Circos com Animais: muito além do trauma físico
postado em 07 jul 2009

Chimpanzés que vivem em condições inadequadas costumam apresentar desvios de comportamento ocasionados tanto por traumas físicos como psicológicos. De maneira geral, vemos que aqueles que vieram de circos são afetados mais pelo trauma físico, como a extração dos dentes e a castração, enquanto que os provenientes de zoológicos apresentam traumas psicológicos em função do assédio e exposição ao público.

Jeber e Tyson, porém, são duas exceções curiosas. Apreendidos em um circo, não possuem dentes e tiveram seus testículos extirpados. O que seria apenas um trauma físico tornou-se também um dos casos psicológicos mais graves que temos no Santuário. A castração e os dentes arrancados, em tese, os tornariam mais dóceis, mas o que se vê na realidade é o contrário, já que são chimpanzés extremamente agitados e imprevisíveis em seus atos. Atos esses que podem ser comparados à loucura. Afinal, o contato que tínhamos com eles e que antes era sem risco, passou a ser temido.

Assim que chegaram ao Santuário, eram carinhosos, carentes, amistosos, o que permitia uma interação diretamente pelas janelas dos recintos. Com o tempo, esse comportamento foi mudando. Talvez por perceberem que agora são livres da rotina da tortura humana e podem viver em paz, próximo aos seus semelhantes, passaram a manifestar comportamentos da natureza de um chimpanzé, com sua própria independência. As estereotipias, como o caminhar frenético de um lado ao outro, e até mesmo a coprofagia (ingestão das próprias fezes) foram reduzidas significativamente, e deram lugar ao grooming recíproco, bem como a “conversas” com seus vizinhos.

Creio que toda essa agressividade que vivenciam no momento seja uma resposta aos anos de tortura e submissão que foram submetidos nas mãos de humanos sem coração. E hoje, sabendo que não precisam mais ser escravizados podem, enfim, ser chimpanzés.

Essa é mais uma prova de que circos que se munem de animais são verdadeiras fábricas de seres mutilados e perturbados. Está mais do que na hora de se extinguir de uma vez por todas essa prática abominável e estúpida ainda presente em alguns picadeiros.

 MSc. Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo