SANTUÁRIO SAVE THE CHIMPS
Carrie nasceu na África 46 anos atrás. Capturada ainda bebê e enviada aos Estados Unidos, foi vendida em 1963 ao Instituto de Estudos de Primatas, onde se experimentavam a capacidade cognitiva e a linguagem dos primatas. Em 1985 Carrie foi vendida ao Laboratório LEMSIP (de experimentação médica e cirúrgica). LEMSIP era catalogado como o primeiro laboratório "todo interno", onde os chimpanzés ficavam em gaiolas sem nunca ver o sol, suspendidas a 1 metro do chão, para que seus dejetos caíssem e não fosse necessário limpá-las. Durante o tempo em que lá ficou, Carrie foi usada nos programas de hepatites e rinovirus, e sofreu incontáveis biópsias do fígado e coletas de sangue. Carrie também foi usada como reprodutora, teve pelo menos oito bebês e nunca conseguiu criá-los, todos foram retirados a poucos dias do nascimento.
Quando LEMSIP fechou em 1996, Carrie foi vendida à Fundação Coulston, um laboratório biomédico com o pior histórico de maus tratos à primatas e violações da Lei de Proteção Animal. Durante sua estadia em Coulston, começou a receber medicação para o coração, o qual estava enfraquecido. Em 2002 o Santuário Save The Chimps comprou as instalações da Fundação Coulston que estava quebrada, e junto vieram 266 chimpanzés que Fred Coulston mantinha no local. Afortunadamente, Carrie nunca mais sería vendida.
Com a compra do Laboratório Coulston, o Santuário Save The Chimps se converteu no Santuário de chimpanzés maior do mundo, e a vida de Carrie imediatamente mudou para melhor. Ela começou a receber refeições com frutas e legumes frescos, cobertor, atividades de enriquecimento, e foi capaz de conviver e socializar-se com seus iguais, porém, mais importante que isso, ela recebeu amor, compaixão e respeito pela primeira vez em sua vida.
Em 2005 Carrie formou parte do primeiro grupo de chimpanzés que foi relocalizado do Novo México para o Santuário na Flórida. Carrie desfrutou a vida com sua família e curtiu a vida ao ar livre pela primeira vez em sua história, desde quando foi capturada em um país africano ignorado. Desafortunadamente, os anos de maus tratos deixaram a saúde dela fragilizada e no ano de 2007 sua saúde começou realmente a declinar. Desde esse momento, a saúde e o apetite de Carrie tinham altos e baixos. Para melhorar a qualidade de vida de Carrie em seus últimos dias, colocamos seu nome em uma das bandejas da geladeira; ela poderia escolher os alimentos que mais desejasse.
Pronto chegou a ser evidente que Carrie não estaria conosco por muito mais tempo. Em um último esforço para prolongar sua vida, os tratadores do Santuário tentaram que ela ficasse dentro das instalações nos dias mais quentes e úmidos do verão floridano, teimosa, ela empreendia seu caminho para o ar livre da grande ilha. Não era surpreendente sua atitude, sua determinação sempre foi única e ela insistia diariamente em ir para fora, não importando quanto úmido ou quente estivesse o tempo. No fim, ela tinha gasto sua vida dentro de quatro paredes, sem ver o sol, e agora não queria abandonar esta sorte. Os tratadores a deixavam a vontade e ao ser consultada eu só consegui responder "se isso é o que ela quer, deixem-na".
Na tarde do dia 27 de junho de 2007, eu percebi que Carrie estava com dificuldades para respirar, e estava na metade do caminho entre o recinto e a ilha, no meio da ponte. Os chimpanzés do grupo dela pararam, no seu caminho ao refeitório para o almoço, e a olhavam com carinho. Peggy, sua melhor amiga, a acompanhou durante alguns minutos e foi a última ao entrar no refeitório. Quanto estava sozinha, nós, seus amigos humanos, fomos ao seu encontro na ilha. Queríamos estar com ela quando a vida se escapava do seu corpo. E suavemente ela se foi.
"A morte de Carrie foi uma das mortes mais pacífica que experimentei, talvez porque já estava preparada, ou talvez porque aquela maravilhosa senhora tinha marcado com sua presença a vida dos humanos e chimpanzés, ou quiçá porque ela morreu em sua amada ilha. Com sua alma e seu espírito, Carrie entregou sua vida, rodeada de todos os que souberam amá-la, com uma expressão incrível de paz em sua face.
Dra. Carole Noon"
NOTA DO PROJETO GAP: Carole Noon é a diretora e idealizadora deste extraordinário Santuário em Fort Pierce, Flórida. Ela já viveu incontáveis dramas e viu muito sofrimento entre seus amados chimpanzés. Como nós, que também convivemos com eles a maior parte dos últimos anos de nossa vida, sabemos apreciar o que significa o desaparecimento de seres como Carrie, que foi trucidada pela maledicência humana, abusada e torturada, porém nunca se entregou, e ainda conseguiu amar membros da espécie humana, que tanto a fizeram sofrer.
Que o exemplo dela nos ensine a respeitar os nossos irmãos chimpanzés, assim como a todos os seres inocentes que integram a Natureza deste Planeta.
Dr. Pedro A. Ynterian