Em suas mensagens desde a reserva Fongoli, no sudoeste do Senegal, a primatologista Jill Pruetz e sua equipe transmitem a impressão que tem quanto a conservação da área e a sobrevivência daquele grupo de chimpanzés que lá tenta se manter.
Ela transmitiu no dia 04 de março passado: “Nesta época do ano em Fongoli os rebanhos de ovelhas começam a chegar. Isto começou em 2006. No meio da estação seca (de janeiro a maio), os homens da região de Puhlar movem seus rebanhos para o sul. O nordeste do Senegal que é considerado parte do Sahel (região desértica subsariana), tem sido desmatada quase completamente e convertida em pasto. O mesmo pode acontecer aqui se os rebanhos continuam vindo em busca de comida e água.”
Ela continua transmitindo: “O primeiro ano que os rebanhos apareceram não pareciam ser problemáticos demais. Porém a maneira como os homens se estabelecem atemoriza. O jeito deles cortar a vegetação para dar comida e sombra aos animais é radical. Eles cortam árvores inteiras, não só galhos. No primeiro ano parecia que só cortavam Acácia. Estas árvores são as poucas árvores grandes que dão sombreamento e estão protegidas por espinhos, eram todas derrubadas.”
Jill acrescenta: “Uma das razões porque eu decidi fazer nosso trabalho em Fongoli, e não no Parque Nacional Nikolo Kobo, que não está longe, é porque fiquei fascinada como estes chimpanzés convivem em harmonia com os humanos que vivem na região, em uma área onde a maioria da vida animal tem sido extinta. No fim, observo a dinâmica entre humanos e chimpanzés antes de impor uma mentalidade como a que existe nos parques nacionais. Porém a invasão humana coloca em sério perigo a existência da comunidade inteira dos chimpanzés, assim como da população humana, e temos que decidir o que devemos fazer para eliminar este perigo.”
Ela continua: “No ano passado meu gerente do projeto, Stephanie Bogart (que também é meu aluno de PhD em Ecologia e Biologia Evolutiva na Universidade Estadual de Iowa) me alertou que o tema dos rebanhos de ovelhas era ainda mais problemático. Seu número tinha aumentado e foi permitido ficar perto das vilas, assim estavam motivados a usar a área dos chimpanzés. Stephanie e Johnny explicaram suas preocupações, em vários jantares, aos habitantes das vilas de Fongoli e Petit Oubadji. Eles tinham a esperança de convencer os líderes da vila de Djendji, que é a maior perto da área dos chimpanzés, que deveriam estabelecer algum controle no uso da região pelos fazendeiros de ovelhas, mas quando isto era discutido, os rebanhos voltaram para o norte, e o problema só aconteceria este ano novamente.”
Jill acrescenta: “Este ano os rebanhos são maiores e os fazendeiros estão cortando árvores inteiras, assim como construindo áreas sombreadas. Algumas destas árvores são madeira de lei com centenas de anos de vida, uma que eu medi tinha 1 metro de diâmetro. Além disto, a reação dos chimpanzés à presença dos fazendeiros indica que eles tiveram experiências ruins com eles. Em um caso, um grupo de chimpanzés estava feliz se alimentando em uma árvore de Kukua quando um fazendeiro se aproximou. Os chimpanzés desapareceram de imediato. Geralmente, no caso de moradores da vila ou agricultores locais o que eles fazem é ficar quietos até que os humanos passem, ou desviam-se do caminho deles, porém nunca fugir dessa forma.”
Jill Pruetz continua relatando que no passado ela chegou a um acordo com os dirigentes das vilas, no entanto o povo de Fongoli é amável e nunca rechaça visitantes, mas agora o principal líder da vila começou a preocupar-se já que pensa que toda sua área será degradada pela invasão dos rebanhos, e que não terá nada para deixar para seus filhos e netos. Eles têm legalmente a propriedade da área, porém não tem documentos suficientes para provar. Também os guardas florestais existentes não têm nem uniformes e ganham menos de US1000 por ano.
Jill está lançando o projeto de uma Ong “Neighbor Ape” (vizinho primata) que vai ter a função de obter recursos para organizar melhor o grupo de guardas florestais, dar-lhes uniformes para que tenham autoridade, e melhorar seu ganho a fim de que possam se concentrar em seu trabalho de proteção. A Ong também vai estabelecer projeto de capacitação dos habitantes da vila para desenvolver alternativas agropecuárias, que substituam a caça e o desmatamento.
Outro perigo agora começa, uma concessão dada à uma firma franco-italiana que iniciará um projeto de introduzir vida selvagem na área para convertê-la em caça para turistas. A área será cercada, e possivelmente os vários grupos de chimpanzés que moram na região ficarão isolados uns dos outros.
Nós, desde estas terras, torcemos para que Jill Pruetz e seu grupo não desistam, pois é uma luta de todos nós salvar aqueles seres que têm provado ao mundo que os chimpanzés podem adaptar-se – como os humanos – a qualquer geografia, e seu habitat é o mundo.
Dr. Pedro A. Ynterian
Projeto GAP Internacional
Notícias do GAP 23.04.2008