As semelhanças vão muito além do DNA
postado em 27 nov 2007


    São várias as características e semelhanças (genéticas, físicas ou comportamentais) registradas e estudadas em pesquisas científicas. Mas não é preciso ir tão longe para que observemos fatos que nos remetem a essas semelhanças.
     Jango, de 19 anos de idade, tempo esse (sobre)vivido em um circo onde foi castrado, lhes arrancaram os dentes, mostra-se muito inteligente. Certa vez, após defecar rotineiramente, percebeu que parte das fezes havia ficado presa em seu traseiro. De imediato, pegou um pedaço de pano que estava próximo e fez sua higiêne, igualmente à que nós fazemos. Além disso, ele gosta de pentear os próprios pêlos ou o do outros, chimpanzés ou humanos. Estava eu a brincar com ele na janela, com minha cabeça raspada e a barba comprida. Jango tomou a escova de pentear em mãos e, após constatar visualmente que não havia cabelo, foi direto à minha barba, penteando-a cuidadosamente.
     Caco, de 21 anos, que chegou com sérios distúrbios psicológicos e escapou de sofrer uma eutanásia no zoológico onde vivia, também prova quanto possui capacidade de raciocínio lógico. Ao levarmos água diretamente na mangueira para ele, Caco se delicia lavando suas mãos, esfregando-as uma na outra e também lavando seu rosto, cuidadosamente. Nega, de 30 anos, também tem o mesmo comportamento. Martin, de 11 anos, além de se limpar, toma o cuidado de utilizar um pano como uma toalha, secando seu rosto e suas mãos após a higiêne.
     A vestimenta de roupas, mesmo que tenha sido um hábito adquirido durante a criação, ainda é evidente em alguns deles. Basta levarmos uma camiseta para Martin que ele a veste assim como nós: utiliza um de seus pés para abrí-la enquanto passa a cabeça pela gola, seguindo pela passagem do braço direito por uma das mangas e posteriormente, com o esquerdo. Mônica, de 8 anos, não veste necessariamente a camiseta como tal, preferindo usá-la como uma bermuda. Faz a mesma coisa com um pedaço de pano, entrelaçando-o ao redor da cintura e desfilando toda contente.
     A própria utilização de ferramentas é vista freqüentemente entre eles. Luke, de 12 anos, certa vez queria ter acesso a um copo com tinta guache que estávamos utilizando como enriquecimento entre eles por meio de pintura. Como esse recipiente foi colocado longe do alcance de seus braços, usou um pedaço de graveto para tentar puxá-lo para próximo de si. O mais curioso é que quando ele notava que nós percebíamos o que ele tentava fazer, disfarçava a atitude largando o graveto e recolhendo seus braços, olhando para algum lugar, como se nada tivesse acontecido.
     Como disse certo autor, “se as pessoas riem dos primatas no zoológico, desconfio que seja justamente porque se sentem desconcertadas com o espelho que lhes é posto à frente”.


Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo
Santuário GAP/Sorocaba
Notícias do GAP 27.11.2007