ZOOLÓGICO DE OREGON
Edward Miller era um minerador que atuava na fronteira de Serra Leoa com a Libéria, no ocidente africano, em 1970. Um dia viu um grupo de humanos carregando um bebê chimpanzé – a mãe deveria ter sido assassinada horas antes. Ele não hesitou, fez uma oferta e o comprou. Em 1972 estava de volta aos Estados Unidos com sua família e terminou entregando o bebê, que tinha chamado de Charlie, ao Washington Park Zoo, em Oregon.
Katie McKensie, uma recepcionista com estudos de antropologia, tinha feito a proposta ao diretor do zoológico da época de formar um grupo com os chimpanzés órfãos que tinham, incluindo o Charlie, para ensinar a linguagem dos sinais. O diretor surpreendentemente aprovou o projeto.
Dave Thomas, recém-graduado de psicologia na Universidade Willamette, viu pela TV o projeto que começava no Zoológico de Oregon e se registrou como voluntário do mesmo em 1973.
Dias atrás, 36 anos depois de tomar aquela decisão, e de terminar como tratador chefe do zoológico, Thomas chorou a morte de seu grande companheiro de todos estes anos. Em uma tarde de setembro Charlie caiu fulminado por um possível ataque cardíaco frente ao público no zoológico, onde praticamente morou a vida toda e aprendeu tudo sobre a civilização humana.
Charlie era reconhecido como o Príncipe do Zoológico, como o reconhece o veterinário Mitch Finnegan, que interagia com ele constantemente. Thomas ainda não recuperado da morte do amigo Charlie, que pensava que veria a ele morrer, e não o contrário, reconheceu que: “eu posso honestamente dizer que Charlie foi uma pessoa que mudou a minha vida realmente.”
Charlie, anos atrás, arrancou a ponta de um dedo da mão do diretor do zoológico, que a tinha deixado distraidamente em contato com o primata. Ninguém explicou o motivo daquele gesto, ou também entendeu por que Charlie entrou em profunda depressão quando percebeu o que tinha feito, vendo o sangue escorrendo pela mão do chefe do zoológico. Durante mais de um mês ele se mostrou arrependido e não entendia como aquele acidente tinha acontecido.
Charlie vivia com quatro fêmeas. Uma delas, Coco, de 57 anos, tinha lhe dado vários bebês. Quando as fêmeas perceberam que Charlie tinha caído fulminado começaram a gritar desesperadas, sem entender o que tinha acontecido.
Um fato interessante que o veterinário conta foi a visita da tratadora Marianne Youtter Curimgton, 10 anos depois de ter ido embora do zoológico. Quando Charlie a viu, no meio dos visitantes, a reconheceu de imediato e pediu desesperadamente para ela visitá-lo no cambeamento, como ela fez durante anos quando era tratadora do zoológico.
Charlie deixará saudades, não só em suas companheiras chimpanzés – Coco, Delilah, Leah e Chloe – mas em todos os que o conheceram e interagiam com ele. Em especial seu grande amigo Dave Thomas, que aprendeu a amar este ser extraordinário e a respeitá-lo como ninguém.
Dr. Pedro A Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional