Centro dos Grandes Primatas
postado em 25 jun 2012

Muitos devem saber que a origem do nome Orangotango é da Malásia e significa “pessoa da floresta”. Orangotangos são achados apenas no sudeste da Ásia, nas ilhas de Sumatra e Borneo, e são divididos em duas espécies: os orangotangos de Borneu (Pongo pygmaeus) e os orangotangos de Sumatra (Pongo abellii). Orangotangos compartilham 96,7% do nosso DNA e são comprovadamente os mais inteligentes dos grandes primatas, mas tristemente eles estão na lista das espécies mais ameaçadas.
Pesquisa, reintrodução, proteção do habitat e educação ambiental são pontos chaves no processo de assegurar o futuro destes grandes primatas. É imperativo que saibamos o máximo possível sobre a espécie para assegurar a sua sobrevivência. Enquanto iniciativas para aprimorar e expandir a proteção de áreas de conservação são vitais (e uma prioridade), tem ainda outro problema: cuidar dos primatas que não têm chance de voltar para o habitat natural.
A melhor alternativa disponível para alguns é um bom ambiente de cativeiro. Embora não seja o ideal, alcançar esta condição é um problema enfrentado por santuários no sudeste da Ásia e em outros lugares.
“Em 2001 eu tomei conhecimento de um santuário que estava tentando oferecer uma boa oportunidade de moradia para cinco primatas abandonados. Santuários não são incomuns, pequenos, mas este parecia diferente. Eu fui uma felizarda de ter tido a chance de passar um mês no Centro dos Grandes Primatas, em Wauchula, na Flórida, Estados Unidos. O objetivo do centro é proporcionar um santuário permanente para orangotangos e chimpanzés que se aposentaram da indústria de entretenimento, de laboratórios de pesquisa ou que são “pets” não mais desejados. Desde esta minha primeira visita, o centro cresceu em tamanho e agora abriga 44 grandes primatas, 15 orangotangos e 29 chimpanzés; o centro aumentou o número de recintos, quartos para noite, ganhou um centro de saúde e até uma área desenhada especialmente para as necessidades especiais de primatas paraplégicos, como um jovem chimpanzé com paralisia cerebral. Ficando sem visitar por quatro anos, fiz uma viagem ao centro em fevereiro deste ano para ver algumas das muitas mudanças e conhecer alguns dos novos hóspedes.
O centro existe por causa de sua fundadora, Patti Ragan. Em 1984 ela experimentou, pela primeira vez, trabalhar com estes grandes primatas em Borneo, sendo voluntária um projeto de reabilitação de orangotangos. Ragan, que vivia em Miami naquela época, foi depois requisitada para tomar conta de um orangotango de 4 semanas de idade em um parque. Acreditando que o bebê iria depois viver com outros orangotangos em um zoológico associado a AZA (Associação norte-americana de zoológicos e aquários), ela ficou decepcionada ao saber que o dono iria encaminhá-lo para um treinador para trabalho em circo. Felizmente o dono concordou e deixou Ragan achar um ambiente de cativeiro adequado, mas logo ela descobriu que os melhores zoológicos não aceitariam um orangotango misturado (orangotango de Borneo com orangotango de Sumatra). Com a esperança de que alguém montaria um santuário para orangotangos que não poderiam ir para zoológicos americanos (ou serem reintroduzidos na natureza), Ragan decidiu montar montar uma organização sem fins lucrativos. Diante disso, foi requisitado que ela cuidasse de um chimpanzé criança que estava para ser vendido para trabalhar como atração turística na Universal Studios, em Orlando; o santuário estava agora cuidando dos dois grandes primatas. Depois de anos procurando, Ragan achou um lugar acessível, e exequível, em Wauchula, uma pequena comunidade rural no centro sul da Flórida, originalmente com 15 acres de florestas com espécies como carvalhos, pinus, magnólia, palma, salgueiro, bambus, mangueiras, bananeiras e outras árvores de frutas exóticas. O santuário agora crescer para mais de 100 acres.
