Anos atrás, quando ia com o grupo de Guga – cinco chimpanzés – na mata por duas horas para eles brincarem, eu tentava ensiná-los a colaborar no trabalho. Temos um pequeno rio na mata, onde íamos para eles se divertirem. Quando tinha temporais, os galhos invadiam a corrente de água e devíamos desobstruir a correnteza. Eu começava a trabalhar e pedia para eles me ajudarem, porém, a maioria fingia que trabalhava e aproveitava para se esconder ou ir mais longe para brincar. Daquela turma, só Carlos me ajudava mesmo. Mais ou menos o que aconteceria com uma turma de humanos trabalhando, alguns poucos realmente fazendo e a maioria fazendo corpo mole e fazendo hora.
Dias atrás, por descuido de algum tratador, uma porta ficou aberta, e Guga e Emílio, que estavam na área de cerca elétrica, saíram do perímetro da mesma.
Eu comecei a acompanhar ambos para evitar que fizessem confusão com outros habitantes de outros recintos ou mexessem com os leões, que já começavam a ficar alterados.
Como eles estão dentro do perímetro da cerca externa, o problema é convencê-los a entrar em corredores de algum recinto e daí, através dos diversos túneis, devolvê-los ao seu recinto original.
Guga entrou rapidamente num corredor, atraído por Margareth, uma fêmea que ele já não via desde quando era adolescente. Enquanto esperava para eu conseguir pegar Emílio, que é mais desconfiado e difícil de enganar, começou a namorar com Margareth.
Como ficou um bom tempo ali e também estava todo o material de limpeza disponível como água, detergente, mangueiras, baldes, ele se dedicou a algo que ele adora; limpar, imitando os tratadores. Colocava detergente em pó num balde, enchia de água e com o rodo esfregava os azulejos do piso e das paredes. Em meia hora deixou brilhando o corredor!
Porém, ele estava fazendo hora. O que ele queria era entrar no recinto de Margareth, que recentemente estava namorando com Toto, o último chimpanzé recém-chegado do Santuário. Quando conseguimos tirar Toto, que estava com medo de Guga, que é duas vezes maior e corpulento, ele entrou e copulou com ela, mas quando lhe abrimos outras portas para levá-lo ao túnel do seu recinto, ele queria levar a fêmea com ele, que ficava indecisa se ia ou não. Conseguimos fazê-lo desistir de sua empreitada, de aumentar o número de fêmeas com as quais mora – Carol e Samantha – de duas para três e voltou ao seu recinto no fim feliz da vida, pela aventura e experiência que teve nessa manhã inesperada.
Dr. Pedro A. Ynterian
Presidente, Projeto GAP Internacional