Bongo ganha um novo recinto
postado em 21 nov 2007

Bongo está conosco desde junho de 2005. Veio de Portugal, porém nasceu em Angola. Foi tirado de sua mãe a poucos meses do seu nascimento, quando ela foi morta por caçadores para vender sua carne e comercializar o filho. Mario Carmo, um ambientalista angolano, industrial, comprou no mercado de Luanda o Bongo ainda bebê, junto com Chimba, bonobo fêmea, que também tinha sofrido o mesmo destino.


Ambos moraram juntos na casa do Mario durante um tempo, até que este pela situação de instabilidade de Angola, decidiu levar ambos a Portugal, onde também tinha casa. Eles viveram vários anos na casa da família Carmo, até que o organismo ambiental português exigiu a transferência dos primatas para um zoológico ou um Santuário. Chimba era assediada por zoológicos, que ofertaram até altas sumas de euros por ela. Bongo ninguém se interessava. Nesse momento aparecemos e naquela época o IBAMA aceitava os resgates internacionais, o que agora impede, e Mario nos enviou seu querido Bongo para Sorocaba, e Chimba para um zoológico em Frankfurt, a fim de juntá-la a um grupo de outros bonobos.


Bongo é um ser especial. Gosta dos humanos, procura interagir com todos eles, porém de alguns ele não gosta e reage até com violência. Ele ficou períodos com Bruna, porém não se deu bem com ela, que prefere ficar com Tuca e Carioca, com quem mora estavelmente há um longo tempo. Bongo desde o seu recinto e túnel de mais de 50 metros de comprimento, acompanha o dia-a-dia do Santuário, porém achamos que precisava de um novo recinto, e aproximá-lo de outros chimpanzés. Ele nunca se acostumou em áreas com cerca elétrica, tinha medo de entrar nesse tipo de recinto.


Como o novo recinto está do outro lado da estrada interna, onde ainda não temos túneis para comunicação, tivemos que anestesiá-lo para transferência de recinto, o que foi feito no dia 16 de novembro, e também realizamos um “check up” completo de sua saúde, o que nunca tinha sido feito antes. Nessa noite ele dormiu em seu dormitório novo fechado, todo azulejado, com camas novas. No sábado, dia 20 de novembro, eu fui vê-lo cedo. Estava sozinho com ele. Abri a porta para o recinto aberto, que tem três pés de jabuticaba, uma piscina e um brinquedo tipo casa com rampa de acesso. Ele tinha medo, não saia do dormitório. Então entrei na parte aberta e o chamei para fora. Ele colocou a cabeça para fora e me pediu a mão como uma criança pequena, para que eu o levasse por todo o recinto, protegendo-o de potenciais perigos.


Desde o recinto do lado, Martin e Mônica, seus futuros parceiros, o observavam com uma mistura de curiosidade e medo, especialmente Mônica que não o conhecia. Bongo logo se acostumou ao seu novo recinto de mais de 3000 metros quadrados, com refeitório e dormitório de 150 metros quadrados (A Lei de zoológicos só exige 60 metros quadrados de recinto para uma família de 3 chimpanzés, um verdadeiro absurdo). Depois de ficar com ele durante uma hora, o deixei sozinho, ele entrou no túnel de acesso ao recinto de Martin e Mônica e me pediu que abrisse a porta. Eu falei para ele que nos próximos dias faríamos isso. Foi feito na semana seguinte, e passamos Martin e Mônica para um recinto contíguo, a fim de terem contato por uma janela e observar a possibilidade de integração dos três. Atualmente estamos nessa fase de aproximação.


Bongo é um chimpanzé angolano, tem características físicas, especialmente na face, diferente dos outros chimpanzés do leste, centro e oeste da África. Porém ele acima de tudo é um ser quase humano, que nunca aceitou ser vendido como um objeto e deseja ter um lugar nesta vida e em nossa sociedade, que agora mais intensamente vai ter.


Dr. Pedro A. Ynterian
Santuário do GAP, Sorocaba – SP
Notícias do GAP 21.11.2007