Ciúme e altruísmo
postado em 05 set 2007

Ciúme é um sentimento até então considerado exclusivo dos humanos. Porém, a cada dia que se passa, nota-se que não apenas esse, mas outros sentimentos “humanos” também estão presentes entre os “não-humanos”. Tal sentimento, ainda que subjetivo em sua definição pode ocorrer entre eles mesmos ou entre eles e nós. No dia-a-dia do Santuário de maneira freqüente pode-se identificar ciúme entre os chimpanzés.
Bongo, de 12 anos, demonstra sua irritação e tenta chamar atenção para si batucando na parede, quando permanecemos por mais tempo no recinto de seu vizinho Billy, de 13 anos. Se mesmo assim não formos logo visitá-lo, as batucadas se transformam em batidas acentuadas na porta juntamente com chamadas vocalizadas. E depois disso, não temos como recusar sua chamada. Por mais que tentemos argumentar, nesse momento o ciúme fala mais alto. Bongo só não reage assim quando é o primeiro a ser visitado, mas com uma condição: a de que fiquemos o maior tempo possível brincando com ele.
Com Billy Jr., de 4 anos, não é diferente. Brincando com ele pela janela de seu recinto, bem em frente ao cercado de Noel e da turma de Guga, pode-se observar o ciúme por parte daqueles que não estão tendo nossa atenção e assim desejam. Como prova disso, Noel, de 8 anos, e Emílio, de 6, arremessaram objetos (pedras, terra) em direção a Billy Jr. que, apesar de seu tamanho e idade inferiores ao dos dois, acaba ficando bravo e até revida, retrucando com arremesso dos mesmos objetos ou até mesmo de suas fezes. O mais curioso é que Billy Jr. não apenas revida, mas também defende aqueles que estão próximo a ele. Eu mesmo pude comprovar esse altruísmo (ainda que de “baixa proporção”) quando ele envolveu minha cabeça com seu braço esquerdo de maneira rápida e preocupada, tampando meu rosto, enquanto gesticulava e vocalizava de maneira firme para os agressores. No momento da agressão, Billy Jr. poderia simplesmente se esquivar para detrás da parede, mas não; ele se mantém firme em seu lugar, não apenas se expondo, mas nos defendendo.
Será que nós, seres humanos tidos como racionais, faríamos o mesmo por eles?

Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo
Santuário GAP/Sorocaba