapó, próximo a Goiânia, Oliveira reservou desde 2002 metade dos 10 hectares de sua chácara para criar 450 animais , entre aves (psitacídeos em sua maioria, incluindo papagaios e araras amarelas e vermelhas), 15 pacas, outro tanto de cutias, nove emas (seis matrizes e três reprodutores), 40 marrecos das espécies Irerê e Ananaí. O plantel deverá receber mais de 50 novos animais com a expansão que vem sendo implantada desde o ano passado, a um custo estimado em R$ 10 mil. O dinheiro vem sendo investido na instalação de dois galpões novos e mais 80 gaiolas grandes, aumentando seu número para 240 gaiolões. No ano passado, vendeu 24 animais , destinados ao mercado de pets e a outros criadouros. Oliveira pretende vender entre 60 a 70 animais , entre araras e aratingas. “O plantel está alcançando sua maturidade e deverá movimentar em torno de R$ 30 mil na ‘ safra ‘ 2007/2008 (correspondente ao período de reprodução dos animais , que em geral começa em setembro ou outubro e termina em janeiro do ano seguinte)”, prevê o empresário, que também é veterinário e especialista em clínica e manejo de animais silvestres, com formação pela Universidade Federal de Goiás (UFG). O Sebrae-GO, retoma o gestor do projeto, Renato Jayme, prepara 15 novos projetos específicos para a criação de emas em Damianópolis, Sítio D’Abadia e outros municípios do nordeste goiano. Jayme prefere não antecipar detalhes daqueles projetos, que se encontram ainda em processo de implantação. Mas assegura que já há um excedente de emas no Estado. A entidade conclui, agora, a mais recente pesquisa realizada sobre o setor em Goiás , que tem 2006 como data de referência. Os números disponíveis, relativos ao levantamento realizado em 2005, com dados de 2004, apontavam a existência de 30.521 animais silvestres e/ou exóticos em 239 cativeiros legalizados, com produção média de quase 3 mil animais por ano e vendas de 2.102 mil em 2004. Eram 147 espécies, incluindo 24 mil tartarugas, 559 capivaras, 500 emas e 475 perdizes, entre outras, criados em uma área de 313 hectares.”