Os chimpanzés se tornam o símbolo da luta contra a permanência de animais em cativeiro.
26/03/2018 às 17:30
Por Stefany da Costa, ANDA
Os chimpanzés mais conhecidos do mundo por terem explorados em laboratórios de pesquisa foram aposentados. Hércules e Leo chegaram esta manhã no “Project Chimps“, em tradução livre “Projetos dos Chimpanzés” um santuário de 95 hectares nas colinas arborizadas da Geórgia, nos Estados Unidos.
De muitas formas, a dupla também se tornou o símbolo de um esforço árduo e demorado para transferir centenas de chimpanzés de pesquisa sobreviventes dos Estados Unidos para refúgios de vida silvestre. A chegada deles ao Project Chimps, sugere que os planos para retirar esses animais – que vivem até 50 anos em cativeiro – podem estar de volta aos trilhos.
“Pela primeira vez, há mais chimpanzés em santuários do que em laboratórios. Hércules e Leo são representantes de um movimento que finalmente dá frutos”, diz Stephen Ross, diretor do Centro Lester E. Fisher para o Estudo e Conservação de Macacos no Lincoln Park Zoo, em Chicago, Illinois, e diretoria presidente do Chimp Haven em Keithville, Louisiana, o único santuário autorizado a resgatar os chimpanzés de responsabilidade do governo.
Os animais Hércules e Leo nasceram em 2006 no Centro de Pesquisa New Iberia, em Louisiana, laboratório que mantém o maior número mundial de chimpanzés em cativeiro. Em 2011, a New Iberia encaminhou a dupla para a Universidade Estadual de Nova York em Stony Brook. Lá, eles moravam em um recinto de três cômodos e os pesquisadores inseriam pequenos eletrodos em seus músculos para estudar a evolução da marcha bípede. Enquanto esteve lá, o “Nonhuman Rights Project” em tradução livre “Projeto Direitos Não-Humanos”, um grupo de defesa dos direitos dos animais com sede em Coral Springs, na Flórida, entrou com uma ação judicial para que os animais fossem declarados como pessoas jurídicas e se mudassem para um santuário na Flórida. Apesar dos vários apelos ao longo de dois anos, o esforço falhou e os chimpanzés foram enviados de volta para a New Iberia em 2015.
Naquele ano, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos Estados Unidos declarou que todos os chimpanzés explorados em pesquisas dos EUA estavam em perigo. Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), em Bethesda, Maryland, afirmaram que acabariam com todo o apoio para as pesquisas. No entanto, de 2015 a meados de 2017, apenas 73 chimpanzés foram levados para os santuários e quase 600 dos animais em laboratórios; metade era de responsabilidade do governo norte-americano e outra metade era mantida em instalações particulares de pesquisa. Ambos os laboratórios privados e públicos resistiram à libertação dos animais em cativeiro, argumentando que eles estavam bem cuidados onde estavam. Os santuários também não tinham espaço suficiente para todos eles. E o NIH foi criticado por não ter um plano sólido para aposentar seus chimpanzés.
Mas a aposentadoria de animais mantidos e explorados em cativeiro está ganhando força. Ontem à noite, Hércules e Leo juntamente com outros sete jovens machos que faziam parte de seu grupo social na New Iberia – foram encaminhados para o santuário na Geórgia. A equipe usou câmeras de vídeo e microfones para ficar de olho nos animais. “Se alguém está tendo uma birra, podemos parar. Geralmente é porque uma tigela de comida caiu”, explicou Ali Crumpacker, diretor executivo do Project Chimps.
Às nove da manhã, os animais chegaram ao local, onde permanecerão em uma das “vilas” do santuário – um recinto de quatro andares com escadas, balanços e redes. Dois dos mais jovens chimpanzés, Jacob e Oscar, ambos de 7 anos, entraram rapidamente. Leo foi o próximo e parecia ansioso para explorar. Hércules hesitou, mesmo quando Leo tentou persuadi-lo; os dois se sentaram juntos por um tempo e se abraçaram, informou Leslie Wade, gerente de comunicações do projeto.
Os animais passarão o próximo mês isolados dos outros 31 chimpanzés do santuário para exames veterinários para saber se estão saudáveis. Após os exames, terão acesso a um trecho de 2,5 hectares das Montanhas Blue Ridge, onde poderão escalar árvores e eventualmente se socializar com outros chimpanzés.
Ali Crumpacker admite que a transferência é muito estressante para os animais. No entanto, os animais terão oportunidades como o acesso ao ar livre e a chance de viver em grupos sociais mais complexos, como acontece na vida selvagem.
Crumpacker afirma que as finanças do santuário estão difíceis e o projeto depende completamente de doações. Ela também ressalta que o projeto está a caminho de construir recintos suficientes e habitats ao ar livre para abrigar os 173 chimpanzés remanescentes da New Iberia dentro de 5 anos.
De acordo com a organização “Chimp Heaven”, em tradução livre “Chipanzés do Céu”, animais do governo estão sendo aposentados e trinta e três entraram no santuário desde o verão passado, com mais seis chegando esta semana. Durante o mesmo período do ano passado, apenas 11 animais chegaram a Chimp Haven. O NIH paga 75% dos cuidados com esses animais, mas o santuário está trabalhando para arrecadar US $ 20 milhões para uma expansão que espera abrigar cerca de 200 chimpanzés do governo dentro de 3 anos. “Quando tudo isso se soma, estamos chegando perto do fim”, diz Ross.
Conforme o vice diretor do NIH, James Anderson, nem todos os chimpanzés chegam a um santuário pois alguns são idosos ou frágeis demais para serem movidos. “Estamos comprometidos em movimentar o máximo que pudermos”, afirmou Anderson.
“Fico feliz em ouvir Hércules e Leo estão saindo da New Iberia. Estou muito feliz em vê-los deixando um centro de pesquisa. Eu gostaria que todo primata pudesse”, declarou Steven Wise, fundador e presidente do Nonhuman Rights Project. A Save the Chimps, em tradução livre “Salve os Chipanzés”, é uma organização sem fins lucrativos sediada em Fort Pierce, na Flórida, onde mais de 200 animis vivem em 12 ilhas na costa leste da Flórida, cuja organização está atualmente considerando lançar processos para o resgate para chimpanzés, elefantes e orcas em outros estados.
Fonte:
https://www.anda.jor.br/2018/03/chimpanzes-viverao-em-um-santuario-apos-anos-de-exploracao/