Não foi com surpresa que li a notícia “Zoo de Americana ganha novo filhote”, publicada no começo do mês. O sentimento é de tristeza. Afinal, uma pergunta se repete e ainda carece de resposta: por que reproduzir em cativeiro? Manter seres trancafiados em condições inóspitas é algo “educativo” e com “preocupação ambiental”? Qual a finalidade de se reproduzir cada vez mais, apenas para aumentar o número da espécie em nosso parque, de acordo com as palavras do diretor do Parque? Ou estou muito maluco, ou não há realmente lógica alguma nisso.
Como biólogo, há tempos procuro entender essa “lógica” dos zoológicos. Não consigo chegar a uma conclusão plausível que defenda a manutenção de seres dotados de sentimentos (como nós!) em recintos diminutos e expostos ao assédio desrespeitoso dos visitantes, cuja consequência é a perturbação mental e o sofrimento. Muito se fala no tráfico de pessoas – assunto em alta na novela global – mas ninguém se atenta para esse tipo de “tráfico”.
Explico o motivo. Reproduz-se hoje, a mídia relata, o Parque/Zoológico se destaca. E depois? O que acontece com esses filhotes ou até os ovos de algumas espécies? São “trocados” com outros animais, mantendo-se o ciclo vicioso da reprodução em cativeiro. Filhotes são tirados de suas mães ainda bebês e levados para outro centro de tortura. Trocas (legais ou não) como se fossem meros objetos, coisa que não são. O lema de “preservação da espécie, manutenção dos animais” é perfumaria. Há, de fato, algum programa de reintrodução de sagui-preto-de-mãos-douradas, por exemplo? Não! Quem lucra com tudo isso? Há muita coisa por trás de simples palavras bonitas e ecologicamente corretas.
E, em pleno século XXI, ainda somos seres depravados, que ostentamos o sofrimento de seres inocentes que estão trancafiados em jaulas, sem terem cometido crime algum. Faz-se urgente essa mudança de atitude e pensamento humano. Como sabiamente disse Dr. Camuti, jamais creia que os animais sofrem menos do que os humanos; a dor é a mesma para eles e para nós; talvez pior, pois eles não podem ajudar a si mesmos.
Luiz Fernando Leal Padulla
Biólogo, Professor, Mestre em Ciências, Doutorando em Etologia