No dia 28 de dezembro passado, recebemos no Santuário um novo “refugiado”, um chimpanzé adulto, de aproximadamente 15 a 17 anos de idade, macho, denominado CACO. A história dele é aquela que se repete com estes Grandes Primatas. Uma família de Curitiba adquiriu Caco quando era bebê, foi criado em casa até os cinco anos de idade como um humano, pensando que ele sempre seria um bebê. Quando perceberam que já não podiam mais controlá-lo, exibi-lo para seus amigos, e usá-lo como um “animal de estimação”, o abandonaram no zoológico local e nunca mais se importaram com ele. Caco já não era mais um chimpanzé, era um humano, brincava com crianças, passeava de carro, ia a Shopping Centers, usava fraldas, roupas, etc. De repente isso mudou, e foi jogado em uma gaiola e ignorado.
Com o tempo foi colocada uma fêmea chimpanzé com ele, e moraram juntos durante alguns anos, porém Caco continuava sendo humano, e não mais um chimpanzé. Em algum momento, como não reproduzia ou se interessava pela fêmea, a mesma foi transferida, e ele ficou isolado. Os distúrbios de comportamento se intensificaram, e então foi transferido para o Zoológico de Sorocaba, porém continuou isolado, já que o zoológico não tinha verba para construir um recinto adequado para ele. Os distúrbios de comportamento se intensificaram ainda mais, Caco começou a mutilar-se, ferindo suas pernas com as próprias unhas, provocando feridas profundas para chamar a atenção e que alguém desse importância a ele. Estas auto-mutilações começaram a tornar-se mais freqüentes, a última na parte interior da perna esquerda, é hoje uma ferida exposta, de cicatrização muito lenta.
O Departamento Técnico do Zoológico de Sorocaba nos procurou para saber se tinhamos interesse e possibilidade de aceitar Caco, para que em um ambiente diferente, em um local com acesso a terra, grama, sol (ele viveu num ambiente com piso de cimento nos últimos seis anos), e visualizando outro grupo de chimpanzé então parasse de mutilar-se. Aceitamos de imediato o desafio e depois de muita burocracia, já que até o Prefeito de Sorocaba teve que autorizar a transferência, finalmente ele veio para o nosso Santuário.
Não será uma tarefa fácil. Existe na bibliografia científica poucos casos de recuperação em casos similares, porém é um desafio que temos que tentar, é a dívida que nós humanos temos com nossos parentes mais próximos, não humanos, aos quais temos feito sofrer tanto. Caco é um primata dócil, muito forte, porém que foi destruído totalmente pela insanidade dos seres humanos. É o exemplo vivo da maldade que os seres humanos podem praticar. Aquela família insana que o tirou do convívio dos pais, aqueles que o venderam à eles e que anos depois o ignoraram, e nunca mais se ocuparam de seu destino, pelo menos devem pagar algum preço pelo que fizeram. É o mesmo caso que hoje acontece com dezenas de Primatas, e outros animais, nas mãos de circos, instituições e pessoas individualistas, as quais pensam que podem dispor dos membros deste universo ao seu bel-prazer, sem importar-se com as consequências.
Caco hoje é livre dentro de sua prisão, não precisa agradar ninguém. Não tem que fazer tarefas bestas como fazem em circos, e pode tentar ser o que era, ou morrer em paz consigo mesmo, sem que um humano insano controle mais seu destino.