Já os vimos utilizando ferramentas de muitas maneiras diferentes por todo o continente africano — ora a partirem nozes com pedras e tirar o miolo lá de dentro, ora a raparem as folhas de um galho para apanhar formigas, ora a beberem água por uma folha, ou até a transformarem os ramos de uma árvore em lanças, que usam como armas de caça. Mas nunca os tínhamos visto cortar a comida em pedacinhos, e é isso que agora uma equipe de cientistas relata na revista “Primates”.
Os protagonistas desta novidade são os chimpanzés dos Montes Nimba, na fronteira entre a Libéria, a Costa do Marfim e a Guiné-Conacri, a seis quilómetros de uma estação de investigação gerida pelo Japão, na povoação guineense de Bossou, onde há mais de 30 anos a comunidade de chimpanzés que também existe na floresta ali em redor tem sido estudada.
Kathelijne Koops, estudante de doutoramento de William McGrew, do Centro de Estudos Evolutivos da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, investiga o uso de ferramentas pelos chimpanzés da floresta dos Montes Nimba enquanto procuram comida.
“Ao longo de África, os chimpanzés variam bastante no tipo de ferramentas que utilizam para obter comida. Alguns grupos utilizam pedras como martelos e bigornas para partir nozes, enquanto outros utilizam varas para caçarem térmitas”, disse Kathelijne Koops à BBC online. “Por exemplo, a quebra de nozes na comunidade de chimpanzés de Bossou envolve o uso de martelos e bigornas móveis e, às vezes, de um calço para tornar a bigorna mais nivelada e assim mais eficiente.”
Agora, Kathelijne Koops, William McGrew e Tetsuro Matsuzawa – diretor da estação de Bossou, gerida pelo Instituto de Investigação de Primatas da Universidade de Quioto, no Japão – relatam a descoberta de um novo uso de ferramentas: os chimpanzés servem-se de cutelos de pedra e madeira para cortar os frutos da fruta-pão africana (“Treculia africana”), em vez de baterem com eles contra uma rocha para os abrir.
Nos Montes Nimba, aqueles frutos atingem o tamanho de bolas de voleibol e ultrapassam os 8,5 quilos, escrevem os cientistas no artigo: “São densamente fibrosos e sólidos, mas não têm uma casca dura. O tamanho grande e estrutura densa destes frutos esféricos podem dificultar dar-lhes uma dentada, pois excedem a abertura máxima da boca dos chimpanzés.”
Por isso, eles colocam-nos em cima de rochas fixas ao chão, que funcionam como bigornas, e com os cutelos cortam-nos em bocados que já cabem na boca.
Jornal Público – Portugal – autoria de Teresa Firmino