Minha visita este ano foi depois de um mês das mais novas chegadas ao santuário, Popi e Allie. Estas duas orangotangos adultas chegaram do Great Ape Trust, em Iowa, um centro de pesquisas científicas que conduz estudos cognitivos, mas que o foco principal agora é bonobos (Pan paniscus); então um novo lar foi necessário para Popi e Allie. Eu estava muito ansiosa para saber mais sobre elas e saber como elas estavam se adaptando ao seu novo ambiente. Todos os chimpanzés e orangotangos do centro vivem em santuários de três andares, que proporcionam espaço suficiente para correr e altura para balançar. Os ambientes têm uma grande variedade de estruturas para escalar e balançar, assim como numerosos aparelhos de enriquecimento ambiental. Ainda assim, o que é único do centro é o sistema do túnel elevado que cruza por quase dois quilômetros (a uma altura de 5.300 pés) a área da propriedade. Este sistema liga todos os recintos e permite que aos primatas a liberdade para correr na floresta. É impressionante como um santuário sem fis lucrativos relativamente pequeno consegue proporcionar um sistema que pode ser considerado superior a outros ambientes de cativeiro considerados maiores e com mais recursos. Um ambiente de cativeiro pode se tornar, rapidamente, tedioso para um grande primata; assim, é prazeroso testemunhar a sensação de liberdade que este sistema proporciona.
Popi (a fêmea mais velha) rapidamente se instalou no seu novo ambiente. Por muitos anos ela pertenceu ao treinador de circos Bobby Berosini. Berosini usou orangotangos em seus shows de palco em Las Vegas nos anos 80 e já tinha ida ao tribunal algumas vezes por conta das evidências registradas de abuso desses grandes primatas. Popi foi o centro do que foi considerado o primeiro caso de bem-estar animal que fez crescerem críticas quanto ao tratamento dado aos grandes primatas na indústria do entretenimento. Depois de muita comoção pública, os orangotangos de Berosini foram adquiridos por uma empresa da Califórnia, que oferecia animais para filmes e shows de TV. Popi viveu nesta empresa por mais de uma década, até ser levada para o Great Ape Trust, em 2008, sua casa antes do Centro dos Grandes Primatas, na Flórida.
A outra orangotango, Allie, nasceu no Laboratório de Pesquisa com Primatas Yerkes, em Atlanta, e depois foi enviada para o zoológico de Denver com sua mãe, quando ainda era uma criança. Quando ela tinha seis anos, sua mãe morreu de forma inesperada e logo depois Allie desenvolveu uma doença que a deixou paraplégica. Ela não pode usar suas pernas para andar, mas se locomove puxando os braços. Eu estava presente quando outra orangotango, chamada Mari, que não tinha os braços chegou ao centro; então eu já sabia que o lugar tinha experiência para cuidar destes indivíduos especiais.
Atualmente Popi e Allie estão numa nova casa de dormir, mas o centro está trabalhando duro para levantar recursos para concluir a construção de uma área aberta. O objetivo é dar a elas a opção de terem novos companheiros; há 13 orangotangos no centro.
Não há dúvidas que a pesquisa, a reintrodução, a proteção do habitat e a educação ambiental são extremamente importantes para termos a chance de aprendermos mais sobre os orangotangos. É fácil de entender porque as pessoas questionam os altos recursos demandados para manter primatas em cativeiro. Os cuidados com esses indivíduos, como estes do centro, são extremamente caros. No entanto, há uma necessidade real de proporcionar ambientes de cativeiro que tenham as condições mínimas para atender as necessidades físicas e psicológicas daqueles grandes primatas que não tem outra alternativa. É gratificante que o centro consiga oferecer um ambiente que mantenha estes primatas e ofereça a eles uma base para a vida. Para ler mais sobre o centro, visite www.centerforgreatapes.org .
Victoria Smith MSc

Dedicado a Tina Gilbert-Schenck, Gerente de Operação do Centro dos Grandes Primatas, que faleceu durante a edição deste artigo.

Fonte:
http://www.linnean-pulse.org