Chico: após 40 anos, sem um lar
postado em 24 nov 2011

SANTUÁRIO DE SOROCABA

A sorte dos macacos-pregos brasileiros (Cebus apella) não é de dar inveja a ninguém. Apesar de serem um dos primatas mais inteligentes do universo, poucos humanos lhe dão abrigo quando estão em dificuldades.

O caso de Chico Bento é emblemático. Morou 39 anos na casa de uma família humilde em Osasco. Seu proprietário era um motorista de caminhão que possivelmente deve tê-lo comprado de alguém na beira da estrada, quando nem o IBAMA existia e o Brasil era uma terra sem lei, no caso da fauna.

Seu proprietário morreu no ano passado e Chico foi tratado pela esposa e o filho do casal. Porém, nunca aceitou a morte de seu dono. Ficou deprimido. Alguém denunciou à Justiça a sua existência numa casa de família sem amparo legal.

Chico nunca foi examinado por um veterinário, era alimentado com a comida da casa, como se fosse um integrante a mais da família. Inclusive, quando faziam churrasco no fim de semana, ele também participava. A Delegacia de Polícia do bairro abriu um inquérito e a família foi multada em R$ 2.500,00 pela posse de Chico sem permissão dos órgãos ambientais.

A Justiça determinou o seu confisco e o envio a alguns centros de resgate. Todos os consultados não aceitaram recebê-lo por estarem super lotados. Nós fomos procurados por Vera Lúcia Dias de Carvalho, escrivã da Delegacia Ambiental de Osasco, e atendemos de imediato ao pedido.

Dias mais tarde, duas semanas atrás, Chico foi entregue ao Santuário de Sorocaba. Ele está muito assustado, não sai de seu dormitório, na quarentena que está alojado até fazer todos os exames de saúde necessários. Como nunca foi tratado, já achamos uma super população de parasitas em seu sistema intestinal e estamos tratando.

Chico é nosso macaco prego nº 60. Talvez, nos últimos anos de sua vida possa ter a chance de ser integrar aos seus iguais e viver como um primata e não mais como um humano. Talvez Chico esteja entre os recordistas de idade, já que os registros de anos de vida de macacos-pregos que conhecemos não ultrapassam os 40 anos de idade.

Chico agora ganhou um lar e dezenas de companheiros barulhentos, que o acordarão para vida que nunca teve a chance de ter. Bem vindo, Chico!

Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional