Carta de apoio do professor Celso Martins Pinto ao mantenedouro de fauna exótica Pedro A.Ynterian, afiliado ao Projeto GAP
postado em 12 ago 2016

Prezados e/ou Caríssimos Colegas da SZB,

Demorei para me expressar sobre o incidente que ocorreu em um dos “santuários” do GAP para poder ouvir as pessoas e saber da realidade dos fatos. Foi mesmo uma ocorrência grave, na qual a tratadora saiu muito ferida. Só quem já teve esta experiência da fuga de chimpanzés sabe do que se trata. Tive que lidar com isso por 2 vezes em condições muito adversas. A exposição e os riscos são enormes. Na minha opinião, é a espécie mais perigosa em fuga devido à agilidade e raciocínio elaborado, nada linear e absolutamente dissimulado.

Conheço este mantenedouro de fauna (prefiro mesmo chamar assim) há vários anos. Tenho ex-alunas Veterinárias que trabalharam muito tempo por lá e mantenho excelente relação com esta ONG. Foi graças a este espaço que os 15 chimpanzés do extinto circo Garcia (alguém ainda é favorável a presença dos animais em circos?) receberam a devida e adequada acolhida, dentre muitas outras situações de encaminhamento. Alguma instituição pública poderia fazer isso? Sabemos que não. A situação da manutenção em cativeiro de animais mutilados e transtornados tem mudado nos últimos anos muito graças ao trabalho da educação ambiental, mas, podemos dizer, a grande maioria dos zoológicos ainda se recusa a expor um chimpanzé sem um braço ou que tem graves sequelas comportamentais e fica a maior parte do dia escondido em algum refúgio do recinto (quando tem…). Nisso estes mantenedouros fazem o seu papel, constatação. Esta “lenda” sobre o que tem lá dentro, muito antiprofissional, é absurda. Posso dizer com amplo conhecimento desta causa.

A polarização das opiniões que tenho lido surgiu muito em função dos comentários dos responsáveis desta instituição contrários à exposição dos animais em zoológicos para o entretenimento, porém precisamos admitir que a convergência de interesses destituídos de vaidades ou corporativismo, em prol da fauna, é o caminho. Não concordo com esta posição e nem por isso deixo de frequentar e apoiar este trabalho. Assustadora é a predisposição anárquica da micro-mídia. Muito me preocupou ver a falta de comentários solidários à tratadora atacada. Muito me preocupou não ver algum gesto de apoio às colegas Veterinárias e Biólogas, que são como todos nós, que passam pelos mesmos “perrengues” e plantões, com sol e chuva, com funcionários assim e assado. E amanhã, lá mesmo, poderá ser eu, você ou seu melhor colega. E, parafraseando este tema, “cada macaco no seu galho”, CETAS, CRAS, áreas de soltura, mantenedouros, criadouros, zoológicos ou seja qual categoria nos encontremos, esse mundico vai nos juntar, espero que em melhores assertivas.
Prof. Dr. Celso Martins Pinto, CRMV-SP: 5621, Setor de Animais Silvestres dos HOVETs UNISA e Metodista