Prezado Sr. Diretor,
O Projeto GAP é um movimento mundial de defesa dos Grandes Primatas (Chimpanzés, Gorilas, Orangotangos e Bonobos), fundado em 1994 pelo ilustre filósofo australiano Peter Singer, autor de um clássico ?Animal Liberation?, que marcou história na defesa do Reino Animal em nosso Planeta. Fazem parte do Projeto GAP pessoas de grande renome na comunidade científica, como Jane Goodall, 40 anos estudando chimpanzés na Tanzânia, dama do Império Britânico e ?Mensageira da Paz das Nações Unidas?; Roger e Deborah Fouts, autores do projeto Washoe de comunicação de chimpanzés pela linguagem dos sinais, autores do livro ?Nossos Parentes Mais Próximos?; Marc Bekoff, professor de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade do Colorado e autor do livro ?The Cognitive Animal: Empirical and Theorical Perspectives on Animal Cognition?; Birutes Galdikas, fundadora e Presidente da Fundação Internacional do Orangotango, e muitos outros filósofos, antropólogos, biólogos e acadêmicos de muitas profissões.
O objetivo do Projeto GAP é defender os direitos dos Grandes Primatas em nossa Sociedade Humana, de forma que não possam ser explorados, torturados, comercializados e mantidos em cativeiros isolados sem o menor respeito a sua personalidade. Os Grandes Primatas, em especial os chimpanzés, são muito próximos a nós, têm 99,4% de nosso DNA, têm inteligência, sentimentos e um ancestral comum com o ser humano. Existe uma necessidade de um tratamento diferenciado a eles em nossa sociedade. Acadêmicos brasileiros importantes, encabeçados pelo Prof° Walter Neves, antropólogo de renome nacional e internacional, asseveram isto em um recente trabalho, que aqui anexamos.
Recentemente, no Congresso da Sociedade Nacional de Zoológicos, em Santa Catarina, fomos informados de que algumas pessoas colocaram em debate as posições do Projeto GAP -Brasil frente aos Zoológicos Brasileiros, fazendo-se comentários como o Projeto GAP era inimigo dos zoológicos brasileiros.
O motivo da presente é deixar bem claro que o Projeto GAP não tem animosidade contra os zoológicos em geral, nossa função é defender os Grandes Primatas, não interessando onde eles estão, denunciar e pedir providências a quem lhe corresponda, para quando algum indivíduo dessas espécies estiver em perigo de morte, ou esteja sendo submetido a um tratamento incorreto. Consideramos que os zoológicos, em sua maioria também compartilham desta visão e nós temos provas de que é assim, visto que muitos têm colaborado conosco na defesa da vida e saúde destes seres extraordinários.
O Projeto GAP tem um Santuário de Grandes Primatas no município de Sorocaba, São Paulo, onde estão abrigados até esse momento, 35 chimpanzés, muitos deles em péssimas condições de saúde e que sofreram nas mãos de humanos. Temos vários chimpanzés de zoológicos, assim como de circos e proprietários particulares, que durante anos ficaram em recintos pequenos, isolados, com tratamento incorreto, para o que eles são e precisam. Muitos dirigentes de zoológicos, veterinários, biólogos que nos conhecem sabem que o Santuário tem o fim de dar uma vida decente e um tratamento diferenciado que estes primatas precisam. Os conceitos na humanidade têm mudado muito rapidamente nos últimos anos e hoje é inaceitável, a luz dos conhecimentos existentes, manter chimpanzés e outros grandes primatas em recintos pequenos, sem liberdade de movimento, sendo assediados por público despreparado, sem que eles tenham sua privacidade preservada.
As normas para chimpanzés e Grandes Primatas na Europa e América do Norte para mantê-los em zoológicos são sumamente exigentes, os recintos acima de 2000 metros quadrados, devem permitir a eles, se quiser, ficar afastados do público e devem ser mantidos em grupos que permitam uma socialização intensa, que é parte importante na vida destes seres. Infelizmente os zoológicos brasileiros não têm os recursos necessários para proporcionar estes cuidados e seguir estas normas. Recentemente recebemos um chimpanzé angolano, que ficou alguns anos em um Safary Park em Portugal, aguardando destino. Perguntamos ao dono do Safary Park, Sr. Francisco Simões de Almeida, que o acompanhou em sua viagem até Sorocaba, por quê ele não o manteve em seu parque. Ele nos respondeu ?as normas que a União Européia determina para ter chimpanzés em zoológicos exigem um investimento que nós não podíamos atender. Recintos de mais de 2000 metros quadrados, com fossos de água de 8 metros de largura e 4 metros de profundidade, uma série de enriquecimentos e brinquedos, recintos internos de grande segurança e espaço?.
Nós não temos nada contra que os zoológicos tenham Grandes Primatas, se normas como estas são obedecidas. Por que? Estas normas garantem a saúde mental do chimpanzé, já que ele não precisa estar exposto ao público quando não o desejar e pode interagir com os seus semelhantes dentro de uma liberdade controlada. Se os zoológicos brasileiros não podem dar este tipo de habitat aos chimpanzés, é melhor desistir de mantê-los e convertê-los em breve tempo em seres doentes, agressivos, que serão muito difíceis de serem recuperados, que em hipótese alguma poderão servir para a educação ambiental dos visitantes desses zoológicos.
Nós desejamos manter um diálogo aberto e franco com todos os zoológicos brasileiros que o desejam. Convidamos desde já a visitar-nos e ver o nosso trabalho. Vários dirigentes de zoológicos e seus veterinários e biólogos que já nos visitaram no passado, constataram o motivo de nossa existência e como os chimpanzés no Santuário podem ser recuperados das doenças comportamentais que exibem.
O nosso objetivo são os Grandes Primatas, as vaidades humanas temos deixado de lado faz muito tempo, esperamos que os dirigentes dos zoológicos saibam encontrar em nós, não um inimigo e sim um parceiro e colaborador, que juntos possamos lutar em prol do respeito ao Reino Animal.
Atenciosamente,
Dr. Pedro Alejandro Ynterian
Coordenador Nacional
Projeto GAP – Brasil