Chimpanzé de Niterói está no centro de disputa judicial
postado em 01 fev 2010

Flávia Salme, Marcelo Fernandes, Jornal do Brasil

RIO – Tranquilo, festeiro e apaixonado por futebol (veste a camisa do Flamengo), o chimpanzé Jimmy está no centro de uma polêmica que circula no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Após 13 anos sob tutela da Fundação Jardim Zoológico de Niterói (Zoo- Nit), a ONG GAP – Projeto de Proteção aos Grandes Primatas (Great Ape Project, em inglês), luta para que Jimmy deixe a jaula de 110 metros quadrados do zoo e passe a viver livremente em um santuário ecológico na cidade de Sorocaba, no interior de São Paulo, junto com outros 50 primatas. Ah, e em um recinto de, pelo menos, mil metros quadrados, garante.

A Justiça, no entanto, ainda não formou uma opinião sobre o melhor futuro para Jimmy. Em 14 dezembro do ano passado, advogados da GAP – com o respaldo de 29 apoiadores (entre ONGs, primatologistas, advogados e pessoas comuns que acham que o macaco tem que ser livre) – pediram um habeas corpus para tirar o animal de trás das grades. Cinco dias depois, no entanto, o juiz Carlos Eduardo Freire Roboredo, da 5ª Vara Criminal de Niterói, indeferiu o pedido. Ou seja, Jimmy permanece enjaulado.

Troca de acusações

Os defensores dos primatas recorreram. Aguardam o julgamento na segunda instância e garantem: se não conseguirem libertar Jimmy, vão recorrer ao Superior Tribunal Federal (STF).

Para Giselda D’Amélia Cândido, diretora-presidente do Zoológico de Niterói, será tudo perda de tempo:

– O Jimmy não vai sair daqui. A ONG nos acusa de maltratar o animal. Basta ver o Jimmy para perceber que isso não acontece. Somos uma instituição do poder público, ou seja, temos recursos permanentes e fiscalização constante do Ibama. Eles são da iniciativa privada, como saberemos que tipo de tratamento vão dar ao animal? – questiona – Além disso, desconfio que o interesse do GAP no Jimmy seja financeiro. Um chimpanzé custa caro mundo afora. Estamos cheios de macacos-pregos aqui, por quê não os levam? Só querem o Jimmy.

A GAP rebate. E com o mesmo argumento:

– A única razão para manter o Jimmy no zoológico é financeira, ele atrai visitantes. Se tivessem amor pelo animal, deixariam-no viver livre. Tenho 50 chimpanzés no meu santuário, todos livres, espalhados em 150 mil metros quadrados. Não dependo nem aceito verba pública. Financio tudo com recursos próprios, do meu bolso – conta o microbiologista e empresário Pedro Ynterian, presidente do projeto GAP Internacional.

Enquanto a batalha judicial segue seus trâmites, o superintendente do Ibama no Rio de Janeiro, Adilson Gil, afirma que não há nada de errado nas instalações do Zoo-Nit. Ele, no entanto, garantiu que novas vistorias serão feitas no local. Procurado, o prefeito Jorge Roberto Silveira não se manifestou sobre a disputa.

Animal viveu o estrelato na TV e viu seu circo falir

Jimmy já foi uma das principais atrações do falido Circo Itália, de Belo Horizonte (MG). Quando criança, foi macaco-propaganda, e chegou a beijar a apresentadora Angélica em um comercial de refrigerantes. Encantou multidões no picadeiro até o fim das apresentações. Depois, amargou 10 anos dentro de uma minúscula jaula, até ser doado para o Zoológico de Niterói.

– O Jimmy foi criado em circo, gosta de público. Nos dias de visitação, ele nunca se estressa. É um animal muito carinhoso, temos vínculos – afirma o ex-garçom Luiz Carlos da Silva, 51, que há um ano e quatro meses cuida do chimpanzé.

De acordo com a diretora-presidente do Zoo-Nit, Giselda Cândido, cerca de R$ 500 são gastos mensalmente para garantir a melhor alimentação para Jimmy, que tem 26 anos e faz duas refeições diárias.

– De manhã, ele come frutas, tomates e verduras. Adora tomate. Depois, bebe uma vitamina de leite, farinha láctea, flocos de cereais, aveia e açúcar cristal, tudo na mamadeira. Se esse pessoal da ONG me processar por maus tratos, entro com uma ação por calúnia e difamação – dispara.

O presidente do GAP internacional, Pedro Yenterian, afirma que não há vínculos entre Jimmy e os tratadores do Zoo-Nit, e assegura que o melhor para o animal é ser criado livremente, longe de jaulas:

– Jimmy não vai sentir saudades dos tratadores. O que há entre eles não é amizade, é dependência. Na cabeça do animal, se ele não agradar o tratador, não ganha a comida – garante Pedro, um cubano de 70 anos, há 25 no Brasil.

Especialista defende liberdade para o chimpanzé

O único ponto de comum acordo entre os dois lados em disputa é o fato de chimpanzés serem animais sociais, porém, cada um tem uma maneira diferente de lidar com essa questão. A diretora do Zoo-Nit espera receber a doação de uma fêmea de um circo de São Paulo.

– De qualquer forma, é um procedimento lento. Inicialmente, eles ficam em jaulas separadas, e só depois de um ano se conhecendo e com o aval de especialistas, eles iriam conviver na mesma jaula, senão, poderia ocorrer de um matar o outro – explica.

Na opinião dos membros da ONG, isso iria apenas aumentar o número de animais enjaulados.

– Nós entendemos que qualquer animal tem direito à liberdade e à integridade física. O argumento que ele não se adaptaria é furado. Temos diversos especialistas que ajudariam no tratamento e adaptação dele – retruca um dos advogados da ONG, André Lourenço.

Para a pesquisadora e especialista em primatologia, Zelinda Braga Hirano, a melhor opção para um chimpanzé é viver em liberdade com os seus iguais.

– O Jimmy é um animal social, e seres sociais não podem estar bem sozinhos. Não conheço o tratamento que ele recebe no zoológico, mas é preciso dar uma chance a ele de conhecer outros animais. Acredito que o melhor para primatas seja realmente viver em lugares aberto, logicamente depois de um trabalho de adaptação, com seres da mesma espécie – conclui a pesquisadora.

17:37 – 30/01/2010
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/01/30/e300118894.asp

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https://www.projetogap.org.br/pt-BR/noticias/Show/2742,novo-habeas-corpus-a-favor-de-jimmy-e-impetrado-no-tjrj