Depois de mais de um ano de trâmites burocráticos de importação, um casal de chimpanzés que vivia em situação precária, numa pequena jaula, num zoológico particular de Israel chegou ao Brasil. Na noite desta quinta-feira, 15/10, o macho Mizrachi, de 24 anos, e a fêmea Katty, de 35, chegaram no Santuário do Paraná do Projeto GAP, na cidade de São José dos Pinhais, onde terão a chance de compartilhar o dia-a-dia com outros chimpanzés num ambiente adequado e com todos os cuidados e acompanhamento necessários.
Há cerca de dois anos o Projeto GAP foi contactado por uma fundação israelense que trabalha com primatas (Israeli Primate Sanctuary Foundation) e tinha identificado o caso dos chimpanzés no zoológico. Após várias conversas e negociação, a viagem internacional foi viabilizada. A escolha do Santuário do Paraná seu deu pelo fato deste ter uma área de quarentena já aprovada pelas autoridades do país para abrigar os chimpanzés durante 30 dias, antes da transferência para o recinto definitivo. Esta é uma exigência do Ministério da Agricultura brasileiro para importação de primatas.
“A função do GAP é proteger os grandes primatas onde quer que eles estejam. Na realidade faltam lugares apropriados no mundo para manter chimpanzés, santuários adequados para abrigar grandes primatas. Quando recebemos um contato desse tipo pedindo ajuda e conseguimos viabilizar, abrigamos os chimpanzés. Os santuários afiliados ao GAP têm esta função também e tanto o projeto como as autoridades brasileiras entendem que o país pode oferecer esta colaboração internacional”, explica Pedro A. Ynterian, Presidente do Projeto GAP Internacional.
Além dos dois chimpanzés de Israel, os santuários do projeto GAP já abrigam primatas vindos de Portugal. Bolívia, Holanda e Bélgica.
"O pedido para recebermos os chimpanzés que estavam em situação precária em Israel chegou em abril de 2008. De lá pra cá iniciamos todos os procedimentos burocráticos e finalmente hoje, por volta das 21hs, conseguimos colocá-los no recinto de quarentena. Desde o aeroporto eles já surpreenderam. Depois de um vôo de mais de 16 horas e outras tantas de espera nas caixas para serem embarcados, ainda teriam mais de 12 horas entre aguardar o desembaraço e chegar ao destino. Estavam famintos e sedentos e por isso tentamos de todas as formas autorização para tratá-los assim que chegaram.
Fomos dar um suco com um canudinho através dos orifícios de ventilação das caixas enquanto não eram providenciadas as ferramentas para abri-las, mas rapidamente a fêmea puxou o canudo e o destruiu. Tentamos mais uma vez e de novo o canudo foi puxado para dentro. Gesticulamos mostrando que sem o canudo seria impossível fornecer o suco. Então, surpreendentemente, ela jogou o canudo para fora para que pegássemos e, desta vez, sugou os líquidos sem puxar o canudinho.
Assim que saíram das caixas de transporte entraram nos recintos e deram gritos de medo, talvez estranhando o novo local. Mas bastou alguns minutos para que começassem a percorrer o local, subir e descer por todo o recinto, explorando os espaços, se maravilhando com o que viam. Não demorou e já estavam rindo, brincando um com o outro e até fazendo ninhos com os cobertores. Deixamos a quarentena para que eles pudessem descansar, com a certeza de que esta será a primeira noite de uma vida feliz, cheia de carinho e amor, longe da exploração a que eram submetidos.
Eu gostaria de agradecer à Adelina, que está sempre apoiando nas horas mais complicadas, ao médico veterinário Paulo Vinicius Bastiane, que num momento crucial soube ter atitudes firmes, ao apoio recebido do funcionário da Infraero Sr. Felipe e da Dra. Marlene da fiscalização agropecuária. E ainda a todos que de uma forma ou outra cooperaram para tornar possível mais este resgate."
Selma Mandruca, Presidente do Projeto GAP Brasil, em 15/10/2009