Catarina esquecendo o passado
postado em 13 maio 2009

SANTUÁRIO DE SOROCABA

Catarina é o chimpanzé mais humanizado que já recebemos de circos. Porém, em duas semanas no Santuário suas origens estão voltando ao seu cérebro e seu comportamento mudando. A Dra. Camila foi fotografá-la com uma câmera, e ela ficou furiosa e agressiva. O mesmo aconteceu com Hulk meses atrás, após a cirurgia quando conseguiu enxergar, levamos câmeras para filmá-lo e ele ficou irritado e agressivo. Até hoje isso acontece. As câmeras simbolizam para estes chimpanzés, que foram explorados em espetáculos de entretenimento, a volta ao passado que odeiam e rechaçam.

Catarina hoje anda constantemente por seu recinto de mais de mil metros quadrados, e sobe de vez em quando no brinquedo que fica encima da casinha, que aparece na foto, para enxergar grande parte do Santuário, e observar outros chimpanzés à distância.

Ela fica o tempo todo nas janelas, procurando outros chimpanzés, desde o grupo de Guga que está na cerca elétrica contígua, como de Hulk que fica em outra cerca a poucos metros dela. Do outro lado, está um recinto com três machos jovens: Tião, Noel e Carlos. Lá é pura testosterona juvenil, com brincadeiras e vocalizações muito freqüentes. Ela fica acompanhando-os pelas janelas.

Catarina é seletiva na comida. As frutas que mais lhe agradam são uvas, pêra, maçã, banana e caqui; gosta também de gelatina, assim como de sucos de frutas diversos. Ela pega a comida na bandeja do refeitório e leva para a casinha que está no centro do recinto, e ali vai comendo. Às vezes senta na grama e apanha algumas plantas rasteiras para comer o caule delas. À tarde quando os tratadores fazem a limpeza do quarto, vai até alguns deles e pede que acaricie partes de suas costas.

No fim de semana passado, cheguei para colocar a primeira refeição às 7:00 h e ela veio ao meu encontro, estendeu a mão, eu a beijei, ela pegou algumas frutas e foi comer sua primeira refeição em sua casinha, deitada na rede que tem em seu interior.

Catarina agora tem um só temor na vida, é voltar ao passado, e ser um objeto de exploração comercial de humanos, o que experimentou por mais de 30 anos, e que sem dúvida – como ser inteligente que é – não tem saudade.

Dr. Pedro A Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional