Por Dra. Maria Rosa Sarto
Bom dia amigos. Meu nome é Cecília, uma chimpanzé, e nasci no zoo de Mendoza, Argentina.
Sabe, eu não sei muito bem minha origem, porém tinha a companhia de minha irmã, Xuxa e de Charly, desde que nasci. Convivo com meus semelhantes e com uns bípedes que se chamam por humanos. Minha realidade é minha casa. Vivo em um local simples, mas minha visão não para nas cercas.
Vejo pequenos seres correndo, sorrindo e mesmo, querendo me dar comida. Obrigada. Eu penso sabe? Acho que eles desconhecem. Eu sonho. Eu vivo. Por vezes, entendo que eles me tratam como igual.
Fiquei muito triste quando, primeiro em julho de 2014, perdi a companhia de Charly. Era um amigo e amigos a gente sempre quer junto. O pior, foi depois, poucos meses, perder minha irmã, Xuxa. Aí foi o fim.
A melancolia se instalou. Eu era só eu. Havia os bípedes que me tentavam animar. Eu, estava desistindo de viver. Aqueles, falavam em doença, uma coisa que diziam ser depressão. Eu não conseguia mais olhar a flor com cores. Perdera até com quem conversar. Brincar era algo distante. Restava a lembrança.
Eu desconhecia. Desconhecia que humanos lutavam por mim. Há bípedes bem intencionados. Eles são mais complicados, era só pegar em minha mão, abraçar e transpor os limites me levando para onde os meus existem. Aliás, eu nem sabia se existem ainda. E existem.
Bom, depois de quase um ano, tenho 19 anos dos que vocês bípedes chamam de tempo; me tiraram de casa e me levaram para um lugar bem mais agradável. Nossa, tem semelhantes meus. É grande, bem maior que minha antiga casa.
Tinha muitos bípedes quando cheguei. Me olhavam muito, fiquei um pouco envergonhada. Eu os ouço mas não entendo tudo. Vejo que querem meu bem. Gostaria de agradecer. Mesmo que seja pouco, queria dizer obrigada.
Parece que houve o que chamam de processo judicial. Uma juíza, quase um ano dos bípedes, e ganhei um tal “habeas corpus “. Humanos complicados. Falam de Argentina, onde era minha casa. Estou agora em Sorocaba/SP, Brasil. Para mim, é só um lugar. Um bom lugar. Com amigos. Seja de qualquer espécie.
Bem. Não podem me visitar pois os meus cuidadores querem preservar nossa natureza de primatas que somos. A minha casa agora se chama Santuário. Eu? Eu chamo de carinho.
Agradeço a todos os envolvidos. Pensem sempre no respeito. Alguns estão me chamando pelo meu nome, Cecília.
Os meus cuidadores chamam-me de JUSTIÇA. Não tenho preferência. Só compaixão e palavras de gratidão.
Obrigada Dr. Pedro Ynterian. Abraço também para Dra. Maria Alejandra Mauricio, e Dr. Pedro Pozas Terrados. E tanto outros. Espero que eu seja uma luz no combate ao especismo. Somos iguais. Somos vida. Não importa cor, asa, pata, ou qualquer membro. Fazer o bem faz bem.